Simpósio na Academia Nacional de Medicina debate inovações oncológicas
Importantes estudos e iniciativas foram apresentados durante evento
Na última quinta-feira (8), durante sessão científica, a Academia Nacional de Medicina realizou um Simpósio sobre Inovações na Área Médica no Brasil. A coordenação do evento foi do Acadêmico Gilberto Schwartsmann, chefe do Serviço de Oncologia do Hospital de Clínicas e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Inicialmente o coordenador teceu considerações quanto às limitações atuais no desenvolvimento de novos produtos oncológicos, com base em patentes genuinamente brasileiras. Há dificuldades estruturais importantes no país, para que se possa realizar a totalidade das etapas necessárias à criação de novos produtos. Persiste ainda uma cultura resistente ao uso do chamado “capital de risco” em projetos nacionais na área farmacêutica.
De acordo com o exposto, nota-se nos indicadores uma desproporção importante entre produção acadêmica e criação de patentes de origem nacional no campo da saúde, sobretudo quanto a novos medicamentos.
As últimas décadas de produção de medicamentos genéricos por empresas nacionais trouxeram uma capitalização significativa em várias destas empresas, sem que isto tenha sido acompanhado por investimentos em pesquisa e desenvolvimento na mesma proporção.
Isto contrasta com a indústria farmacêutica da Índia, por exemplo, que sofreu processo semelhante, mas foi capaz de canalizar investimentos em inovação na indústria nacional, com claro reflexo em sua maior participação em patentes no setor de nanotecnologia e de saúde.
Para ilustrar algumas iniciativas no Brasil, focadas em inovação na saúde, foram tomados alguns exemplos de projetos desenvolvidos em instituições acadêmicas do Sul do país. A Dra. Daniela Cornelio apresentou um programa de rastreamento para o câncer de colo uterino, que teve como base estudos originais realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estudando a expressão de receptores para o fator de liberação da gastrina em amostras de tecido de colo uterino normal e neoplásico, foi possível desenvolver um teste, que parece promissor na identificação de lesões precursoras desta neoplasia, tão importante no Brasil.
Estes achados levaram a pesquisadora a desenvolver um sistema inovador para a coleta de amostras, o qual será desenvolvido comercialmente pela empresa Ziel, criada pelos pesquisadores da UFRGS.
O Dr. Gustavo Werutsky discutiu projetos desenvolvidos pelo LACOG, um grupo composto por pesquisadores de vários países da América Latina, com ênfase em estudos clínicos com novas drogas anticâncer. O LACOG tem se dedicado também ao estudo de perfis moleculares de valor prognóstico ou preditivo de resposta ao tratamento em pacientes com câncer, em iniciativa liderada por pesquisadores da PUC-RS.
Concluindo o simpósio, o Acadêmico Gilberto Schwartsmann apresentou dados sobre um novo teste desenvolvido por seu grupo no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o qual pode identificar indivíduos com risco aumentado de toxicidade por “5-fluorouracil”, um quimioterápico muito utilizado no tratamento de pacientes com câncer.
Este agente é inativado em sua maior parte (80%) por uma enzima denominada dihidropirimidina desidrogenase (DPD). Pacientes com deficiência severa de DPD podem ter toxicidade fatal após a administração de 5-fluorouracil. Isto ocorre em 0.5 a 3% dos casos.
Vários testes para identificação de indivíduos com deficiência de DPD foram desenvolvidos até o presente, mas nenhum deles teve aceitação entre os oncologistas. Os testes de genotipagem, por exemplo, identificam apenas uma minoria dos casos. O teste desenvolvido em Porto Alegre é realizado em saliva e é de fácil execução. Consiste na coleta de material em algodão e transferência para papel, o que permite o seu envio por correio.
Dados iniciais em pacientes revelam que 86% dos casos de deficiência severa de DPD são detectados pelo método. O teste está patenteado e poderá entrar em uso comercial em pouco tempo.
O Presidente Acadêmico Francisco Sampaio encerrou o simpósio destacando a importância e a competência dos pesquisadores, que têm determinado grande avanço ao tratamento oncológico, a partir de pesquisa e aplicação de descobertas genuinamente brasileiras. Afirmou ainda que esta é a comprovação de que um país só se torna realmente desenvolvido a partir de investimentos substanciais em educação e pesquisa.
"É de se notar que existe um domínio permanente dos países de alta renda na área de patentes, apesar do crescimento dos países emergentes neste ranking, principalmente na Ásia. No caso Brasileiro, o expressivo aumento na produção científica se deu principalmente em publicações e menos em produtos e patentes", destacou Sampaio ao JB.
"A nossa indústria farmacêutica se capitalizou de maneira significativa, mas não investiu em pesquisa e desenvolvimento na mesma proporção. O Simpósio de Inovações em Oncologia vindas do Brasil, realçou iniciativas brasileiras de sucesso neste campo, com produtos novos e patentes", completa Sampaio.