IESA RODRIGUES
Um grupo preto
Publicado em 19/02/2022 às 10:33
Alterado em 19/02/2022 às 21:52
Como lançar uma marca de vestir? As estratégias variam desde uma participação em eventos ou feiras, até um video caprichado no TikTok. Outra escolha é formar um grupo coerente.
Esta foi a opção de 20 marcas assinadas por designers pretos. As marcas: Bela Aberração, Pormenor, Suzuh Collection, Umahluko, Moda Eiko, Orooman, Gan Brand, Brenoo, Use Chapa, Gondor, Ohlograma, Projeto Recicle, Olha o Corre, Atelier Chilaze, Loja Eneágono, Lifestreet Club, Ohime Galm, Kramuglyboy, Vitoriana Acessórios e Cíclica. Este grupo levou seus trabalhos para o Beco do Rato, na Lapa, convocou a stylist Mari Bruxa e uma diretora de criação, Sylvia Vitoriano, para fazer a campanha de lançamento.
Fala Sylvia, "acredito que a moda seja uma importante ferramenta de comunicação e expressão e dentro das favelas cariocas isso não é diferente. A moda carioca é ditada pelas periferias locais, assim como a música, a dança, a comida, a cultura… Tudo isso é construído dentro das favelas e readaptado no asfalto”.
O elenco das fotos contou com Ana Paula Patrocínio, Fabis Preta, Caio Guimarães, Jonathan Neguebites, Ikaro Santilhana, Marlon Marinho e Bea Lopes.
E daí? Qual pode ser o resultado desta ação? Como entender o conceito das coleções, em looks misturados com marcas consagradas, como a Adidas? A Adidas patrocinou? Se foi isto, bastava uma menção. O fato de ser um time ajuda a destacar as marcas? Um olhar experiente repara nas bolsas, no look verde com cordões dourados, na beleza das modelos, na atitude dos caras.
Há uma evidente vontade de dar um recado, de marcar presença, enfatizando o fato de serem pretos.
Mas vontade não basta. É preciso mostrar o trabalho, sem medo. Que exista um grupo, ótimo. Mas as fotos devem ser exclusivas de cada marca, pelo menos 2 ou 3 looks. O fator comum é a cor dos participantes? Melhor seria justificar como Periféricos (um bom nome), porque diretores de criação pretos já fazem sucesso na moda internacional. Alguns exemplos, o Virgil Abloh, que infelizmente já partiu desta vida, e antes revolucionou a Louis Vuitton. Ou o Xuli Bet, senegalês que atua em Paris, cheio de prêmios de moda.
Pensem nos asiáticos, começando pelo Kenzo, que conquistaram editores e compradores sem apelar para o fato de virem do Oriente. Fizeram a diferença, competindo com os famosos parisienses, pelas suas criações.
Apostem no valor dos seus trabalhos, valorizem o grupo. Mas pensem em impor estilos, não apenas origens.