Pisando nos tomates

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A reta final da campanha começa mal para o candidato que até aqui deslizou sempre para cima nas pesquisas, Jair Bolsonaro. Foi grande o estrago produzido por seu vice, general Mourão, ao defender o fim do 13º salário, “esta jabuticaba”. O capitão teve que desautorizar o general pelas redes sociais, como havia feito na semana passada com o economista Paulo Guedes. O clima no QG de campanha é de vaca estranhando bezerro, a alta hospitalar de Bolsonaro foi adiada e os movimentos pluripartidários contra ele continuam crescendo na sociedade. A manhã o #elenão sai das redes para mostrar sua força nas ruas em vários pontos do país.
Uma pesquisa do Instituto Brasilis, que carece ainda de confirmação por outras sondagens (como o Datafolha que vem aí) apontou queda de Bolsonaro e novo crescimento de Fernando Haddad. O mercado tomou conhecimento dela ainda antes da declaração do general e reagiu bem: o dólar caiu e a bolsa subiu, numa indicação de que a possibilidade de eleição do petista começa a ser assimilada.
Segundo essa pesquisa, divulgada pelo site Infomoney, o candidato do PSL, que tinha 30% na série, caiu para 27% em dez dias. E o petista, que tinha 17%, cresceu cinco pontos subindo para 22%. Os dois estariam agora empatados na margem de erro. O segundo pelotão vem um pouco atrás, com Ciro Gomes no terceiro lugar, com 8%. O petista derrotaria Bolsonaro no segundo turno por 44% a 36%. Quando a Bovespa chega aos 80 mil pontos e o dólar é negociado abaixo dos R$ 4 pela primeira vez em algumas semanas, o mercado passa uma clara mensagem de assimilação do quadro que está se desenhando. Começa a dizer que não considera Haddad extremista e que dará um crédito à responsabilidade fiscal que ele demonstrou na Prefeitura de São Paulo.
No QG de Bolsonaro avolumam-se problemas, que vão dos graúdos, como a declaração do general, aos comezinhos, mas desgastantes, como a postagem do filho, com claro sentido de incitação à tortura. Com as declarações de ontem, Mourão pisou duas vezes no tomate. Ao pregar o fim do 13º salário, demonstrou não saber o que isso significa para os milhões de trabalhadores/eleitores, reforçando o discurso do PT, de que a eleição de Bolsonaro significaria o aprofundamento da agenda de Temer, inclusive na área trabalhista. Depois, o general soltou pulgas no mercado financeiro ao falar em renegociação dos juros da dívida pública, sem explicar o que isso pode significar. Trata-se de assunto sensível demais para ser tratado com tanta leviandade. Isso reforçou a percepção, criada pelas declarações de Paulo Guedes na semana passada, de que o pensamento econômico bolsonarista não existe ou é uma babel.
Faltando dez dias para o pleito, Bolsonaro pisa num espinheiro e o tempo começa a se abrir para o petista. Mas a volatilidade é alta e muita coisa pode acontecer. Segundo a pesquisa CNI-Ibope de anteontem, metade dos eleitores admite mudar o voto até o dia da eleição. A rigor, isso poderia até significar uma decisão em primeiro turno, mas, neste momento, as condições para isso não existem. A não ser que se forme, nas horas finais, um arrastão de chegada, a favor de um ou de outro.

Temer encolhe o Brasil
Em sua passagem pela ONU, Michel Temer teve apenas um encontro bilateral. Foi com o presidente da Colômbia, Iván Duque. Trump não o convidou para o jantar que ofereceu a governantes amigos. Para efeito de comparação, o presidente da pequena Cuba, Díaz-Cannell, encontrou-se com 25 chefes de Estado. Ele foi o único a protestar contra a prisão de Lula, que denunciou como política e arbitrária.

Jogos dos erros
O domínio da norma culta da língua não define um governante, mas não se tem cobrado de Bolsonaro, como de Lula, os tropeços na gramática. Proponho aos estudantes de primeiro grau o jogo dos erros: quantos ele cometeu no tuíte em que desautorizou seu vice ontem?: “O 13° salário do trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição.”