Conter fardados e togados
“Em meu governo, militar não fala em política”, disse ontem o candidato do PT, Ciro Gomes, em sabatina aos jornais O Globo/Valor. Se fosse presidente, acrescentou, demitiria e prenderia o comandante do Exército, general Villas Bôas. Finalmente, um representante do poder civil enfrenta o assanhamento dos militares, em alta desde que o presidente Temer, para compensar sua debilidade e ilegitimidade, resolveu lhes dar corda e protagonismo.
O general permitiu-se dizer que uma candidatura sub judice (a de Lula) não seria admitida e que a facada em Bolsonaro poderia até colocar em dúvida a legitimidade do pleito. Já o vice de Bolsonaro, general da reserva Mourão, além de cultuar o torturador Ulstra, elucubrou sobre a possibilidade de o futuro presidente aplicar-se um auto-golpe para fazer reformas. Seja quem for o presidente eleito, terá que fortalecer as Forças Armadas, parar com a mania de Temer de acioná-las em qualquer aperto, e de mantê-las no cercado da missão constitucional.
As razões da crise que levou o Brasil à degradação que espanta o mundo dão um rosário mas certamente incluem a bagunça institucional gerada pela hipertrofia do poder do Judiciário e de forças auxiliares, como Ministério Público e Polícia Federal. O mesmo Ciro, há alguns dias, causou celeuma ao dizer que, para a normalização da vida nacional, terão todos que “voltar para dentro de suas caixinhas”. Quem quis entendeu: para o círculo das previsões constitucionais, rompidas pelo abuso de poder, mas falou-se logo em ameaça à independência destas instituições.
Saudável movimento rumo às caixinhas fez ontem o Conselho Nacional do Ministério Público, ao decidir pelo exame das motivações de procuradores que apresentaram denúncias, no calor da campanha, contra Alckmin e Haddad. A prisão do ex-governador tucano do Paraná, Beto Richa, pode ser incluída no rol suspeito, pois sendo a investigação de 2011, só agora gera uma prisão preventiva.
O ministro do STF Gilmar Mendes endossou, apontando “notório abuso do poder de litigar” nestas iniciativas coincidentes com a fase crucial da campanha. “É preciso colocar freios”. Mas, como no passado o abuso correu frouxo, os procuradores da Lava Jato estrilaram ontem.
Em 2012, o STF marcou o julgamento da ação penal 470, a do mensalão, para período coincidente com o da campanha. Em 2014, o PT sofreu os efeitos do vazamento cronometrado de delações da Lava Jato sobre a corrupção na Petrobras. Mas é bom sinal que os militares voltem a ser lembrados de que estão sob o poder civil e que haja no Judiciário disposição para “colocar freios”.
Motivos para votar
Na terça-feira, 11, o Instituto Paraná Pesquisas também foi a campo, contratado pela Empiricus, e obteve resultados não muito diferente do Datafolha e do IBOPE: Bolsonaro liderando com 26,6%, seguido de Ciro (11,9%), Marina (10,6), Alckmin (8,7%) e Haddad (8,3%). Diz o PT que seus levantamentos indicam aumento na transferência de votos a partir da indicação oficial de Haddad na terça. As próximas pesquisas dirão.
Diferencial da pesquisa Paraná foi a busca das razões do eleitor para votar num candidato. A maioria dos que votam em Bolsonaro (23,6%) apontou seus projetos contra a criminalidade. Entre eleitores de Ciro, 14,2% disseram que se identificam com o discurso dele, 9,2% apontaram seus projetos na área econômica e 8,8% destacaram o fato de ele ter experiência política. Entre eleitores de Haddad, 38% apontaram o fato de ser apoiado por Lula. Agora, ele precisa se distinguir também pelas propostas. Já 25% dos eleitores de Alckmin destacaram sua experiência administrativa e política.
Toffoli
Depois de empossado hoje na presidência do STF, o ministro Dias Toffoli dará início a um programa de distensão na conturbada relação entre os ministros. Ele pretende ainda melhorar a relação com os outros dois Poderes e fortalecer o CNJ como órgão de controle, numa fase em que o Judiciário acumulou desgaste e desconfiança.