COISAS DA POLÍTICA

Influência de Lula é menor em prefeitura

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Publicado em 20/10/2024 às 07:42

Alterado em 20/10/2024 às 07:51

Deputados e senadores em sessão no Congresso Nacional: cevando seus currais eleitorais com emendas sem rastreio Foto Lula Marques/Agência Brasil

No primeiro turno, compromissos internacionais, agravados pela pane no avião presidencial na decolagem na Cidade do México, que retardou sua volta ao Brasil, mantiveram o presidente Lula um pouco distante das eleições municipais. Assustado com o fraco desempenho do PT e dos partidos aliados da esquerda, enquanto o conservador PSD, de Gilberto Kassab, ganhava musculatura em São Paulo (onde o PT perdeu prefeituras que dominava há anos), assim como os partidos à direita, como PP e PL, ganhavam mais expressão, Lula decidiu se engajar mais na campanha do 2º turno. A uma semana do pleito, o presidente da República vai perceber, mesmo em grandes centros urbanos como São Paulo - ontem, a chuva esperada, que não veio na sexta-feira para gerar novo apagão que impulsionasse reação da população contra o atual prefeito, impediu uma caminhada com o candidato Guilherme Boulos -, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Natal, que a influência do governo federal é baixa nas eleições municipais.

Não que o governo federal não tenha instrumentos para fazer políticas públicas que rendam dividendos eleitorais. A questão é que o empoderamento dos deputados federais e senadores no governo Bolsonaro, quando ele delegou ao Congresso o poder de decisão sobre fatias crescentes do Orçamento Geral da União, reforçou o cacife de lideranças políticas regionais. Lembro muito bem que há pouco mais de duas décadas, no começo deste século, o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) cevava seus currais eleitorais na região serrana do Rio de Janeiro com doações de retroescavadeiras dentro da sua cota de emendas parlamentares. No município onde tenho sítio, São José do Vale do Rio Preto-RJ, uma das fontes de votos de Jefferson, as doações chegaram ao ponto de a prefeitura acumular mais retros que tratoristas. Sendo da mesma marca, as peças de uma serviam para a mais ativa. Com o Orçamento Secreto, o poder da caneta do senador ou deputado federal se multiplicou e já vale mais que a de um ministro e até a BIC do presidente.

Outro fator que talvez Lula e os partidos de esquerda, acostumados a crer que a catequese política se faz em grandes comícios – quando as redes sociais oferecem aliciamento automático e constante – não tenham percebido é a concorrência dos pastores como “influencers eleitorais”. Os evangélicos, mais do que outros brasileiros, deixam de se informar pelas mídias tradicionais (rádio, TV, jornais e sites), e são levados pelos sermões semanais dos pastores. Duas a três vezes por semana, um grupo de fieis se submete à catequese dos pastores que se dizem portadores da palavra de Deus e exigem fidelidade ao dízimo. No interior e periferias, as seitas evangélicas se multiplicam com mais agilidade do que a Igreja católica, ou tradicionais denominações protestantes ou luteranas. O resultado é que os pastores passaram a ter influência política cada vez maior nas eleições. Em troca de apoios – nem todos são espaçosos e ostensivos como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo –, trabalham em silêncio para ter isenção fiscal em negócios da igreja.

Alguns pastores praticamente faliram suas igrejas – a sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, de Valdemiro Santiago, o “pastor do chapéu”, no Brás (região central de São Paulo), teve penhorados microfones, equipamentos de som, instrumentos, telões e outros objetos usados durante os cultos religiosos, para pagar dívidas contraídas pelo pastor. Caso clássico de socialização de prejuízos. Enquanto isso, o pastor troca de chapéus, carros e aviões...

Lula fez esta semana nova aproximação com pastores evangélicos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que busca todos os meios de melhorar a receita para enfrentar gastos, incentivos e renúncias fiscais, sem desequilibrar o orçamento, deve ter sentido um frio na espinha.

Energia: quem sabe faz a hora

Depois de muito suspense, o governo Lula arquivou a volta do horário de verão. A medida foi cancelada por Bolsonaro, em 2019, sob o argumento de que a economia de energia não era expressiva e os transtornos de acordar cedo, com o dia ainda escuro, eram desgastantes para uma importante base de apoio do ex-capitão, como os colegas de farda das Forças Armadas e as forças das PMs e bombeiros, além dos trabalhadores que batem ponto às 7h.

Mas quem entende de energia alerta que a antecipação de uma hora no horário de verão nas regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste é importante para reduzir os riscos do pico de energia que historicamente se dá no país entre as 18 e 19 horas. É o período quando os trabalhos se encerram nos escritórios; o uso dos elevadores consome muita energia e a chegada em casa gera novo pique de consumo com a ligação de chuveiros elétricos, secadores de cabelo, ar-condicionado e “air fryer”, os vilões da casa.

Com o “home office”, caiu a demanda e a diversificação das fontes de energia elétrica (além das usinas hidroelétricas e das termoelétricas movidas a gás natural, criadas na crise que quase gerou racionamento em 2001) trouxe forte expansão na geração de energia solar e eólica, o que diminuiu a participação hegemônica da energia hidroelétrica. Uma gestão equilibrada das fontes de energia pode permitir acumular mais água nos reservatórios das usinas. Para tal, campanhas para orientar o consumo consciente seriam indispensáveis.

