Cidades Inteligentes

Por Ricardo Salles

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CIDADES INTELIGENTES

A logística e a mobilidade urbana com Diesel a R$7,00/l

Ainda usamos o diesel no transporte público em motores que desperdiçam 60% da energia, contra os moderníssimos trens elétricos de levitação magnética

Publicado em 21/06/2022 às 12:53

Alterado em 21/06/2022 às 19:35

Ricardo Salles .

Os trens de levitação magnética já são realidade em países como China e Japão, nós temos a tecnologia e a patente que atende até a moderníssima proposta de Elon Musk. Este tema está sendo bastante discutido, inovações e modelagens disruptivas estão sendo testadas, uma destas é da empresa de Elon Musk, a Hyperloop TT. Este modelo tem grande vantagem quando pode fazer uso da velocidade de até 1.200 km/h das cápsulas, mais rápido do que o jato executivo mais rápido, o Gulstream G650, quase ultrapassando a velocidade do som. 

 

 

 

Macaque in the trees
O Gulfstream G650 pode alcançar a velocidade máxima de 1.142 km/h (Foto: Gulfstream)

 

No dia 7 de junho, o CEO da empresa, Andrés De León, afirmou que "a segurança dos passageiros é a parte mais importante de qualquer sistema de transporte. Colocamos esse princípio no centro de nosso projeto, utilizando as melhores práticas de indústrias ferroviárias, de aviação e outras indústrias análogas e empregando a expertise dos principais profissionais nessas áreas. A conclusão desta última análise de segurança feita em parceria com os especialistas da Thornton Tomasetti nos permite passar para as próximas etapas em nossos sistemas de passageiros e cargas".

Os trens de levitação magnética podem aliviar as ruas e estradas. A tecnologia nacional foca este modal em médias distâncias (o que atenderia Rio-São Paulo), mas a grande vantagem está em transporte de passageiros dentro das cidades, onde o nível de ruído e a poluição são fatores de alta relevância. Por se tratar de um veículo leve, tem o custo de infraestrutura bastante reduzido, e por não ter rodas (sem atrito), tem baixo custo de operação e manutenção, é muito silencioso e sem as vibrações que os trens convencionais e ônibus urbanos têm. Pode complementar ou até mesmo substituir o BRT - Bus Rapid Transit - com muitas vantagens, e mesmo assim o Governo de São Paulo ainda insiste no BRT-ABC, e no Rio de Janeiro a Prefeitura renova a frota deste sistema que tem a eficiência posta em cheque todos os dias nos noticiários.

A Europa, o Japão e o Canadá querem proibir a venda de veículos com motores a combustão (diesel, gasolina e gás natural, combustíveis fósseis) a partir de 2035, só restarão os elétricos EV - Electric Vehicle, PHEV - Plug-in Hybrid Electric Vehicle e os HEV - Hybrid Electric Vehicle e a variante SOFC – Solid Oxide Fuel Cell (célula de combustível de óxido sólido, a célula de hidrogênio), este último o mais adequados as condições do Brasil (abastecendo com o nosso etanol para geração do hidrogênio dentro do próprio veículo). Então o que leva as grandes metrópoles brasileiras a continuarem pensando nesta forma de transporte de massa? O que motiva a continuar substituindo a frota por ônibus a diesel? Na verdade, a questão é, por que insistir no modal ônibus quando temos a solução ao alcance de nossas mãos?

No Brasil, mais de 70% do volume do transporte de cargas ferroviário é minério, e este é deslocado de um depósito a outro, havendo programação não há motivo para correr, logo a velocidade média é de 25Km/h. Não conseguimos usar as mesmas linhas de transporte de carga e os trens de passageiros em média a 60Km/h, por aqui, também não são a opção indicada para nossas metrópoles. É necessário separar o transporte de carga do transporte de passageiros, mas podemos usar a mesma faixa de domínio e construir o Maglev em uma estrutura suspensa sobre as linhas existentes, até mesmo sobre os malsucedidos projetos do BRT. Não será ocupado o espaço de pista, nem haverá a necessidade de desocupação de áreas e a consequente e dolorosa desapropriação.

A comparação com os metrôs é ainda mais gritante, pois o Maglev pode vencer inclinações que superam os 8%, minimizando a quase nada a necessidade de abertura de túneis. Ainda pode ser instalado na parte superior de alguns dos túneis já existentes, pois os carros são baixos (não tem rodas, só imãs), como no caso do Túnel da Grota Funda, entre a Barra da Tijuca e Mangaratiba, no Rio de Janeiro.

