DICAS DO AQUILES
Uma experiência sensorial
Publicado em 18/01/2025 às 06:02
Alterado em 18/01/2025 às 12:00
Hoje trataremos de Prosas (independente), o primeiro álbum do Duo Conversa Brasileira, formado pela clarinetista, claronista e arranjadora Vaisy Alencar e o sanfoneiro, pianista e compositor Marcos de Sá. Ouvi-los tocar é submergir num repertório que passeia desde a música de câmera de Osvaldo Lacerda e Villani Côrtes até a música popular de Léa Freire, Carol Panesi, Fábio Leal, Luísa Mitre e Sivuca. São peças e temas brasileiros com arranjos criados a partir da instrumentação plural do duo.
Por falar em arranjo, a formação nada convencional do Conversa Brasileira propicia ao ouvinte o deleite de timbres tão variados quanto singulares, tornando a audição das dez faixas um aprazível experimento sensorial.
“Toada” (Villani Côrtes): o clarinete inicia. O piano vem com ele e juntos interpretam um arranjo clássico do repertório de câmara, gerando já na abertura da tampa a perspectiva de momentos exclusivos.
“Passa Ponte” (Marcos de Sá): o piano abre e o choro come solto. O clarinete sola, tendo o piano a fazer-lhe a cama. Um momento ad libtum precede um improviso do piano. Logo o tema reativa o ritmo e finaliza.
“Salvia IV” (Fábio Leal): a sanfona soa bonito. Com ela o clarinete dá seus toques. Logo a peça vem pontuada por acordes ritmados. Sanfona e clarinete criam um instante de rara musicalidade timbrística.
“Cadenciando a Dois” (Carol Panesi): o som robusto do clarone inicia o arranjo. O acordeom brilha em acordes. Logo a melodia ganha cadência e o duo revela instantes em que os ouvidos se deliciam e têm vontade de aplaudi-los – eles têm tal segurança que se dão a um acorde perfeito ao final.
“Valsa Choro” (Osvaldo Lacerda): o piano abre e traz o clarinete. Juntos, ricos em virtuosismo técnico e em emoção, nos dão o som que criam.
“Turbulenta” (Léa Freire): clarone e acordeom vêm em duo. Espantosos são os resultados da junção dos timbres dos instrumentos. O tema de Léa Freire os conduz a caminhos harmônicos inusuais, trazendo um imprevisto a cada acorde. Um rallentando conduz ao final, mas não sem antes incendiar o ritmo. Meu Deus!
“Sorriso de Criança” (Luísa Mitre): clarinete e sanfona abrem. A peça, brejeira que só, se deixa descobrir alegremente. A sanfona resfolega. O clarinete tem a melodia.
“Vila” (Marcos de Sá): dando-se o prazer de tocar o que lhes vem à alma, o piano oferece a melodia ao clarinete. A segunda parte vem sapeca, o suingue rola, logo uma valsinha se impõe e dá vida ao tema.
“Manhã de Café” (Marcos de Sá): novamente, clarone e acordeom causam sensações de pulsante magnitude sonora. E a brasilidade revela o seu poder de ser linda em sua diversidade.
“Cabaceira Mon Amour” (Sivuca e Glória Gadelha) finaliza o CD com o quinteto Brazú Quintê, que se ajuntou ao duo para tocarem o arranjo de Fábio Leal, diretor musical de Prosas – álbum de estética musical lapidar.
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.