Mas veja este paradoxo. Desde 1º de outubro, boa parte do país está sob o regime de bandeira vermelha nível 2, a escala mais alta na tarifa de energia. Não se notou redução do uso de lâmpadas ou ar-condicionado nas comunidades do Rio de Janeiro ou de São Paulo. É que, como há predomínio dos “gatos”, as ligações clandestinas, uma fatia dos consumidores não está nem aí. Ou melhor, é mais uma fatia da sociedade contra o horário de verão.

Em conversa com um amigo, engenheiro elétrico aposentado de Furnas, este me alertou que o uso de fontes diversificadas de energia exige muito mais eficiência do Operador Nacional do Sistema (O.N.S.) para administrar os despachos de carga para atender as oscilações de demandas nos momentos de picos que são críticos para o sistema nacional interligado do país, com despacho de energia da região Norte e do Nordeste para o Sudeste por linhões de transmissão. O ONS dispõe de computadores de última geração para fazer os ajustes no sistema, mas a transferência de um agente importante como a Eletrobrás, que gerava 36% da energia do país, para o setor privado torna mais necessário o entrosamento entre todos os agentes. Um pequeno erro no despacho de carga pode levar a uma derrubada em série do sistema. Com o horário de verão, o risco era mais reduzido. Agora, todo cuidado é pouco.

Como purificar a polícia

Esta semana, os cariocas tiveram conhecimento de dois episódios que dão o que pensar sobre a atuação das forças policiais no Estado do Rio de Janeiro, controladas que são pelo governo estadual; as polícias militar e civil, os corpos de bombeiros e ainda a polícia penitenciária. Para impedir que batalhões da PM e do Bope interferissem numa tentativa de uma facção criminosa de invadir os domínios de outra facção, esta composta majoritariamente por milicianos (ex-policiais e bombeiros) que dominam o território de Rio das Pedras, a maior comunidade vertical do Rio de Janeiro, dezenas de ônibus foram atravessados, e as chaves retiradas pelos agentes do tráfico para tumultuar o tráfego na estrada que liga o Itanhangá a Jacarepaguá. A região viveu um dia de caos.

No dia seguinte, chamou a atenção a execução de um homem, na Zona Oeste, em uma caminhonete Toyota Hilux. Apesar de blindado, o veículo foi alvejado por armamento pesado disparado por assaltantes de moto. A surpresa foi a identidade da vítima: tratava-se de um sargento da PM, que estava afastado das atividades de patrulha, encostado na Diretoria Geral de Pessoal, conhecida como a “geladeira” da corporação.

O salário de um sargento da PM gira em torno de R$ 7 mil. Como ele poderia ter uma Hilux, que custa cerca de R$ 200 mil, fora os custos da blindagem do veículo? Se comprado a prestação, a picape exige 24 parcelas de R$ 3.700, fora a entrada e uma prestação intermediária de R$ 48 mil. A blindagem do veículo, por temor de execução por inimigos e adversários, indica que as relações perigosas que levaram o sargento a ser encostado na “geladeira” da PM deveriam ter determinado a sua expulsão. Isso se as corregedorias da PM e da polícia civil fossem eficientes...

Tenho um amigo, experiente jornalista em coberturas de fatos policiais, que diz simplesmente que a linha de ação das corregedorias para investigar enriquecimento ilícito de policiais deveria começar pela identificação dos donos dos carros estacionados nos pátios dos quartéis e delegacias, ou no seu entorno. Imediatamente vai se perceber o grau de corrupção nas polícias.

Trump avança na reta final

A 15 dias do 5 de novembro, final da votação nas eleições americanas, o ex-presidente Donald Trump, apesar de todas as mentiras e disparates produzidos na reta final da campanha, parece estar ganhando mais tração do que a vice-presidente Kamala Harris, candidata democrata que substituiu o presidente Joe Biden, o candidato inicial à reeleição. O especialista em pesquisas eleitorais Nate Silver tem notado tanto estreitamento nas margens do voto nacional (Harris já chegou a liderar com 3,5% de pontos à frente de Trump, mas agora, sexta-feira, a diferença tinha encolhido para 2,3 pontos) quanto nos estados-pêndulos, nos quais a candidata Democrata superava o Republicano.

Nas eleições americanas, são os votos vencedores de cada estado que definem o vencedor no Colégio Eleitoral, formado por 538 votos, calculados conforme a população (e os eleitores) de cada um dos 50 estados e mais o Distrito de Colúmbia, onde está a capital, Washington. A Califórnia é o maior colégio, com 54 votos, com folgada maioria democrata. O Texas é o 2º colégio (40 votos), de maioria republicana, assim como os 30 votos da Flórida, que se contrapõem aos 28 do democrata estado de Nova Iorque. Os estados da Costa Oeste são democratas, os do meio-oeste, republicanos. Assim, a disputa será decidida por quem levar Pensilvânia, Michigan, Carolina do Norte, Wisconsin, Georgia, Arizona, Nevada, Novo México e Minesota. Os dados são de 18 de outubro.

 


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