Inteligência no campo
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A verticalização da produção tem se mostrado uma alternativa para diferenciação dos produtos no mercado. A grande vantagem é a rastreabilidade de ponta a ponta, desde o produtor até o supermercado, garantindo ao consumidor a origem dos produtos, afirma o presidente da CACB – Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, George Pinheiro.
Há duas tendências na ponta do mercado e precisam ser observadas. A primeira são os atacarejos, que buscam reduzir o valor dos produtos dando a opção de compras em maior volume, e a outra é a busca, pelo consumidor, da qualidade e consequente procedência dos produtos.
A tecnologia é uma forte aliada neste processo, primeiro na gestão e depois na operação. Já conversamos aqui sobre a necessidade que a cidade tem a cada dia mais de alimentos.
Para falar sobre tecnologia conversamos com o líder empresarial Renato Paniago, presidente da Associação Comercial de Campo Grande. Renato tem incentivado de forma ativa a implantação da tecnologia para aumento da produção. “A verticalização da produção tem crescido bastante aqui no Mato Grosso do Sul, tem sido uma forma de melhorar a eficiência na propriedade e buscar um consumidor mais atento à qualidade do produto”, afirma Renato. Destaca ainda que algumas cidades têm experimentado um crescimento importante nos últimos meses, e cita o exemplo de Sidrolândia a 64km da capital, Rio Negro a 154km a norte de Campo Grande e Costa Rica já quase em Minas Gerais. Por conta do agronegócio, o comercio e serviços destas cidades tem crescido bastante, e multinacionais já começam a fincar suas bandeiras na região, visto que há um forte aumento de pedidos de equipamentos.
Considerando a verticalização, onde o gado é criado, a ração é produzida e há armazenagem da mesma, faz-se necessário também a produção de energia e duas alternativas devem ser avaliadas. A primeira é a febre nacional, a energia fotovoltaica, onde são necessários 10.000m2 para produção de 1Mw, e a segunda é a produção de biogás, esta, principalmente no campo, traz uma vantagem extraordinária que é o reaproveitamento dos dejetos animais, além dos da agricultura. Estes dejetos retornam, na ordem de 90% de sua massa, em adubo, potencializando ainda mais a produção e gerando à propriedade uma importante redução de custos com energia. Cabe destacar que a propriedade pode até mesmo tornar-se independente das concessionárias e, se considerarmos a qualidade da energia fornecida no campo, é mais um fator que se soma. Isso tudo coloca o agro no centro da mais atual discussão de nossa sociedade, como tornar viável a economia circular. Considerando esta uma ação necessária não só pela adequação ao processo, mas economicamente lucrativa (TIR entre 15 e 22%), o agro pode auxiliar as cidades recebendo o RSU e transformando em energia. Olha aí o agro novamente assumindo o protagonismo na agenda ambientalmente positiva.
Precisamos pensar agora como será o estágio seguinte, a tecnologia precisa fazer parte do agro não só nas grandes propriedades, mas sim em todas.
A propriedade rural ideal para Renato Paniago é aquela que o produtor enxerga valor na gestão, onde as cobranças são pertinentes e adequadas. A fazenda deve contar com sistemas para controle administrativo, câmeras como extensão dos olhos e cérebro (usando reconhecimento facial, por exemplo, para controlar áreas) do gestor e controle do gado com brincos e aplicação de IoT. Com esta estrutura, o produtor terá, em tempo real, o controle exato de morte e nascimento dos animais, controle do pasto e por pasto. Esta é a forma, segundo Renato, de estruturação para desenvolver as várias atividades necessárias na verticalização.
Uma outra tendência também é a rastreabilidade em Blockchain. Vimos na matéria sobre a China e os megaprojetos que a tecnologia tem sido largamente aplicada no comércio digital, sendo uma ferramenta de extrema importância. É uma tecnologia que cria registros em blocos, viabilizando o rastreamento do envio ao recebimento de alguns tipos de informação. Nos produtos rurais, esta é a forma de se criar confiabilidade no processo. Usei aqui o exemplo da China, que é uma das grandes consumidoras do nosso agronegócio, para levar-nos a pensar o quanto poderia ser lucrativo a um produtor gerar a confiança de que aquele produto disponível à venda em um mercado da Rua Wangfujing, em Pequim, realmente é originário de sua propriedade.
Este acelerado e pujante crescimento do agronegócio, aliado ao modelo de vida que vivemos, agora mais despojado e flexível às adequações, faz do campo uma possibilidade para muitos. O ciclo de transferência de trabalhadores com especialização da cidade para o campo também se faz importante neste momento do agronegócio. A necessidade de mão de obra qualificada é um dos requerimentos que a tecnologia traz. O agro paga cada vez mais, acima da média brasileira, para atrair esta mão de obra, e isso volta em economia e qualidade da produção.
Considerando a afirmação acima, a reurbanização das cidades não é uma necessidade nas grandes metrópoles, mas sim para todo o Brasil. Percebendo esta tendência migratória que esvazia os grandes centros e move as famílias para cidades menores no entorno, aliada às oportunidades de trabalho no campo, é criada uma melhor distribuição da população no território. Cidades antes com poucos recursos terão a possibilidade de se estruturarem e prestarem melhores serviços localmente, e para isso haverá necessidade de se revisitar o planejamento e o plano diretor destes municípios.
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