Fause Haten, artista múltiplo da moda
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Em meio a mensagens de contas a pagar, ofertas das Americanas, da Renner, desfiles internacionais, recebi um texto sobre pinturas têxteis, com fotos lindas, combinando materiais como paetês, sedas, metais. Foi o que bastou para lembrar do autor, Fause Haten, um dos nomes mais importantes da moda brasileira.
Lembrar, porque nestes dois anos de distância de eventos e produções, nem todos os profissionais de moda continuaram trabalhando normalmente.
Novos caminhos
Em uma hora de conversa com Fause, foi uma alegria ver que sim, ele reduziu tudo no trabalho, mas está feliz com o resultado. "Parei antes da queda. Estava difícil aguentar a rotina dos desfiles, de carregar roupas, fazer o casting de modelos, ainda ter que aparecer de cara boa no final". Esta rotina trabalhosa se expandiu para quatro desfiles em Los Angeles e Nova York, de 1999 até 2001. "Cheguei a pensar em ficar lá, aluguei apartamento em Manhattan, de tão importantes foram estes eventos. Mas o último desfile foi na véspera da queda das torres (11 de setembro de 2001). Não quis mais ficar, só queria ir embora, devolvi o apartamento. Depois fui convidado para participar de duas semanas em Milão, voltei em 2004".
A volta foi um mergulho em estudos: canto lírico, dança, teatro. Ainda no tempo dos desfiles na semana de São Paulo, Fause lançou coleções de acessórios, chegou a entregar 1500 bolsas de couro para as multimarcas do país. As clientes reclamavam porque custavam o mesmo das do Marc Jacobs. Mas depois de cinco anos parou de produzir quando começaram as importações. Uma pena, porque nos desfiles ele cantava ao vivo, quase ofuscando os acessórios. A criação de figurinos também ganhou força, vestiu Paulo Gustavo em 220 Volts, personagens de peças como Um bonde chamado Desejo (de Tennessee Williams), La Belle Helene (de Offenbach) e avançou até a autoria de peças como A Feia Lulu ou performances incluindo esculturas no rosto.
Mas a base…continua a mesma
Todas estas atividades criativas começaram a partir dos primeiros vestidos, feitos aos 16 anos. Nestes quase 40 anos de trabalho, Fause sempre recorreu ao conhecimento de moda. "”O meu material de maior intimidade é o tecido. A moda passou a ser um alvo, associada a discurso de identidade, uma linguagem. Será que a cava precisa ser no lugar? Nunca tive medo de correr riscos.Muita gente acha que parei. Mas me tornei autossuficiente: faço a roupa, produzo, fotografo, uma equação que junta os desejos de arte e moda. Vou aprendendo.".
Esta base de moda se refletiu nos desfiles inesquecíveis. Desde o primeiro, em 1993, junto com Walter Rodrigues, na própria loja, que provocou o convite do Paulo Borges para participar das semanas de moda, começando pelo Phitoervas. Até a coleção inspirada nos esportes de rua, como o skate, no espaço externo do Museu Brasileiro da Escultura, o MUBE, a apresentação da coleção em marionetes, os desfiles com Fause como cantor e um último, em 2015, quando o ateliê estava sendo desfeito, e a plateia de convidados assistiu a uma sessão de provas, com explicações do criador. Antes de começar a cena, logo na entrada da sala, Fause estava sentado, de cabeça baixa, lidando em uma máquina de costura. Pensem em um desfile emocionante, um privilégio ter assistido.
Vida que segue
Livre dos estresses da produção e do lado comercial administrativo, Fause Haten atualmente vende as roupas para uma loja em Salvador e uma em São Paulo. "Tenho uma coleção permanente, faço sob medida, com uma linguagem a cada bloco. Minhas pesquisas com a pintura, a escultura e as máscaras seriam para ressignificar o trabalho na Alta Costura. O projeto Re+forma, por exemplo, liberta as roupas dos armários, dá um sentido às peças, não só pelo valor. Quanto mais delicada a roupa, menos acaba sendo usada. Os vestidos de noiva, outro exemplo: converso com eles, gravo e transformo em esculturas, que são devolvidas às clientes. Estou bem, feliz da vida, fora dos holofotes. Atendo às clientes pessoalmente, com muita alegria, sirvo cafezinho da máquina e faço uma venda maravilhosa. Vivo melhor, tenho uma rentabilidade boa. E tempo para respirar."
Vale ver o site e admirar as coleções em @lojafausehaten.
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