Por Coisas da Política

WILSON CID - [email protected]

COISAS DA POLÍTICA

Vizinhança desafiadora

Publicado em 14/01/2025 às 06:03

Alterado em 14/01/2025 às 17:55

Sem ceder a um excesso de pessimismo, é permitido imaginar que nossos problemas com a vizinha Venezuela estão longe de se dissiparem. Já estarão de bom tamanho se nos próximos meses não se aprofundarem. Bastaria lembrar a recente pantomima antidemocrática da investidura de Nicolás Maduro no terceiro mandato, conseguido à custa de fraude. Pois, numa tentativa de enfrentar o incômodo, mas adotando comportamento estilo mais-ou-menos, limitou-se nossa diplomacia a desviar-se do problema fazendo representar-se na solenidade apenas por uma diplomata de carreira. Esperava-se a presença do amigo fraterno Lula, pois ele e Maduro têm uma história de longos e recíprocos afagos, apesar dos recentes arranhões.

O Brasil tentou mostrar que não reconhece o regime de Caracas, e, por isso, conferiu à posse um tratamento inferior. Deu-se mal. Irritou Maduro pela ofensa, e, ao mesmo tempo, levou desagrado a vários países, que viram na atitude, ainda que protocolar, o reconhecimento explícito da ditadura; sobretudo porque, condenado pelo mundo civilizado, parece claro que o ditador vai endurecer a polícia sobre os 27 milhões de habitantes de um país que soma 7 milhões refugiados, mais que ucranianos fugitivos da guerra. Abonamos um regime despótico pelo que já fez, e, de véspera, pelo que ainda está por fazer.

Alega-se que, em nome de interesses comerciais, precisamos manter uma “porta aberta” com política estatal tão próxima. Mas todos esses interesses naufragam com a maior facilidade, prontos para o sacrifício, se isso eventualmente convier ao vizinho. O presidente Lula tem tudo para saber que ditadura é ditadura. Sem meio termo, sem o emplasto dos adjetivos.

Vejamos como o governo se comportará a partir de agora, diante das evidências de que, para se manter a ferro e fogo, Maduro ampliará a agressão aos direitos humanos, além dos sinais de projetos expansionistas sobre territórios além-fronteiras.

É certo que não teremos mais coragem para estender tapetes vermelhos e receber o “cumpaero” bolivariano. Mas os que já se estenderam foram pecado imperdoável.

Não esquecer a Califórnia

Quando ardem as barbas do vizinho é preciso colocar de molho as nossas, segundo a lição de antigo brocardo. Nada mais oportuno, portanto, quando, na semana passada, ardia em incêndios um dos mais importantes estados americanos, a Califórnia, condenada ao recorde de destruição, que cobriu área equivalente a 10 mil campos de futebol. No Brasil, não é de nossa tradição construir casas de madeira, que facilitariam aqui, como lá facilitaram, a propagação do fogo; mas a causa principal da tragédia vem é da bagunça climática em que estamos - nós também -, algo suficiente para alinhar o mundo inteiro sob risco de tamanho desastre. O clima, desordenado e agredido, facilita.

Estive pesquisando. No ano passado, inspirada na devastação provocada por 140 mil queimadas que sacrificaram o chão da Amazônia e do Cerrado, a Câmara dos Deputados ocupou-se de vários discursos e 83 projetos que pretenderam resolver o problema. Não obstante a boa vontade, todas as proposituras preocuparam-se apenas com a caça aos infratores, esquecendo-se do mais importante: uma permanente política de prevenções, objetivo em que o recém-criado ministério do Meio Ambiente tem fracassado espetacularmente.

Acima de prometer castigo para incendiários descuidados ou criminosos, é encontrar caminhos que poupem e enriqueçam a flora e a fauna. Não podemos nos esquecer da Califórnia.

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