Cartinha para o contrabaixista e compositor Jorge Helder

...

Por AQUILES RIQUE REIS

Aquiles Rique Reis

Caro Jorge,

é um prazer escrever esta cartinha. Sabe o que é, véio, dias atrás estivemos juntos no estúdio da Biscoito Fino, aí no Rio, quando o MPB4 gravou a música “Prosa e Papo”, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, para o novo álbum do nosso mestre Dorivalzinho. E de quebra ainda rolou um coro com Joyce e Zé Renato, num belo samba-exaltação ao Rio de Janeiro, também de Dori e Paulinho. Como produtor do CD, você cuidou com atenção para que, no pouco tempo de que dispúnhamos, eu conseguisse concretizar a minha missão. A gravação iria das 15h às 18h, só que o meu voo de volta pra São Paulo estava marcado para às 19h30, ou seja, eu deveria estar no Santos Dumont às 18h30. O relógio disparou! Mas você alertou: “Aquiles tem que ir embora às 17h30!”. Deu pra ouvir o silêncio da incredulidade no ar. E não é que deu certo! Missão cumprida, o estúdio vibrava em pura afetividade... Eram 17h30 quando você me acompanhou à porta da BF, onde embarquei num Uber pro aeroporto. Feliz da vida, eu sorria.

Mas olha só, eu também fiquei contente quando você me presenteou com Caroá, o seu segundo álbum autoral, lançado pela BF. Me senti importante, sabia? Pois a entrega foi bem na frente de todos que estavam no estúdio, inclusive o técnico de gravação Lucas Ariel (aliás, foi ele que gravou, mixou e masterizou o seu CD, né?) e o assistente de estúdio Pedro Mesquita.
Pra falar do seu CD instrumental, de cara, nomearei os “músicos incríveis”, que é como você se refere aos colegas que tocaram com você nos oito temas de sua autoria: Chico Pinheiro (guitarra), Hélio Alves (Piano e teclado), Tutty Moreno (bateria) e Marcelo Costa (percussão).

Em “Caroá”, que nomeia o álbum, a guitarra arrepia a levada brasileira. A pulsação do baixo, somada a teclado, batera e percussão, atravessa os ouvidos e vai à alma do escutador, e se consagra! Meu Deus, véio, quiéaquilo?

“Santo de Casa” traz vocalises de Sérgio Santos. Ad libtum, baixo e tambor iniciam. O tema segue suingado que só ele. Baixo e teclado acentuam o tempo. A voz dobra o teclado. Sobre uma leve percussão, o teclado improvisa.

Em “Lugar Sem Tempo”, acompanhada do piano, os vocalises são de Mônica Salmaso. O tema lento “engorda” com a entrada do baixo. A voz dobra ora o teclado, ora a guitarra. A mixagem é fera. Jazzista, a guitarra improvisa. Salmaso dobra a voz uma oitava abaixo.

“Impressão Perfume” vem com o sax soprano de Zé Nogueira. Delicado, o piano toca a intro ad libtum, até ritmá-la. A guitarra brilha. A vassourinha varre a caixa. Tendo o baixo a apoiá-lo, o sax tem leve reverber.

Zé Renato faz vocalise em “Miguelim”. A brasilidade vem com a percussão demarcando a nordestinidade do tema (Guimarães agradece). Zé arrasa! Com a cama feita por percussão, batera e baixo, a guitarra sola. E o Zé volta... Caramba, que discaço, véio! Um dos melhores instrumentais que ouvi este ano.

Jorge Helder, abraçando-o eu me despeço, agradecendo o Caroá que me deste.

Aquiles