Com foco no Clima e as soluções nacionais podemos voltar a questão da eficiência operacional. A velocidade dos trens de levitação já chega a mais de 600km/h, mas, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, considerando como base a linha de trens existente e a do BRT no percurso, e uma velocidade máxima de 160 km/h, a viagem levaria 3:15h saindo do Terminal Alvorada na Barra da Tijuca e chegando na Estação do Brás em São Paulo. Para os percursos urbanos, chegando aos 120km/h já seria 4 vezes maior que a média dos trens convencionais e 3 vezes maior que a máxima do metrô. Esta ação, além de colaborar efetivamente com a descarbonização, melhoraria significativamente a vida de muitos brasileiros.

 

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Representação das duas linhas viáveis para o Estado do Rio de Janeiro, uma conectando a estação Arariboia à estação Carioca do metrô e outra com percurso maior, indo até Santa Cruz, podendo chegar ao Porto de Itaguaí (Foto: Cidades Inteligentes)

 

Ainda na escola ouvi um professor falar que o lobby dos fabricantes de caminhões incentivou a obsolescência da malha ferroviária no Brasil, construída com muito esforço pelo Visconde de Mauá. Hoje, entendo melhor e como este lobby é feito, ele é sustentado pelo imediatismo dos resultados que precisam aparecer rapidamente, só que não é assim que uma cidade inteligente pode e deve ser desenhada e construída.

Cidades inteligentes se conectam de formas inteligentes.

Nos trens Maglev há ainda vantagem de viajar almoçando ou jantando, o que substitui um tempo importante de nossas vidas, melhor ainda quando podemos realizar uma reunião neste deslocamento. A viagem é sem turbulências, o que propicia uma experiência nova. Considerando ainda que por ser um transporte que chega em um mundo pós-pandemia, este deverá contemplar as medidas de mitigação de contaminações, medidas estas que trazem uma relação de equilíbrio entre a mobilidade e a saúde.

O professor e pós-doutor Eduardo David nos conta que para a desestatização do Metrô de Belo Horizonte a “proposta é fazer uma linha dupla elevada, com trem de levitação magnética, usando a ferrovia para realizar a montagem. Sobre esta linha elevada, em estrutura metálica, vamos instalar módulos fotovoltaicos”. Veja a figura do processo de montagem, cuja patente é brasileira.

 

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Sistema fotovoltaico aproveitando a cobertura das estações do EcoMaglev (Foto: reprodução)

 

O professor Eduardo afirma ainda que “a faixa de domínio ao longo dos 11,6 km varia, mas fica em torno de 25m de largura. Estamos trabalhando para construção de uma verdadeira fazenda solar urbana, gerando energia no local onde será consumida. Em Belo Horizonte serão 250 mil Kwh por dia, energia que dá e ainda sobra para atendermos pequenos consumidores no Estado, pois o Maglev só consome 5% dessa energia. É uma pena que outros governadores e prefeitos não sejam mais empreendedores e ousados, nosso país seria muito mais eficiente e nossas cidades poderiam experimentar a inteligência que tanto precisamos”.

As estações devem incluir as ciclovias, assim podemos ter a integração destes modais, onde bicicletas e patinetes facilitam a chegada até o destino final.

No caso dos aeroportos, podemos dar um novo pulo, principalmente quando pensamos em transporte de cargas de alto valor agregado. Só como exemplo, a produção de pescados e frutos do mar frescos, dentre outros agropecuários, pode ser no Rio de Janeiro, chegar no Galeão em até 30 minutos e então viajar para qualquer lugar do mundo, aumentando assim a competitividade e o consequente aumento do PIB no segmento. Da mesma forma, a produção do Vale do Paraíba pode chegar em até 3 horas e embarcar no Galeão alcançando o mundo, ou ainda, o produto chegar pelo Galeão e ser entregue rapidamente na região.

 

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Comex Stat. Janeiro até maio de 2022 (Foto: reprodução)

 

Vivemos um novo cenário, não podemos mais pensar da mesma forma que antes, o metaverso está substituindo as viagens de negócios, mas a logística precisa se organizar com as cidades-aeroporto, os diversos modais se integrando e tonando a vida melhor. As cidades precisam se reurbanizar, a qualidade de vida que as cidades menores trazem criou um movimento dos centros para o interior, e novas necessidades aparecem, logo novas soluções precisam vir a mesa.

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