A mobilidade e a saúde
Você já se questionou se contraiu aquela determinada gripe no metrô? Se aquele conhecido foi contaminado com tuberculose em uma van? Ou se a ferida em sua pele foi adquirida ao tocar a barra de apoio do ônibus?
Cidades em todo o mundo sendo paralisadas. A necessidade de diminuir drasticamente a circulação em ambientes públicos é uma questão de sobrevivência. As empresas relocando as estações de trabalho para a casa dos colaboradores.
Vemos hoje um Brasil, aspirante a um lugar ao sol no cenário econômico mundial. Um país mais responsável, mas íntegro, mais justo. Onde a competência começa a ser um grande diferencial. Precisamos ter uma visão mais completa do ramo de mercado que atuamos. Saber das leis, buscar boas práticas, e as melhores referências a nível internacional é fundamental e o grande diferencial que um negócio pode ter. Saber que o produto que está sendo entregue é o melhor e mais adequado a fatia do mercado ao qual ele se propõe.
Bom, aqui o tema é a mobilidade e o melhor produto que uma empresa de transporte de passageiros possa oferecer. A pontualidade, o conforto, a segurança e o custo do modal para o passageiro pode ser o que, a primeira vista, é avaliado, porém algo perigoso pode estar escondido e afetar a todos nós.
Não é de hoje que vírus, bactérias e outros poluentes nos afetam. Os ambientes fechados são os maiores disseminadores quando não são construídos e mantidos de forma adequada.
A ABNT, na NBR 15.570-2009, determina que a taxa mínima de renovação do ar no interior do veículo deve ser de 8m3/h por ocupante e recomenda o ideal como sendo de 13m3/h. Trocando em miúdos, um ônibus que comporta 45 passageiros sentados e 50 em pé, deve injetar no interior do veículo 243 litros de ar exterior a cada segundo. Isso corresponde a 243 caixinhas de leite longa vida entrando a cada segundo com ar externo. Hoje o sistema de ar condicionado dos ônibus regula a admissão deste ar exterior em função da temperatura. Se estiver longe da temperatura programada o sistema fecha a entrada de ar externo para favorecer a refrigeração, prejudicando a saúde dos ocupantes, até porque o nível de CO2 começa a subir.
Além disso, o ar captado no ambiente externo e injetado no interior do veículo deve ser filtrado e mesmo o ar de retorno, aquele que volta para o sistema para ser novamente refrigerado, igualmente deve ser filtrado. Esta filtragem não está prevista na norma citada acima. O que deve ser revisto urgentemente.
Outra falha no sistema é que não há uma orientação técnica específica para veículos de transporte e no manual de um determinado fabricante, é recomendada a revisão do sistema a cada 90 dias. Convenhamos que estes veículos rodam intensamente, muitas vezes próximo a 12 horas por dia. Mesmo sem a norma indicar a filtragem do ar, caso existam os filtros, devem ser verificados em período bem menor para garantir a qualidade do ar e que não sejam eles os elementos de colônia de bactérias e fungos.
Vamos pensar que um ônibus, que transporta 95 passageiros (dentro do limite de lotação), a cada viagem leva 95 pessoas que muito provavelmente vão a 95 locais diferentes. A disseminação de uma doença pode ser bem grande!
Precisamos urgentemente de uma inspeção nos veículos de transporte público, sejam eles, trens, metros, VLT (veículo leve sobre trilhos), ônibus, vans ou mesmo taxis e carros de aplicativos. Precisamos garantir a integridade dos cidadãos que todos os dias se locomovem dentro das cidades ou entre cidades. Precisamos adotar, no mínimo, os mesmos procedimentos dos sistemas aplicados em edificações. A medição da qualidade do ar interior destes veículos pode nos trazer muitas surpresas assustadoras.
Vi que chegou um equipamento no aeroporto de Brasília que verifica na aeronave a existência do COVID-19 no ar, antes de autorizar o desembarque. Não podemos esquecer que aeronaves e embarcações também devem cumprir o determinado nas leis no que tangem a garantia da qualidade do ar.
Vamos lembrar que tudo isso não deve ser feito só por conta de COVID-19, e sim por conta de todos os demais patógenos e elementos que promovem alergias. Cabe destacar que H1N1, o sarampo e a tuberculose estão presentes em nossa sociedade e podem ser transmitidos da mesma forma que o COVID-19. Que possamos tomar a lição em meio a este momento e criar uma cultura de manutenção preventiva para não sermos surpreendidos por alguma outra doença no futuro.
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