O futuro como foco

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Por IESA RODRIGUES

Iesa Rodrigues

Hoje vamos pensar no que vem à frente na moda do Rio. Um sinal foi a reunião organizada por Carlos Tufvesson, contando com a presença de Marcelo Calero, candidato a deputado federal, que poderia ter possível empenho em atuar no setor. Antes de efetivamente começar a ouvir as questões dos profissionais de moda, Tufvesson reafirmou a importância da política para tudo. Deste encontro, realizado no elegante prédio de uma firma de advogado na Lagoa, as possibilidades foram basicamente três, que valeriam o foco para os próximos meses.

 

 

Primeiro, a tributação, citada por Roberta Damasceno, da Dona Coisa, já que o iCMS carioca é dos mais altos do país. Em segundo lugar, a segurança, citada pela mesma Roberta, que teve uma produção perdida, pelo roubo de um caminhão com as mercadorias. Neste ponto, Calero ponderou que este é um problema dos mais complicados, a ser resolvido a longo prazo. E terceiro, pode parecer estranho, mas é o lixo. O designer da marca Ruibal demonstrou ser possível trabalhar com descartes e achados de lixo.

Bastava olhar a para a jaqueta combinando várias estampas usada pelo próprio Ruibal, para se convencer que há possibilidades de ter beleza em sobras; E não pensem que é um artesanato banal, de garrafas pet e jeans desmontados: do seu ateliê no Joá ele já vendeu uma bolsa por R$ 15 mil! Quase uma Gucci, made in Rio. A org Pipa exporta os trabalhos de bordadeiras e costureiras para Paris,
No mesmo encontro, Isabela Capeto anunciou que desfilará na próxima quinta-feira na Lapa, no Rato Branco. Uma das pioneiras nos reaproveitamentos – ou upcycling, como queiram – Isabel buscou ajuda financeira com amigos, e clientes “porque banco não aposta em moda”, explicou. O Rato Branco, local do desfile é pequeno, mas as modelos passarão também pelo meio da rua, uma proposta democrática, que torna acessível a todos as belas ideias da Isabela.

Também presentes, o designer Guto Carvalhoneto, que contornou o prejuízo da pandemia trabalhando como curador de exposições em museus _ que tal, como demonstração do nível dos nossos criadores? E mais, entre outros, Alessandra Migani, da Alessa, Debora Martins, da As Meninas, Afrânio Torres Neto, um jovem iniciante neste circuito, dono das Australis, que quer aprender a fornecer seus produtos de maneira coerente. E a esperança brilhando no empreendimento da Sansa, que leva seus belos sapatos de luxo para uma loja maior, no shopping da Gavea.

Fora do Rio, mas também no Brasil – e coisa rara nestes tempos em que para tudo se apela para o Made in China – é a abertura de um centro de inovação da Vicunha, no Ceará. É o espaço V-Laundry, em Maracanaú, onde serão desenvolvidas técnicas de experiências criativas e um network de parcerias.

 

 

 

 

Faltou a sustentabilidade. No Brasil, temos grandes defensores de uma moda artesanal, que já roda o mundo, liderada por Cocco Barçante. Yamê Reis organiza eventos como o Rio Ethical Fashion. O ex-chef e estilista Guilherme Tavares faz roupas de princesa, dignas de Game of Thrones, com retalhos de sacos de lixo. E no mundo, a pioneira Stella McCartney falou em uma live de duas hora sobre as vantagens do veganismo e da moda sem crueldade com animais. Uma evidência irrefutável: seu pai, o Beatle Paul McCartney tem mais de 80 anos, é vegano há décadas e ainda faz shows de três horas no maior pique.

Seus netos, os quatro filhos da Stella, vão pelo mesmo caminho, não comem carne, nem um bifinho, e nunca ficam doentes. Pela moda, ela confirmou a recente descoberta do uso dos cogumelos, cujo miolo vira um material têxtil, o resto vira ração, compota, é todo aproveitado. Um produto Stella McCartney é caro? Sim, porque é como se fossem roupas de laboratório, feitas de materiais pesquisados em prol da... saúde do planeta.

Foi uma semana de Futurismo, com incêndios na California, a umidade do ar no Rio de Janeiro a 40%, as chuvas em Bangladesh e na China. A moda tenta reduzir estas tragédias do clima e da poluição. Ou vocês pensam que seu amado jeans não acaba com as águas dos rios, porque passa por processos químicos de tinturaria? Além destes esforços, é preciso anunciar o que está fazendo, quem fez, de que é feito. O projeto mais concreto saído do encontro desta semana foi um evento de moda praia e fim de ano, quem sabe, ainda como um teaser antes do fim do ano. É o tal do marketing, que ainda se resolve desta maneira mais simples: com um evento, exibindo os belos resultados de tantas etapas. Desde o caminhão roubado até a briga pelo ICMS alto demais.