África em três tempos na Sapucaí: da segregação à riqueza
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Rio - O público presente à Marquês de Sapucaí no último dia dos desfiles das escolas de samba pôde assistir a três cenários diferentes sobre um mesmo continente. Porto da Pedra, Salgueiro e Beija-Flor trouxeram para a avenida a África da segregação racial, das rainhas guerreiras e de suas riquezas, fechando o Carnaval carioca de 2007.
Apesar da frequência com que o tema africano já foi utilizado, a Beija-Flor resolveu apostar em uma leitura diferente. Com mais de 2 mil componentes negros, a escola pintou a avenida de dourado em carros rebuscados que ilustravam os diversos reinos africanos espalhados pelo mundo.
- Nosso desfile não é para falar de sofrimento do negro, mas para valorizar essa raça. Não tem nada de chibata e cativeiro, mas sim as lutas e as vitórias que os negros conseguiram através do tempo em todo o mundo, disse à Reuters o presidente da escola de Nilópolis, Farid Abraão.
- Mostramos a África como um jarro que se partiu e espalhou cacos pelo mundo todo, e esses cacos passaram a ser novos jarros, acrescentou.
A idéia da escola foi mostrar as diversas Áfricas que se formaram pelo mundo, a partir da migração --ainda que forçada-- de seu povo.
A Porto da Pedra, primeira escola a entrar na Sapucaí, ainda na noite de segunda-feira, optou por contar a história do povo da África do Sul contra o regime do Apartheid, e fez sua homenagem --tanto na comissão de frente quanto no principal carro alegórico-- ao ícone da luta contra a segregação racial, o ex-presidente Nelson Mandela.
A aposta do carnavalesco Milton Cunha foi provocar a emoção do público e dos integrantes da escola ao tratar de uma questão social que também é vivida pelas comunidades mais pobres do país.
- Qualquer enredo que fale de negritude, de crítica social, dor, mexe... eles sabem o que estão cantando, afirmou.
Para o presidente da Porto da Pedra, Uberlan de Oliveira, o sofrimento vivido pelo povo sul-africano ensinou a "superar as dificuldades impostas pelo preconceito".
- É uma lição de vida que trazemos para a avenida em um desfile de consciência política, disse Oliveira à Reuters.
O Salgueiro resolveu trazer para a Sapucaí a dinastia de rainhas guerreiras Candance, o que acabou se transformando em uma referência sobre a força da mulher negra.
A escola, que foi muito aplaudida pelo público, também trouxe um desfile muito rico em detalhes tanto nas alegorias quanto nos adereços.
O marrom, o laranja e o dourado reinaram. O carro abre-alas trazia uma árvore gigante de onde saía uma feiticeira.
Apesar das três escolas terem optado pelo mesmo tema, o diretor de Carnaval do Salgueiro, Ricardo Fernandes, afirmou que o continente foi explorado de formas diferentes.
- São três Áfricas completamente distintas, cada um abordou de um jeito", disse Fernandes, que deixou a Sapucaí feliz com a apresentação.
- Acho que a escola chegou muito bem aqui... quarta-feira é que eu vou saber se ela foi muito bem mesmo ou não.