Cult, Pop & Rock

Por CAL GOMES

CULT, POP & ROCK

Criaturas da Noite

Publicado em 24/10/2024 às 11:06

Alterado em 24/10/2024 às 11:06

. Foto: Pixabay

A manhã da segunda-feira chuvosa, fria e cinzenta chegou me trazendo a notícia da morte de Paul Di'Anno. Aos 66 anos, o vocalista inglês, que gravou os dois primeiros álbuns da banda de heavy metal Iron Maiden, filho de brasileiro, não suportou os sérios problemas de saúde que enfrentou nos últimos anos motivados por inflamações no pulmão e lesões nos joelhos causadas por quedas de motocicleta.
Antes, na noite de sábado, acompanhei pela internet Ozzy Osbourne – 10 anos mais velho que Di'Anno e que resiste bravamente a problemas físicos causados pelos longos anos de excessos e pelas limitações impostas pela doença de Parkinson – sendo homenageado no Rock and Roll Hall of Fame, evento anual realizado em Cleveland, EUA, que celebra artistas e bandas que fizeram sucesso durante suas carreiras.
Em um dos intervalos da cerimônia, que também consagrou, entre outros, o cantor e guitarrista Peter Frampton, lembrei que havia deixado roupas no varal e fui até o quintal, nos fundos do chalé, para retirá-las enquanto ouvia grilos e sapos conversando, iluminados por dezenas de pirilampos que aparecem por aqui durante as noites de primavera e verão. Antes de retornar para dentro de casa, me assustei com Boris, o morcego que vive no sótão do chalé, ao dar um rasante ao lado de minha cabeça antes de desaparecer entre as árvores e mergulhar na escuridão do sítio.

No final da cerimônia, fiquei pensando no tema para a coluna desta semana. A princípio, decidi escrever sobre Ozzy, inspirado pelo voo noturno de Boris e pela homenagem recebida pelo vocalista, relembrando um pouco a sua carreira, a obra maravilhosa, seus dramas, as polêmicas e, principalmente, sua fantástica contribuição para a história do Rock como um dos seus mais carismáticos personagens. No domingo, porém, após observar a enxurrada de notícias e matérias sobre o inglês que estourou nos anos de 1970 como o mitológico primeiro vocalista do Black Sabbath e se superando, no início da década de 1980, em uma carreira solo redentora e impressionante, desisti, achando que não valeria a pena repetir tantas informações que a mídia estava despejando na internet sobre a vida louca e de estrondoso sucesso do Príncipe das Trevas.

Resolvi, então, também como homenagem ao grande Paul Di'Anno, citar 12 álbuns de heavy metal que ainda mexem com os meus tímpanos, fazem bater minha dolorida cabeça headbanger e o velho e sempre apaixonado coração metaleiro.

1 - Killers - 1981 - Iron Maiden.
Segundo álbum do Iron Maiden e último com a participação de Di'Anno nos vocais, demitido logo depois do lançamento devido a sua má performance nos shows, causada pelo uso indiscriminado de álcool e drogas.

Produzida pelo renomado Martin Birch, a banda começava a se colocar, no início dos anos de 1980, como a principal referência no universo do heavy metal.

 

2 - Piece of Mind - 1983 - Iron Maiden.
O meu preferido da banda. O segundo com o vocalista Bruce Dickinson e o primeiro com o baterista Nicko Mcbrain.

Também produzido por Martin Birch, o Iron apresentou no álbum nítida evolução musical e melhor acabamento nos arranjos, que ficaram mais sofisticados com pitadas de acordes e melodias mais elaboradas a la rock progressivo.

3 - Shock Tactics - 1981 - Samson.
Liderado pelo guitarrista Paul Samson, a banda foi uma das precursoras do famoso movimento New Wave of British Heavy Metal, que no final dos anos de 1970 reacendeu a força do rock pesado que esteve enfraquecido durante os anos dominados pelo punk.

Esse álbum foi o último com Bruce Dickinson nos vocais, que, em seguida, transferiu-se para a banda de Steve Harris. O baterista Clive Burr, também do Maiden, esteve no Samson durante um tempo, mas sem gravar álbuns.

 

4 - Sabotage - 1975 - Black Sabbath.
Lançado em 1975, sei que o sexto álbum do Sabbath não é o mais pesado da banda, mas toda a sua sonoridade e experimentos nos arranjos e nas escolhas de algumas canções, não muito convencionais comparadas ao histórico dos álbuns anteriores, além do vocal assombroso de Ozzy Osbourne, me fizeram incluí-lo nessa lista.

