Artes

Por Charles Cosac

CHARLES COSAC

Maria Leontina, uma sutil modernista

A Casa Roberto Marinho celebra seu quinto ano de atividades com três exposições

Publicado em 20/05/2023 às 06:29

Alterado em 20/05/2023 às 13:36

Maria Leontina, Da paisagem e do tempo, 1956 Foto: Jaime Acioli

No andar térreo, Coleção no seu tempo, é um recorte do acervo adicionado a novas aquisições, como obras de Arthur Luiz Piza, Manuel Messias e Emanoel Araújo. Quem assina a exposição é o próprio diretor da instituição, Lauro Cavalcanti.

No segundo andar, duas exposições paralelas: Gesto em suspensão, que expõe a obra da grande artista Maria Leontina Franco; e A criação do artista popular, que reúne quarenta obras da coleção da antropóloga e entusiasta da arte fora dos circuitos tradicionais, Lélia Coelho Frota.

A Casa Roberto Marinho, sob os auspícios de Lauro Cavalcanti, tem oferecido ao público carioca exposições históricas, quase sempre abordando temas modernistas. Isto provavelmente se dá em razão da natureza do próprio acervo original da família Roberto Marinho unida às metas do curador, autor do livro fundante, Quando o Brasil era moderno – Guia de arquitetura, 1928-1960 (Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001).

Dentre estas três exposições, certamente a mais relevante é a da artista Maria Leontina Franco (São Paulo, 1917, Rio de Janeiro, 1974), que desde 2017, à ocasião de seu centenário celebrado na Dan Galeria, de São Paulo, não tinha sido ainda contemplada com uma exposição solo. A curadoria é assinada pelo filho da artista, Alexandre Franco Dacosta, que também é artista e cineasta, realizador do documentário sobre sua mãe, Eu gosto de desenhar. Título sugestivo e preciso para uma pintora que encontrou no desenho a gênese e o ápice de suas quatro décadas de trabalho.

Maria Leontina é irmã de Maria Eugênia Franco, curadora e crítica de arte paulistana e par de Sergio Milliet, ex-diretor da Biblioteca Mario de Andrade, provavelmente o maior benfeitor para as artes visuais no país na primeira metade do século XX. Eventualmente, Maria Eugênia viria a se casar com o escultor austríaco Franz Weissmann, com quem viveu até sua morte, em 1999.

Supõe-se que as atividades de Maria Eugênia tenham facilitado, e mesmo encorajado, a entrada de Maria Leontina no círculo das artes, como artista.

Se, por um lado, Maria Leontina veio a se beneficiar dos conhecimentos de sua irmã, por outro, ela foi categoricamente desfavorecida por ter se casado com um artista de proeminência, e mais valorizado, Milton Dacosta. Ã época, era conhecida pelo epíteto ”a esposa do Milton”, simplesmente. Isso fez de Maria Leontina uma artista quase que “exclusiva”, pois sua condição, mulher, além de esposa de Dacosta, a fadava ao segundo plano.

A obra dos dois artistas segue trajetórias paralelas que convergem na fase neoconstrutivista do casal. Os trabalhos desenvolvidos por ambos na década de 1950 dialogam visualmente, embora os “castelinhos” de Dacosta difiram dos “Jogos e enigmas”, de Leontina. A despeito de ser esta a fase mais valorizada pelos historiadores e pelo mercado de arte, nenhum dos dois foi verdadeiramente concreto.

Esta mostra da Casa Roberto Marinho agora traz o valor da obra desta artista para o cenário da sociedade brasileira contemporânea. Pelo resgate de grandes nomes que foram e são apagados da história a despeito da importância que efetivamente têm na formação de nossa identidade, caminhamos, assim, em direção a uma visão mais realista de nós mesmos.

Maria Leontina e Lélia Coelho Frota eram amigas, mas não há afinidade objetiva entre as duas exposições. Não seria esta uma grande oportunidade de comparar e contrastar a obra do casal Maria Leontina e Milton Dacosta?

Quando teríamos uma segunda chance?

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Maria Leontina – Gesto em suspensão

A criação do artista popular – Coleção Lélia Coelho Frota
Coleção no seu tempo – Coleção Roberto Marinho
Abertura: 28 de abril de 2023
Encerramento: 16 de julho de 2023
Visitação: de terça-feira a domingo, das 12h às 18h (entrada, até às 17h15)
Instituto Casa Roberto Marinho
Rua Cosme Velho, 1.105
Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21)3298-9449

www.casarobertomarinho.org.br

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