Por Coisas da Política

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COISAS DA POLÍTICA

Nós e o trumpismo

Publicado em 03/12/2024 às 10:02

Alterado em 03/12/2024 às 10:02

Cresce a expectativa, mundo afora, em torno do que pode mudar na vida de cada país com a ascensão de Donald Trump ao comando da presidência dos Estados Unidos; em suma, o que efetivamente ele conseguirá fazer, entre as muitas inovações prometidas, algumas delas de complexa execução, como a devolução dos imigrantes ilegais aos seus países de origem. Quanto às repercussões internacionais, certamente o Brasil não é diferente no campo das curiosidades, talvez com um detalhe a mais, se os projetos trampistas levarem a sério alguns assessores, desejosos de ver alinhado, para efeito de conduta do Departamento de Estado, o tripé formado pelo Brasil, Cuba e Venezuela, considerando-se que constituem governos claramente esquerdistas, em vigoroso contraste com o que pensa e deseja o novo presidente. O esforço para alinhar o tratamento adversário talvez não produza todos os efeitos por Washington desejados, porque, melhor avaliadas as diferenças, o Brasil tem maior capacidade para comprar e vender; e, no frigir dos ovos, a balança comercial tem peso especial. Sobretudo, se se considerar que aos venezuelanos e cubanos, os outros dois pés, vêm sendo ministrado o remédio amargo das sanções econômicas.

Claro, tudo ainda navega no vasto mar das hipóteses, porque ninguém sabe exatamente o plano de prioridades do presidente Trump nas relações externas, e sua capacidade de enfrentar resistências nessa área. Nem mesmo as multidões que acabam de consagrá-lo nas urnas podem avaliar, com segurança, como ele haverá de enfrentar o mundo, além de suas fronteiras.

Objetivamente, há um pormenor a sugerir que o papel brasileiro na América Latina seja tratado com alguma prioridade, não por causa de nossos belos olhos, mas, sim, porque temos grandeza e liderança natural para dialogar com os amigos russos, chineses e iranianos nos negócios comerciais e estratégicos neste lado do continente. Porque não é assunto para ser tratado apenas sob o viés de idiossincrasias ideológicas.

Não faltam sinalizações. No Brasil, ainda agora, o capital chinês, sócio privilegiado, acaba de assumir o controle de importantes reservas de nióbio, pouco depois de o presidente Xi Jinping receber, num encontro de estadistas que discutiu desafios climáticos, tratamento com distinções bem superiores ao que se destinou ao americano Joe Biden. Percebeu-se aquele cenário de gentilezas que contrariou as tradições. Mas foi um recado de quem pode ser a ponte de diálogo, superação de conflitos e comedimento nas ações.

Certamente que, para preocupar Washington, questão mais sensível, acima dos cuidados com o Brasil, é a presença do Irã nas forças armadas da Venezuela; porque o desembarque dos aiatolás no Hemisfério Sul é algo que tem tudo para incomodar. O governo brasileiro mantém boas graças com Teerã, e isso tanto pode nos fazer bem, como nos fazer mal. Vai depender os humores de Trump e das competências do governo Lula.

Estranho que tais expectativas, acompanhadas de alguma insegurança nas relações, ainda não tenham mexido com os ânimos do Congresso Nacional para acender o assunto, mesmo se estamos em véspera de importantes mudanças na vida do continente. O Brasil é peça a considerar nos desdobramentos que se seguirão à posse de Trump, por maiores ou menores que sejam eles. Para citar apenas uma das muitas razões com tudo para coçar o interesse parlamentar, num cipoal de tantas dúvidas, figura a possibilidade de o Departamento de Estado deslocar para a Argentina o eixo regional dos grandes negócios e influências, e na condução do diálogo latino-americano, que ainda privilegia o Brasil. Seria perigoso menosprezar o trabalho que o presidente Millei já vem construindo com tal objetivo.

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