Eterno independente... até quando?
Hoje trataremos de Perfil, o novo álbum independente de Sidney Mattos. Logo de cara, veio-me a certeza que tenho, desde sempre, sobre este compositor egresso do Movimento Artístico Universitário (MAU), integrado por grandes nomes da música brasileira: Ivan Lins, Gonzaguinha e Aldir Blanc, dentre outros.
Mattos é um craque da composição! E não só: é um batalhador dos bons combates, seja pela música e seus direitos, seja pela defesa da Democracia.
Em 2016, comentei o seu álbum autoral Eu Sou Assim no texto “Independente! Mas dependente de quem o ouça”. Sobre ele escrevi: “Talvez você nunca tenha ouvido falar de Sidney Mattos, leitor. Pior: talvez você nunca venha a escutá-lo – assim é o mercado da música brasileira atual. Essa é a batalha de centenas de bons músicos que tentam chegar aos ouvidos de quem poderia lhes dar a devida consideração”.
Permitam-me um aparte. A minha indignação ao ouvir e escrever sobre cada álbum de Mattos que me chegou à mão nos últimos anos, todos da mais alta qualidade, tem a mesma medida da repulsa a outro fato inequívoco: há um contingente de grandes músicos que segue invisível aos olhos do grande público. Movido muitas vezes por motivos inconfessáveis, o mercado costuma “ignorar” o nome de veteranos e jovens valores, submetendo-os a um gueto perverso. Privando o público de perceber que há, sim, algo novo, e bom, acontecendo na música brasileira, hoje e sempre!
Mattos é um músico atilado. Isso é ouvido com clareza em Perfil, álbum que gravou com o pianista João Carlos Coutinho. Os dois passam ao ouvinte a sensação de estarem convictos da qualidade musical do trabalho que criaram... emociona a dignidade com que se dão à música.
Mas vamos a Perfil: com diversos parceiros, Mattos compôs doze músicas, as quais gravou com rara sensibilidade ao lado de João Coutinho. Cada arranjo leva uma surpresa, seja pelas melodias envoltas em harmonias modernas, seja pelas letras musicadas em gêneros díspares – quer venham embaladas pelo piano ou pela sanfona e pelo teclado de Coutinho. Além da voz e dos efeitos de Mattos, somados aqui e ali à flauta de Fernando Trocado, à voz e ao assovio de Vitor Barros e ao baixo de Flávio Pereira, tudo soa com sabor de bem-vinda atualidade.
Finda a audição, fica a sensação de que os três, mais João Coutinho, compartilharam com Mattos os seus ofícios e, a partir deles, o “eterno” independente Sidney Mattos multiplicou sua música com profundidade e síntese. Admiro Mattos por vê-lo altivo, amor-próprio à flor da pele, junto a músicos que, como ele, buscam denodadamente se fazer ouvir. E vale a pena, viu! Ah, se vale!
Perfil é um trabalho que deveria ser levado às crianças em escolas, que o ouviriam como um recado de como criar, na dificuldade, a oportunidade de reagir e, crendo em si, levantar a cabeça e dizer: eu posso!
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ouça: