Até quando, Vélez?
A essa altura, com apenas um mês de governo Bolsonaro, todo mundo já sabe que o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, é um tremendo reacionário. Indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho, que chama de ‘mestre’, o colombiano naturalizado brasileiro em 1997 foi encarregado pelo presidente de realizar um desmonte no MEC. Nas palavras de Vélez, Bolsonaro o encarregou de enfrentar o problema do marxismo no MEC com a faca nos dentes. Seja lá o que for isso, a caça às bruxas já se encontra em plena execução. No fantástico projeto da escola sem partido, sai o pensamento de esquerda e entra a pregação de direita, como nos tempos do macartismo. A missão beira ao ridículo. Mas que o país se prepare para quatro anos de obscurantismo. E de culto à ignorância.
Se a tarefa encomendada a Vélez provoca insegurança e desconforto nos meios acadêmicos, mais espantosa ainda é a ousadia com o que o ministro da Educação ataca os adversários e opina sobre o nosso povo. Em entrevista à revista Veja, o colombiano afirmou que “o brasileiro viajando é um canibal”. E prosseguiu em sua catilinária sobre os que nascem em nosso solo: “(o brasileiro) Rouba coisas dos hotéis, rouba assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola”. Segundo ele, com doses cavalares de educação moral e cívica.
Como se vê, o ministro da Educação tem o brasileiro em alta consideração. O que me leva a perguntar: de tantas nacionalidades, por que o senhor Vélez escolheu exato a dessa gente mal-educada que se comporta como ave de rapina? Também não deixa de ser curioso Vélez pertencer a um governo cujo lema é “o Brasil acima de todos” e que trata a bandeira nacional como propriedade privada. Não bastasse o ataque amplo e irrestrito, Vélez também especializou-se em agredir alvos específicos. Na malvada entrevista, o ministro voltou a criticar a cineasta Carla Camurati, pelo antológico filme ‘Carlota Joaquina’. Em sua visão torta, ele diz que Carla “colocou dom Joãozinho como um reles comedor de frango, sem nenhuma serventia”. Para o ministro, dom João VI foi “um grande estadista, um grande herói”.
Pela admiração e pelo tratamento íntimo, fica claro que Vélez tem simpatia pela monarquia. Mas esse é um problema dele. Inadmissível, porém, é o ministro da Educação desancar uma belíssima obra de ficção (com Marieta Severo e Marcos Nanini em desempenhos memoráveis), responsável pela retomada do cinema brasileiro em meados da década de 90. Vélez ao investir pela segunda vez contra Carla Camurati mostra que não entende nada de cinema, e muito menos do Brasil. Deixe a Camurati em paz, ministro!
Na semana passada, o colombiano também usou sua língua de trapo contra o jornalista Ancelmo Góis, do jornal “O Globo”, e o teólogo Leonardo Boff. Em relação a Ancelmo, o ministro mandou seus assessores distribuírem nota oficial do MEC lembrando que o jornalista, no início dos anos 70, viveu em Moscou com identidade trocada. Dá a entender que o jornalista pertenceu à KGB. Tudo isso porque o colunista informou que vídeos com personagens de esquerda foram extirpados de site administrado pelo MEC. A informação não foi desmentida. Mas Vélez preocupou-se mais em condenar o passado do mensageiro. Monarquista e conservador, o ministro também deve ter saudades da Inquisição. Em outra frente, Vélez, ao rebater críticas ao seu conservadorismo, convidou Leonardo Boff a ir viver na Coréia. O colombiano não tem limites em sua sanha ideológica. Cidadão naturalizado, ele bate com vontade nos brasileiros. Já que o latim está na moda no governo Bolsonaro, fica aqui a pergunta: Até quando Vélez Rodriguez vai abusar de nossa paciência?
Simone e Onyx
Em meio à disputa para indicar o candidato do MDB à presidência do Senado, Simone Tebet chamou a imprensa e denunciou que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzini, estava se movimentando a favor de Renan. Mas agia assim de olho num segundo movimento: seria mais fácil um candidato do governo derrotar o desgastado alagoano do que a combativa Simone. Onyx negou de pés juntos, mas até as pedras sabiam que o ministro já fazia articulações para dar corpo à candidatura do desconhecido Davi Alcolumbre (DEM-AP). Deu certo. O MDB escolheu Renan que não foi páreo para Davi, que contou com o voto da senadora.