 

5 - Heaven and Hell - 1980 - Black Sabbath.
O primeiro com Ronnie James Dio nos vocais, substituindo magistralmente Ozzy Osbourne.
Produzida por Martin Birch, a banda se reinventou com esse álbum, depois dos fracassos dos dois últimos com Ozzy, “Technical Ecstasy”, de 1976, e “Never Say Die!”, de 1978.

Os que desejam montar uma banda de Rock deveriam ouvir Heaven and Hell todos os dias.

6 - Blizzard of Ozz - 1980 - Ozzy Osbourne
No mesmo ano em que o Black Sabbath lançou seu primeiro álbum sem o vocalista original, Ozzy conseguiu se manter de pé para recomeçar a sua carreira ao lado de grandes músicos liderados por Randy Rhoads, guitarrista americano até então desconhecido e supertalentoso.

Cheio de clássicos instantâneos como Mr. Crowley, I Don't Know e Crazy Train, Ozzy, depois de uma década mergulhado na cocaína, retornou em grande forma, auxiliado pela guitarra mágica de Rhoads.

7 - British Steel - 1980 - Judas Priest
Talvez o álbum de heavy metal que mais ouvi no início dos anos 1980.

Impressionante o vocal de Rob Halford e as guitarras incendiárias de K.K. Downing e Glenn Tipton em todas as oito porradas de British Steel.

Li, recentemente, “Heavy Duty”, autobiografia de K.K. É surpreendente, depois de tantas brigas internas do Judas, principalmente entre os guitarristas, que a banda tenha conseguido se manter funcionando durante tantos anos.

8 - Bomber - 1979 - Motörhead.
Gosto mais de Bomber do que de “Ace of Spades”, o ótimo álbum da banda liderada pelo mitológico vocalista e baixista Lemmy Kilmister, lançado no ano seguinte e que acabou ficando mais famoso que o seu antecessor.

Ganhei de presente, do grande amigo Celso Junior, duas biografias do músico: “Lemmy - A Biografia Definitiva”, escrita pelo grande Mick Wall, jornalista musical especializado em rock, e a autobiografia “Lemmy - A Febre da Linha Branca”.

Li as duas e é impressionante a quantidade de histórias que o músico tinha, produziu e participou enquanto esteve aqui entre nós.


9 - Master of Puppets - 1986 - Metallica
O terceiro álbum da banda americana é o meu preferido e, talvez, da maioria de seus fãs.
Foi o início de uma jornada que ainda não chegou ao fim, mesmo com alguns deslizes e incoerências nas escolhas por alguns caminhos e experiências dos últimos anos.

O Metallica talvez ainda seja a banda de heavy metal mais potente da Via Láctea. Certamente é a mais consumida e adorada.

 

10 - Peace Sells... But Who 's Buying? 1986 - Megadeth
O meu álbum preferido da banda americana liderada pelo vocalista e guitarrista Dave Mustaine estourou no gosto do público de heavy metal na mesmíssima época de “Master Puppets”. Para o grande prazer de Mustaine, que se sentiu vingado e vitorioso após ter se demitido da sua primeira banda de forma repentina. Está tudo bem contado e escrito por ele na sua ótima autobiografia, que li vagarosamente: “Mustaine - Memórias do Heavy Metal”.

11 - Shout at the Devil - 1983 - Mötley Crüe.
O incrível segundo álbum dos americanos de Los Angeles foi lançado em 1983 e estourou nas rádios e em vendas da noite para o dia.

Em uma época em que as principais bandas de heavy metal, e as mais respeitadas, surgiam na Inglaterra, invadindo o mercado americano sem dó nem piedade, foi uma surpresa quando o Mötley Crüe conseguiu enorme sucesso com Shout at the Devil após o fracasso do álbum de estreia “Too Fast for Love”.

Produção impecável de Tom Werman, que trabalhou incansavelmente até conseguir o resultado que transformou a banda na preferida da garotada até meados dos anos 1980.

12 - Holy Diver - 1983 - Dio.
Após o gigantesco sucesso nos dois álbuns em que Ronnie James Dio esteve como vocalista do Black Sabbath, seus fãs jamais imaginariam que a mágica chegaria ao fim, mas chegou.

Após desacertos e desencontros, principalmente com o guitarrista Tony Iommi, Dio, consolidado como nome expressivo no rock por seus trabalhos com o Rainbow, de Ritchie Blackmore, e o próprio Sabbath, resolveu partir para a formação de sua própria banda, com total liberdade para criar e produzir como bem entendesse.

O tempo mostrou que um dos maiores vocalistas da história do rock seguiu o caminho certo: Holy Diver é uma obra-prima do heavy metal. Um dos meus álbuns preferidos de todos os tempos.

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