Re-Farm Cria apoia iniciativas pró-Visibilidade Trans no Brasil
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Neste domingo (29), o Brasil inteiro contará com manifestações em torno da Visibilidade Trans, causa que mobiliza a sociedade com muito protagonismo de ativistas frente aos desafios contemporâneos no universo LGBTQIAPNB+. Na praia do Leme, a partir das 10h, acontecerá a Marcha Trans e Travesti do Rio de Janeiro, chamando a atenção para a causa.
Causa que vem ganhando apoio em todas as camadas da sociedade brasileira através de iniciativas capazes de ampliar horizontes e perspectivas no mercado de trabalho para Trans e Travestis. Destaca-se no cenário o Re-Farm Cria, primeiro edital público que a marca Farm lançou, na esfera de 25 anos de história. Desenvolvido em parceria com o Instituto Precisa Ser, 81 projetos de coletivos, pessoas e organizações de povos originários, artistas, mestres da cultura popular tradicional, gestores de cultura, fazedores de arte, a comunidade LGBTQIAPNB+, receberam aporte financeiro. Em comum, o trabalho com moda, criatividade, educação e equidade.
A Casa Nem, fundada pela ativista Indianarae Siqueira, está entre as 81 propostas atendidas no edital. "Dessa destruição toda que representou a pandemia de Covid, a sociedade encontrou novos olhares e perspectivas para sobreviver. O Re-Farm Cria foi um propulsor que fez diferença para a Casa Nem", destaca Indianarae. Autointitulada ativista TransVestiGenere, Indianarae se faz presente e é referência na luta de trans e travestis. As atividades da Casa Nem hoje se multiplicam pela atuação de moda e comunicação no Complexo da Maré, costura em Santa Teresa, sempre convergindo para a condição humana: a vida.
"A Casa Nem foi fundada em 2016. Pessoas em situação de vulnerabilidade social, expostas a preconceito e violência, foram acolhidas. Atualmente, estamos trabalhando para criar a Unidiversidade Casa Nem. Serão campi universitários em várias localidades. Pensar em tudo isso é possível por atuar na sociedade de redes. São essas redes que fazem acontecer tudo. O Re-Farm Cria nos proporcionou avançar dentro desse contexto mais amplo. O lançamento da Unidiversidade Casa Nem será após o Carnaval", conta. A ativista, nascida em Paranaguá, PR, há 51 anos, hoje se notabiliza como expoente em todo o mundo da causa trans e travesti. Ano passado, no Festival Be Yourself, peças criadas pela Casa Nem foram apresentadas no desfile da Daspu, de Gabriela Leite, ex-prostituta e ativista que morreu em 2013.
A produção de roupas e acessórios continua acontecendo. Quem se interessar em encomendar pode entrar em contato com o whatsapp da grife Casa Nem: 55 12 98101-3580 ou pelo Instagram @casanem.
A pernambucana Lohana Carla da Silva que o diga. Aos 35 anos, veio para o Rio criança. Desde os 25 anos trabalha como manicure. Aprendeu num salão em São Gonçalo. Lohana é conectada aos passos de Indianarae. Também contemplada pelo Re-Farm Cria, a liderança do Coletivo Trans da Maré atualmente atende 100 trans e travestis em cursos de capacitação em manicure, corte de cabelo, bijueria e depilação. Também gerencia uma cooperativa de costureiras, atualmente sem prédio para as aulas e a execução do serviço. Houve a doação de um conjunto de salas pelo poder público, mas é pequeno diante da demanda. "Ser trans não é fácil. Recebo muito pedido de ajuda. A favela toda me procura", diz. O patrocínio do Re-Farm Cria possibilitou a formação de algumas alunes ou "meninas" como Lohana se refere às pessoas com idades entre 16 e 50 anos.
Também inserido no Re-Farm Cria, o Coletivo Fudida Silk faz arte e multiplica possibilidades. Instalado no Instituto Municipal Nise da Silveira, antiga Colônia Juliano Moreira, o ateliê é de Kaetérine Terra e Yuki Hayashi, egressas do curso da Escola de Belas Artes da UFRJ. "O Fudida Silk é um coletivo de serigrafias que começou na EBA e foi ganhando independência através de parcerias, feiras, oficinas. Eu e Yuki ficamos no Rio e a Georgia e Gabriele em São Paulo", conta Kaetérine.
Segundo ela, estar inserida no Instituto Municipal Nise da Silveira, que foi um manicômio no século 20, traz leituras e simbolismos. "Há muitas demandas para se pensar em bases de se inventar formas de vida. Aqui no Instituto a ocupação do espaço nos remete a pessoas violentadas pela conduta do tratamento manicomial, tais como trans e travestis", reflete. No Ateliê Fudida Silk é possível fazer oficinas. "Ensinamos práticas serigráficas. O aluno traz a tinta e o material", completa.
Analisando o primeiro Re-Farm Cria, as lideranças das iniciativas, em sua maioria, são compostas por mulheres cisgêneras ou transgêneras, e no recorte racial, 73% das iniciativas são capitaneadas por pessoas negras. Crianças, jovens, adolescentes, pessoas com deficiência, e povos originários também estão entre o público alvo alcançado pelo projeto. O universo LGBTQIAPNB+ também está presente em outras iniciativas no primeiro Re-Farm Cria, como o Viradão Sapatão, no Complexo do Alemão, Tecendo Possibilidades Através da Costura, na Gamboa, no Centro do Rio, voltado a construir novas possibilidades e olhares para o mercado de trabalho da moda e da arte para mulheres trans e travestis, e Emerge MAG, de São Paulo.
Histórico do Mês da Visibilidade Trans
No portal do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) consta que está em andamento a campanha “Construir para Reconstruir” em alusão ao mês da visibilidade trans. Como informa o portal, a secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat, é a porta-voz da campanha que acontece até o dia 30 deste mês. Além de ser inédita no MDHC, é a primeira vez que uma travesti assume cargo no segundo escalão do Governo Federal. Mais a respeito no site.
De acordo com informações do portal, motivado por uma mobilização ocorrida em 2004 na Câmara dos Deputados, mediante a campanha “Travesti e Respeito” – liderada por ativistas da comunidade trans em parceria com o Ministério da Saúde, o mês de janeiro traz à sociedade a importância da visibilidade, representatividade e luta por acesso à saúde, à educação, à geração de emprego e renda e ao enfrentamento ao preconceito e à discriminação.
A bandeira LGBTQIA+ indica que o Brasil é o país que mais mata pessoas que pertencem a esse movimento. Pessoas trans têm uma expectativa de vida de cerca de 35 anos, como indica a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O Disque 100 – canal de atendimento gerido pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos – registra denúncias de violações, incluindo violências sofridas por pessoas LGBTQIA+. O serviço é disponível 24h por dia durante todos os dias da semana.