Por Coisas da Política

WILSON CID - [email protected]

COISAS DA POLÍTICA

Uma reforma delicada

Publicado em 07/01/2025 às 06:02

Alterado em 07/01/2025 às 11:38

Uma próxima e inevitável reforma ministerial, negada nos pronunciamentos oficiais, mas já plenamente discutida nos círculos políticos influentes, tem tudo para se tornar obra delicada, pois é evidente que, sendo realizada, os propósitos vão além de meras alterações de quadros ou ajustes da máquina administrativa. O que se vai reformar tem, como principal meta, atingir um conjunto de objetivos que comportam interdependência. E é por aí que ela se complique um pouco.

O primeiro alvo, tarefa dos que vão chegar ou ficar, seria dar ao escalão principal do Executivo um perfil de diálogo racional com o Congresso Nacional. Eis o ponto capital. As relações com o poder Legislativo têm custado caro, porque a convivência se faz no escoadouro por onde escapam verbas, presentes e cargos, favores permanentemente sujeitos às conveniências do momento; e nem por isso os dividendos do governo têm se mostrado satisfatórios. Como deputados e senadores já se acostumaram com o modelo, há uma expectativa de que, convidados para o futuro ministério, Rodrigo Pacheco e Artur Lira poderiam contribuir para criar um regime de dieta nas relações, o que talvez seja pedir demais, pois aspiram ambos à governadoria de seus estados, e, nesse passo, contrariar o apetite dos colegas não convém.

Outro enfoque é que vai se organizar uma equipe para dar ao governo anteparos e catapulta no ano que precede a eleição presidencial. Aos novos ministros caberá, como missão primordial, a tarefa de pavimentar o caminho das urnas de 2026, o que vai depender, em primeiro lugar, de como estará a imagem do presidente Lula na hora de correlacionar forças políticas, com o detalhe instigante de que também haverá eleição para governador, o que exigirá alianças, que na presente quadra revelam-se delicadas. Não é dos mais fáceis o equacionamento de interesses em regiões diferentes.

Um detalhe a mais para considerar. Estando o mandato presidencial nos seus últimos meses, torna-se indispensável o balanço sobre a eficiência dos ministérios. Mais corajoso e patriótico seria reduzi-los a um número compatível com as necessidades; que não continuassem se prestando a dar abrigo a apadrinhados, acolher imposições e composições partidárias. O que é sabidamente difícil; todos percebem. Mas, então, passem a ser minimamente eficientes. Ou, pelo menos, que se expliquem. Por exemplo, a razão do recorde histórico de óbitos entre as populações indígenas, exatamente quando temos um ministério para cuidar delas, só delas, mais ninguém. Ou o que esperar do ministério da Pesca?, além das boas intenções em um litoral gigantesco. A máquina central é pesada e onerosa.

(Formar o primeiro escalão, com tão importantes responsabilidades, não é para principiantes, e o presidente, preferindo não tocar no assunto, sabe perfeitamente de detalhes domésticos que complicam. Está nesse caso o ministério das Comunicações, onde tem sido fácil atribuir ao titular, Paulo Pimenta, culpas que não são dele, mas resultado de um conjunto de outros fatores, como os descuidos que Lula pratica com as palavras, além de interferências descabidas na pasta, como as atribuídas à primeira-dama Janja. Se o governo erra, imita certos reis da Antiguidade, e manda matar os que não arranjam desculpas convincentes e melhores versões para discursos errados ou justificar coisas mal feitas...).

Um desafio a mais está em preparar o país para suportar provocações que virão de um mundo que também aguarda dias quentes. Nele nem é possível ignorar que, espalhados por aí afora, estão grandes investidores desconfiados, que começaram a ver o Brasil sob reservas, depois de o dólar trabalhar para a desvalorização recorde da nossa moeda. Além de outros problemas, com os quais teremos de conviver. Muitos. Para não se falar na novidade Donald Trump, que chega dia 20 ao poder em Washington, e das consequências de seu temperamento não teremos como escapar.

Não se sabe qual o destino que a pretendida reforma guarda para o Itamaraty, que passou 2024 alternando ações entre o chanceler e a interferência de um assessor especial do presidente para assuntos diplomáticos, o que nos ajudou a tropeça na aventura venezuelana.

Há, pois, muito a fazer na montagem da nova equipe. Ideal seria o presidente privilegiar os mais altos interesses do país.

Deixe seu comentário