CULT, POP & ROCK
Carnaval com Zeppelin
Publicado em 27/02/2025 às 06:08
Alterado em 27/02/2025 às 11:19

Quando “The Song Remains the Same”, o primeiro filme sobre o Led Zeppelin, chegou ao Brasil, em 1978, somente dois anos após ser lançado nos EUA e Europa, recebeu por aqui o tosco título "Rock é Rock Mesmo". Vivíamos uma época em que as notícias sobre música internacional surgiam em conta-gotas, em um país quase medieval, ainda rural, sob uma ditadura cambaleante e uma censura já preguiçosa. Eram impressas nas pouquíssimas revistas especializadas ou em notas nas colunas dos jornais em que Ana Maria Bahiana, Big Boy e Nelson Motta, brilhantes e principais jornalistas culturais dos veículos cariocas da época, ofereciam ao consumidor, principalmente de Rock, as novidades que já estavam criando teias de aranha lá fora.
Resultado das captações dos melhores momentos de três concertos no Madison Square Garden, mítica casa de shows de Nova Iorque, no verão americano de 1973, “The Song Remains the Same”, o filme, que também foi lançado como trilha sonora em um álbum duplo, não foi recebido muito bem pela crítica especializada e exigente, mas, claro, com entusiasmo pelos fãs da banda mundo afora. E no Brasil, onde, naquele quase final da década de 1970, o Zeppelin já possuía uma infinidade de admiradores, não foi diferente. Uma prova inconteste dessa legião de seguidores brasileiros fiéis da banda está registrada na história do extinto cinema Ricamar, localizado em Copacabana, onde o filme, com seus 98 minutos, foi exibido, em um curto período, sempre à meia noite. O que se viu naquelas noites cariocas setentistas foram filas enormes formadas por uma plateia de jovens e adultos apaixonados, ansiosos, cheios de expectativas, tagarelando, fumando e assobiando “Black Dog” nas calçadas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
Quase 40 anos depois, mais precisamente neste 27 de fevereiro, está sendo lançado nos cinemas brasileiros “Becoming Led Zeppelin”, no formato IMAX, o tão aguardado documentário oficial da banda, roteirizado e dirigido pela dupla Bernard MacMahon e Allison McGourty, e supervisionado, meticulosamente, pelo sempre cuidadoso e exigente Jimmy Page, mentor do projeto que, depois de anos, finalmente saiu das profundezas das ilhas de edição e emergiu, como se fosse o monstro Ness, do famoso lago escocês em que o guitarrista, durante um tempo, residiu na mansão que pertenceu ao ocultista Aleister Crowley.
“Becoming Led Zeppelin” que, desta vez, espero, não receba em seu título uma tradução desconexa ou sem propósito, como é comum por aqui, apresenta o início da história da banda inglesa, seu sucesso estrondoso assim que completou o seu primeiro ano de estrada. O documentário também exibirá imagens inéditas de shows, turnês, detalhes das gravações dos primeiros álbuns, e depoimentos dos seus membros: o vocalista Robert Plant, o guitarrista Jimmy Page, o baixista John Paul Jones e o falecido baterista John Bonham.
Aproveitando a ocasião, enquanto não confiro o documentário, tirarei os seis dias de carnaval, de sexta-feira até a quarta-feira de cinzas, para rever “The Song Remains the Same”, reler alguns capítulos de “Quando Os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra”, biografia não-oficial da banda, escrita pelo ótimo Mick Wall, e voltar a ouvir os álbuns do Zeppelin de minha preferência, que deixo listados aqui com curtos comentários.
Um ótimo carnaval a todos... com muito Rock and Roll.
- Led Zeppelin I (1969): O álbum de estreia do Led é o meu preferido da banda, o que mais ouço nos fones quando estou caminhando aqui pelo sítio. Talvez o de melhor performance vocal de Robert Plant. Não há uma só faixa que eu ache "mais ou menos". Minhas preferidas são “Dazed and Confused”, “How Many More Times” e “Baby I,m Gonna Leave You”.
- Led Zeppelin II (1969): Lançado logo a seguir, o segundo álbum apresenta uma produção mais caprichada graças à chegada do famoso engenheiro de som e produtor Eddie Kramer para auxiliar Jimmy Page, que sempre esteve à frente de todos os detalhes das gravações dos trabalhos da banda, exceto o último, “In Through the Out Door”, que também ficou sob a batuta do baixista John Paul Jones. Minhas preferidas: “Whole Lotta Love”, “Thank You” e “Heartbreaker”.
- Led Zeppelin III (1970): O álbum em que a banda começou a flertar com a sonoridade folk, explorando arranjos mais acústicos e melodias mais delicadas. Parte da crítica e do público torceu o nariz, eu gosto muito. Preferidas: “Immigrant Song”, “Tangerine” e “Since I've Been Loving You”.
- Led Zeppelin IV (1971): O álbum mais conhecido, emblemático e de maior sucesso comercial do grupo. Graças, também, ao poder gigantesco da clássica “Stairway to Heaven”, que permanece espalhando o perfume e as cores dos anos de 1970 até hoje. Trabalho magistral de Jimmy Page nas guitarras e na produção. Preferidas: “Rock and Roll”, “Stairway to Heaven” e “Going to California”.
- Physical Graffiti (1975): Segundo os críticos, o álbum duplo de estúdio do Led Zeppelin é o melhor e a sua obra-prima. Mais uma vez, a produção de Jimmy Page é irretocável e a parceria com Eddie Kramer como engenheiro de som rendeu uma sonoridade forte, harmoniosa e tecnicamente magistral. Preferidas: “Kashmir”, “In My Time of Dying” e “Ten Years Gone”.
- The Songs Remains the Same (1976): Muitos criticam o único álbum ao vivo da banda. Tenho algumas ressalvas, mas, no geral, acho um bom registro do que era o Zeppelin nos palcos. Produzido por Jimmy Page e, novamente, contando com Eddie Kramer na engenharia de som, é impossível não se emocionar com a performance dos caras nos três shows que resultaram no filme e no disco. Preferidas: “Rain Song”, “No Quarter”, “Stairway to Heaven” e “Dazed and Confused”.