Nas inevitáveis zapeações pelas mídias sociais encontrei um depoimento comovente. Uma Twitter ucraniana de 24 anos, declarou que um grupo kPop tinha salvado sua vida (a sanidade mental, no mínimo) durante esta guerra. De vez em quando ela conta de prédios vizinhos sendo derrubados, pergunta para quem ler, se ainda há uma vida normal, comum, sem manter as luzes apagadas à noite, para evitar chamar a atenção, fingindo que aquele bairro já foi destruído por um bombardeio.
Entre um momento e outro de pânico, ela escreve alegres comentários sobre seus ídolos. Pede desculpas aos haters, ameaça sair do ar, mas volta ao twitter, tentando o otimismo em poucas palavras.
O que isto tem a ver com moda, decoração, coleções? Confesso que sou solidária com ela. De maneira muito mais amena também me considero um pouco salva pelas séries, pelas músicas, pelas histórias produzidas na Coréia do Sul. Nestes mais de dois anos, a hora mais feliz é quando ouço o Tu-Dum do Netflix, escolho o que quero ver e passo duas horas longe de máscaras, testes e notícias ruins.
Daí para conversar com admin de fã-clubes (alô, Nacel, alô, Morgana), e atores que entendem inglês, é outra distração. E daí para acompanhar o crescente sucesso da cultura fashion coreana, é inevitável.

Como designer, destaco Munsoo Kwon, autor de alguns figurinos casuais, moletons e capas lindos, exibidos no seu IG. Das marcas, acompanho a Tempus, linha que faz camisetas assinadas por atores e cantores, com etiquetas explicando a origem do nome em latim.
O mais importante é a atuação dos artistas. Nestes dois anos nos acostumamos com as fofocas em torno de Kim Seon-ho, injustamente acusado de induzir uma namorada a abortar. Só que o filho nem era dele, nem fez nenhum comentário deste tipo. Perdeu muitos trabalhos, filmes, programas de TV, mas recuperou o prestígio, voltou a ser um dos atores mais requisitados.

Muita gente esperou por Park Bo-gum, enquanto ele cumpria os dois anos de serviço militar - acaba de sair, manda mensagens de self ajuda pelo Facebook. Aí começa o interesse na moda: Park Bo-Gum foi modelo e saiu das fardas para o universo chic da Celine. Assim como Song Kang, de 1,86m, eleito ícone e convidado pela Prada nos desfiles masculinos recentes em Milão. Jung Hae, que faz sucesso com a série Snowdrop e a imperdível Spring in the Rain, é o rosto da campanha dos perfumes e das Birkenstocks da Dior. Das mulheres, o grupo mais cobiçado pelas marcas é o Black Pink, que fornece rostos para a Tiffany’s. 

Claro que tenho favoritos. O grupo é o SuperJunior, que começa a turnê The Road - keep on going agora em julho, na arena Jamsil, em Seul. E o cantor, compositor, dançarino (que na verdade queria ser jogador de futebol) com mais estilo é Lee Dong Hae, integrante do grupo há mais de 15 anos. Um exemplo de como se vestir com personalidade, símbolo da Gucci do brilhante diretor de criação Alessandro Michele (este merece uma coluna especial)/ Dong Hae é considerado um dos homens mais elegantes do mundo pela Vogue America.

Encerro com alguns toques de tendências destes artistas que merecem atenção até das exigentes marcas européias:

1. Calças estão mais largas, mais retas. Tanto no jeans como na alfaiataria

2. Bermudas retas

3. Muito calor? Que tal um terno sem camisa por baixo?

4. Muita modelagem oversize, principalmente em moletons

5. Uma cor do momento: amarelo-manga. Mas o preto mantém seu lugar

6. No preto, uma volta aos looks punks, de corrente prateadas penduradas no cós

7. Cabeças cobertas com bonés ao contrário, toucas e chapéus bucket (forma de balde)

8. Jaquetas de couro também voltam, estilo Easy Rider

Ah: por favor, ninguém me ligue às quatro da manhã no último dia da turnê, quando estarei assistindo ao show online. Nem me perturbe às 21h, diariamente, quando estou no Duolingo aprendendo coreano. Camiseta da Tempus? Já tenho, veio de Seul via Alasca, e o imposto cobrado aqui foi mais caro do que a peça. E pensar que tudo começou com a pandemia. Espero que a jovem fã do twitter fique bem e assista feliz ao online do show do dia 17.