A Golondrina no Teatro Ginástico
Está em cartaz no Teatro Sesc Ginástico, até dia 16 de fevereiro, o espetáculo "A Golondrina", com texto do premiado autor barcelonês Guillem Clua, direção de Gabriel Fontes Paiva, produção de Odilon Wagner e os atores Tania Bondezan (que também assina a tradução) e Luciano Andrey no elenco.
O texto é inspirado no ataque terrorista homofóbico que aconteceu no Bar Pulse, em Orlando (EUA), em junho de 2016, mas nele também ecoam as tragédias do Bar Bataclan, em Paris, do calçadão em Nice, Las Ramblas de Barcelona. A obra é uma tentativa de compreender a insensatez do horror, as consequências do ódio. O texto foi vencedor de diversos prêmios pelo mundo, como: Off West End London Theater Award 2017, Queer Theater 2018 (Atenas, Grécia) e Prêmio MAX 2019.
"Nesses meus 50 anos de carreira, esse foi um dos textos mais emocionantes que li em toda a minha vida. A gente se emocionava nas leituras, a gente chorava nos ensaios. E o público sai com essa emoção, porque a gente fala de aceitação, de solidariedade, de entendimento" comenta Odilon Wagner, ator exclusivo da Rede Globo, um dos produtores da peça. "Raras vezes vi em uma peça de teatro que o texto sai do palco e invade a plateia de uma maneira tão potente como essa."
A peça mostra o emocionante encontro de Ramón (Luciano Andrey), sobrevivente de um ataque praticado por homofóbicos em um bar gay, com Amélia (Tania Bondezan), uma severa professora de canto, que também tem sua história ligada a esse trágico evento. Quando os dois personagens se encontram, eles têm dois caminhos a seguir: podem optar pelo ódio ou caminhar juntos. Ambos têm razões para causarem ainda mais danos além do que sofreram ou se reconhecer na dor um do outro para não permitir que o instinto animal vença. Os personagens vão revelando detalhes de suas histórias, que se entrelaçam como num quebra-cabeças.
"A Golondrina" é uma das peças mais comemoradas de Guillem Clua. É uma obra que fala sobre liberdade, diversidade e, sobretudo, aceitação, temas tão caros nos dias atuaiss em todos os lugares do mundo, especialmente aqui no Brasil, o que justifica a montagem.
"A obra me encantou de tal maneira que, enquanto lia o texto pela primeira vez, parecia que aquelas palavras cabiam na minha boca, como se eu tivesse vivido tudo aquilo. Foi amor à primeira vista. Minha personagem Amélia, que, por coincidência, é o nome da minha mãe, é uma mulher severa e sofrida, sobrevivente de uma tragédia. A vida foi mais generosa comigo, mas somos ambas mães que amam e protegem suas crias, que tentam acertar e carregam culpa o tempo todo, o que nos aproxima. Representá-la é um exercício de mergulhar nas minhas emoções", conta Tania Bondezan, que em 2020 completa 40 anos de carreira. "O ataque ao Bar Pulse deixou 49 vítimas do preconceito e da homofobia. Mas aqui no nosso país este tipo de ataque ocorre quase que diariamente e, mais grave ainda, de maneira silenciosa", completa a atriz e tradutora que, por sua atuação, está indicada ao Prêmio Shell-SP 2019 na categoria de Melhor Atriz.
Já o diretor considera Guilemm Clua um dos melhores autores contemporâneos: "Ele me impressionou muito porque tem uma escrita muito eficiente, objetiva e surpreendente; consegue prender a atenção o tempo todo com maestria. Fiquei muito feliz com o convite dos produtores Ronaldo Diaféria, Tania Bodezan e Odilon Wagner para dirigir essa peça maravilhosa. Tania é uma atriz intensa, madura, cheia de talentos e Luciano é um ator extremamente sensível e dedicado", revela Gabriel Fontes Paiva.
O espetáculo trata de temas universais e isto é o que mais fascinou o ator Luciano Andrey: "O texto poderia se passar em qualquer grande cidade do mundo. Os temas que ele trata, sem maniqueísmos, são absolutamente pertinentes ao momento atual. Expõe o ponto de vista completamente distinto de dois personagens sobre determinado fato, mas sem julgamentos. Ambos têm razão em suas questões. Ao invés de assumir a posição de um deles, o autor propõe uma reflexão sobre a nossa capacidade de se colocar no lugar do outro e sermos empáticos, que acredito ser a chave para as mazelas humanas", diz.
Sobre Guillem Clua
Nascido em 1973 em Barcelona, Guillem Clua é dramaturgo, roteirista e diretor teatral, formado em jornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona. Ele também morou em Nova Iorque e na Inglaterra, quando estudou na London Guildhall University com uma bolsa de estudos Erasmus. Clua baseia seu trabalho em suas experiências pessoais para abordar temas atemporais (como a questão da identidade) e contemporâneos (como a Guerra do Iraque). Suas obras têm trajetória internacional, tendo sido traduzidas para o inglês, italiano, alemão e francês. Entre os vários prêmios que o autor recebeu, estão o Butaca 2011, o Time Out 2013 e o Max 2017. Os críticos descreveram seu trabalho como multidisciplinar e eclético, e como tendo uma preocupação especial pela estrutura narrativa e o argumento. Algumas de suas peças são: "A Pele em Chamas", "O Gosto das Cinzas", "A Golondrina", "Marburg", "Invasão", "Assassino", "73 Razões Para Deixar-te", "Morte em Veneza", "No deserto", "Smiley" e "Al Damunt Dels Nostres Cants".
Sobre Gabriel Fontes Paiva
Seus últimos trabalhos como diretor foram “Marte Você Está Aí?”, em 2017, texto de Silvia Gomez, com Selma Egrei, Michelle Ferreira e Jorge Emil no elenco, e em 2015 dirigiu “Uma Espécie de Alasca”, de Harold Pinter, com Yara de Novaes, Mirian Rinaldi e Jorge Emil. Gabriel também é co-fundador do Grupo 3 de Teatro, ao lado de Yara de Novaes e Débora Falabella.
SERVIÇO: A Golondrina / Teatro Sesc Ginástico / Endereço: Av. Graça Aranha, 187, Centro, Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2279-4027 / Temporada: 16 de janeiro a 16 de fevereiro de 2020. Quintas, sextas e sábados, às 19h, e domingos, às 17h. / Ingressos: R$ 30 (inteira), R$15 (meia-entrada) e R$ 7,50 (habilitado Sesc) / Doação de 1kg de alimento garante 50% de desconto em todas as categorias.
Capacidade: 500 lugares / Duração: 90 minutos / Classificação: 14 anos.