China e os megaprojetos

Por RICARDO SALLES

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Cerca de 300 cidades chinesas estão na primeira fase de implantação do projeto de cidades inteligentes e outras 700 em planejamento. Um trabalho gigante que deve levar entre 5 e 10 anos e ultrapassar o patamar de RMB 10 trilhões (US$ 1,4 trilhão) em termos de volume de mercado, como informado pelo Cônsul-Geral da China no Rio de Janeiro, Sr. Li Yang. Foi uma conversa muito agradável com ele, diplomata do maior parceiro comercial do Brasil.

Dentre as 3 cidades mais avançadas da China, estão a capital Pequim, Xangai e Shenzhen. Shenzhen, que é a menos populosa das três, tem população equivalente à da cidade de São Paulo, e Pequim, próximo ao dobro.

Os projetos chineses contam com etapas bem definidas. Das tecnologias aplicadas, a comunicação com o 5G é considerada a base de tudo. Sr. Li Yang chega a comparar o 5G com a eletricidade, sem um dos dois não há como se pensar em cidades realmente inteligentes.

O 5G permite tráfego de grandes blocos de informação, como por exemplo vídeos com alta definição, sem a necessidade de infraestrutura de distribuição de cabos de fibra ótica pelas cidades. A vantagem econômica que vai impulsionar o 5G é o retorno que os investidores terão, Sr. Li Yang considera que para cada US$1,00 investido retorne US$6,00.

Na sequência, temos o IoT, ou internet das coisas. Esta tecnologia permite a comunicação entre diversos elementos, desde geladeiras a carros. Além de facilitar a vida dos cidadãos, quando a geladeira te avisa itens que você deve repor, esta mesma informação pode chegar aos supermercados próximos para que eles se planejem para lhe atender. Por outro lado, carros podem passar aos fabricantes todas as informações de modos de condução e de tipos de terrenos, assim fica mais fácil o planejamento quanto às necessidades de mercado e até mesmo mitigando custos com garantias.

O big data é o terceiro elemento. Dados são coletados e devem ser adequadamente armazenados. Big Datas são distribuídos pelas cidades chinesas recebendo dados de várias fontes, tais como: trânsito, clima, produtos vendidos, dentre outros. Aqui podemos ter informações importantíssimas, como bem exemplificou Sr. Li Yang, quando se percebe que medicamentos de gripe começam a ser mais consumidos em uma determinada região da cidade, alertas sanitários podem ser criados.

Todo e qualquer dado é importante, seja da indústria, da sociedade ou do governo, a grande questão é como são tratados. Primeiro devem ser classificados em diferentes categorias, depois processados e analisados. A inteligência artificial é usada no momento da análise destes dados coletados, simulando cenários e apontando os resultados mais prováveis em cada um deles. Aqui começa o retorno do investimento, onde por exemplo pode ser proposto a indústrias, horários alternativos para reduzir o trânsito e consequentemente gerar redução de consumo de combustíveis ou até mesmo redução da frota de ônibus.

Na sequência vem o Blockchain. Este viabilizou por exemplo a criação de moedas digitais, as criptomoedas. É uma tecnologia que cria registros em blocos, viabilizando o rastreamento, do envio ao recebimento de alguns tipos de informações. Nas informações financeiras, funcionando como um livro razão.

A China está pronta a auxiliar cidades brasileiras na construção de seus projetos. Sr. Li Yang destaca que Rio de Janeiro e São Paulo são grandes centros e estão indo bem nesta construção.

Entendo que algumas prioridades devem ser planejadas. A partir do próximo ano começa a implantação de um projeto muito importante na China, o trem que ligará Pequim a Xangai, 1.214Km serão percorridos em 3 horas. Essa distância é equivalente à do Rio a Salvador, ou de São Paulo a Recife. A cada dia, pessoas vão buscar morar mais distante dos grandes centros e a interligação é muito importante.

Vamos focar aqui no eixo Rio-São Paulo destacado pelo Sr. Li Yang. Sabemos que é a única megalópole da América Latina que compete com outras 19 megalópoles no mundo, que somada às demais concentram 35% do PIB mundial e somente 9% da população. A competição acontece, mais do que entre países, entre estas megalópoles, e a inteligência entre as cidades que as compõe é um diferencial muito grande.

A nossa megalópole tem área correspondente a menos de 1% do território brasileiro, com mais de 200 cidades e população estimada pelo IBGE de 42 milhões de habitantes, ou seja, 23% da população brasileira. Estas cidades que compõem a nossa megalópole devem ser inteligentes e mais do que isso, devem estar integradas neste mesmo bloco, formando este cluster.

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