Nem tanto
É natural o otimismo da população com presidentes que acabam de ser eleitos, mas não é inédita ou acima do padrão a expectativa positiva da população com a posse de Jair Bolsonaro. Segundo pesquisa CNI-IBOPE, 64% dos entrevistados acreditam que seu governo será ótimo ou bom. Em novembro de 2002, em relação ao recém eleito Lula, este índice era de 71%. Em 2010, após a eleição de Dilma, 62% achavam que o governo dela seria ótimo ou bom. Bolsonaro, portanto, segue o padrão. O risco de frustração está no fato de que, para a maioria, os maiores problemas a serem enfrentados são saúde e emprego. Até agora, não houve promessas animadoras em relação aos dois temas. Em relação à saúde, pelo contrário. Bolsonaro já contribuiu para piorar a situação, com o caso Mais Médicos.
A decomposição dos 64% de aposta positiva em Bolsonaro diz que são 39% os que acreditam num governo ótimo, enquanto 25% esperam que seja bom. Para 18% será regular, para 4%, ruim, e para 10%, péssimo. Apenas 32%, portanto, estão pessimistas, e isso sugere que mesmo os que não votaram nele estão lhe dando um crédito de confiança. Bolsonaro obteve 55% dos votos válidos. Os pessimistas em relação a Lula, em 2002, eram apenas 22% e em relação a Dilma eram 38%. Raro mesmo é um presidente chegar ao final do governo com o índice de aprovação de Lula no final de 2010: 87%.
Para 46% dos entrevistados agora pela pesquisa CNI-IBOPE, a saúde é o maior problema a ser enfrentado. Para 45%, é o desemprego, seguido de corrupção (40%), segurança pública (38%) e educação (32%). As duas primeiras prioridades da população, entretanto, até agora não aparecem como prioridades do futuro governo, e se Bolsonaro não der respostas satisfatórias, começará a queimar capital. Em relação à saúde, por ora ele deu uma contribuição desastrosa, com ataques aos médicos cubanos que resultaram na saída deles do Mais Médicos. O governo Temer ainda não conseguiu substituí-los. Dos que se inscreveram na chamada do Ministério da Saúde, apenas 47% se apresentaram. Não se ouviu do futuro ministro Henrique Mandetta qualquer promessa em relação ao SUS, do qual depende a maioria absoluta da população.
Em relação ao emprego, não há também razões para muita animação. Bolsonaro voltou a atacar direitos como férias e 13º. salário, prometendo nova reforma trabalhista. E quanto ao desemprego, hoje é impossível prever se a política econômica ultraliberal de Paulo Guedes fará a economia crescer de forma mais significativa, e em quanto tempo isso poderá ocorrer. Para 75% dos entrevistados, Bolsonaro e sua equipe estão no caminho certo. Em relação a alguns temas, como a política externa que ameaça o futuro do agronegócio brasileiro, e a questão ambiental, que pode levar o Brasil à lista de países predadores, perdendo o respeito mundial angariado nas últimas décadas, o erro é claro. Se forem aplicados os conceitos proclamados na transmissão digital que ele fez anteontem, é só esperar pelos (maus) resultados. Mas é bom ter esperança. O que seria do ser humano sem ela?
Pedindo ingerência
O senador Lasier Martins entrou com mandado de segurança no STF pedindo que seja garantido o voto aberto no Senado para a eleição do próximo presidente. Seu objetivo é constranger os eleitores do senador Renan Calheiros, que o acusa de atuar a mando de seu concorrente Tasso Jereissati. “É um parlamentar espancando a Constituição, ao pedir a intervenção de outro poder no próprio poder que integra”. O relator será o ministro Marco Aurélio.
Campo livre
Impunidade dá nisso. Como nada aconteceu aos matadores de Marielle Franco, a execução de Marcelo Freixo já estava até marcada para amanhã, segundo a polícia. O deputado Jean Willys, também do PSOL, continua recebendo ameaças de eleitores de Bolsonaro. Ao pedir anteontem ao STF o desarquivamento de sua queixa-crime contra ele, o presidente eleito estimula seus adoradores raivosos.