CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Fragmentos bíblicos e outros tesouros milenares são descobertos em caverna em Israel

Escavações arriscadas em caverna do deserto da Judeia conduziram a descoberta rara de mais de duas dúzias de fragmentos de texto bíblico de mais de dois mil anos

Por Jornal do Brasil
redacao@jb.com.br

Publicado em 16/03/2021 às 09:53

Alterado em 16/03/2021 às 09:53

Arqueólogo mostra moeda com símbolo judaico da era de Simão Barcoquebas Foto: Yoli Schwartz / Autoridade de Antiguidades de Israel

Os fragmentos bíblicos descobertos são traduções gregas dos livros de Zacarias e Naum do livro dos Doze Profetas Menores, sendo que apenas o nome de Deus se encontra escrito em hebraico. Estes textos teriam sido feitos por um escriba, segundo o "The Times of Israel".

Fragmentos e palavras milenares
Os fragmentos em causa foram encontrados na chamada Caverna do Terror, em Nahal Hever, cujo nome advém de sua localização geográfica, a cerca de 80 metros abaixo do topo de um penhasco. A caverna é "ladeada por desfiladeiros, e só pode ser alcançada descendo por precário rapel", de acordo com a Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA, na sigla em inglês).

Em conjunto aos "novos" fragmentos de texto bíblico, a equipe de pesquisadores e vários especialistas encontraram também uma cesta de tecido de cerca de 10.500 anos em excelente estado de preservação – agora, oficialmente, a cesta completa mais antiga do mundo – e o esqueleto de uma criança mumificada de seis mil anos.

Israel Hasson, diretor da IAA e quem conduziu as operações relacionadas a tamanha descoberta, afirmou que "os fragmentos dos textos recentemente descobertos são um alerta para o Estado. Recursos deverão ser alocados para concluir esta operação historicamente importante. Devemos assegurar que recuperamos toda a informação encontrada na caverna antes que ladrões façam o mesmo. Algumas coisas não têm preço", disse o diretor citado pela mídia.

A conservação e estudos dos fragmentos dos livros de Zacarias e Naum, com mais de dois mil anos, foram conduzidos pela Unidade dos Fragmentos do mar Morto da IAA, sob o comando de Tanya Bitler, dr. Oren Ableman e Beatriz Riestra. Até agora, já foram decifradas 11 linhas do texto em grego, que parecem apresentar diferenças com os textos massoréticos tradicionais, o que poderá ajudar na pesquisa sobre as mudanças ocorridas em várias versões dos textos bíblicos até aos dias de hoje.

Macaque in the trees
Arqueólogos trabalhando em escavações dentro de cavernas em Israel (Foto: Yoli Schwartz / Autoridade de Antiguidades de Israel)

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Cesta de tecido encontrada intacta, oficialmente a mais antiga do mundo, descoberta em excelente estado de conservação (Foto: Yoli Schwartz / Autoridade de Antiguidades de Israel)

Uma cesta resistente ao tempo
O recipiente com capacidade de 90 a 100 litros de volume foi descoberto por voluntários da academia pré-militar de Nofei Prat. Agora, está sendo estudado pelos doutores Naama Sukenik e Ianir Milevski da IAA. Sua datação em carbono foi realizada pela professora Elisabetta Boaretto, da Unidade de Arqueologia Científica do Instituto de Ciências de Weizmann, em Tel Aviv.

Devido ao clima árido da região, a cesta de tecido acabou por ser preservada por inteiro, mas, infelizmente, ainda não se sabe o que seria carregado ou guardado no seu interior. "Apenas pesquisas da minúscula quantidade de solo dentro da mesma poderá nos ajudar a descobrir para o que era utilizada e o que carregava dentro", disse a IAA, citada pelo "The Israel Times".

O último sono e outros tesouros
Há seis mil anos, os pais de uma criança a teriam envolvido em um lençol para o seu último sono. Hoje, o seu esqueleto está sendo estudado por Ronit Lupu, da IAA, e pela dr. Hila May, da Universidade de Medicina de Tel Aviv, que estimam que os restos mortais em causa tenham pertencido a uma criança entre os seis e 12 anos de idade, conforme uma tomografia computadorizada.

Novamente, as condições áridas na caverna permitiram que seu cadáver fosse preservado, bem como o tecido que o envolvia e outros materiais orgânicos, tais como cabelo, pele e até tendões.

No local também foram encontrados alguns objetos, deixados para trás por rebeldes judeus que teriam fugido para as cavernas do deserto da Judeia durante o final da Revolta de Barcoquebas. Objetos esses tais como moedas cunhadas com símbolos judaicos, pedaços de tecidos, sandálias, entre outros.

O dr. Ofer Sion, diretor do Departamento Pesquisas da IAA, explicou que "os penhascos de 300 a 400 metros de altitude, em conjunto a estas ravinas enigmáticas que ninguém consegue alcançar, eram o último refúgio. E em um período da história humana, famílias fugiam para as cavernas do deserto da Judeia, e realmente não sabemos mais nada", disse o diretor citado pela mídia israelense.

No final, toda esta operação tem como objetivo continuar a procurar por vestígios do passado que ligue todos os cidadãos israelenses, independentemente de sua fé.(com agência Sputnik Brasil)