Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

cadernob@jb.com.br

IESA RODRIGUES

Em breve: culpas e remorsos

...

Publicado em 17/12/2022 às 11:40

Look da We´e´ena Tikuna em tecido tururi Marcelo Soubhia /ag.fotosite / divulgação

 

Macaque in the trees
Iesa Rodrigues (Foto: JB)
 

 

O tema da sustentabilidade vai continuar nos perseguindo, obrigando a investigar o “como, quando, por quem, de que” na compra de cada peça de vestir. Daqui a pouco, dará remorso não ler a etiqueta escondida nas costuras laterais e até culpa por saber que seu lindo vestido é derivado do petróleo.

As indústrias têxteis estão se situando, procurando parceria com empresas de fios, reaproveitando produtos de coleções passadas _ sempre me impressionou ver a quantidade de fardos de tecidos considerados fora de moda nos depósitos das confecções e tecelagens.

Mas as mudanças são necessárias: o clima tem que normalizar, não é possível ter enchentes inéditas e ventanias fora de hora no mundo inteiro. Preocupa saber que aquele simples shortinho de índigo que poluiu um rio pela sua lavagem tenha muito a ver com estas catástrofes climáticas.

Por enquanto, há opções e movimentos que demonstram alguns caminhos possíveis de sustentabilidade.

 

Macaque in the trees
Longos de sacos plásticos, de lixo e papel carimbado na coleção Revive, de Guilherme Tavares (Foto: Ines Rozario)

 

Opção raiz

Guilherme Tavares é um dos heróis destes movimentos sustentáveis. Com o aprendizado de chef de gastronomia começou inventando vestidos de alface, de coadores de café ou de flores. Eram peças de prestígio autoral levadas para várias capitais da moda internacional. Além de se inspirar em temas atuais, com fez com a coleção com máscaras durante a pandemia, Guilherme prossegue apostando em reciclagem e reaproveitamento de materiais. No desfile realizado no rooftop do hotel JW Marriott, contou com a parceria das joias e acessórios de Jhenyfher Joany e mostrou looks emblemáticos de suas propostas. Um longo de sacos plásticos, uma saia de papeis coloridos, o vestido de sacos de lixo. A avaliação do evento, ao entardecer, sem iluminação especial, com a boa playlist da DJ Luna, deixou a vontade de ver mais peças, em ambientação espetacular, condizente com o valor do trabalho

 

Macaque in the trees
Vestidos curtos e longos da IDA, em tecidos da Lenzing (Foto: Luca Oliva / divulgação)

 

A partir do fio

Mundo, Moda e Vida são os pilares da IDA, marca fundada em 2019, que prioriza o uso de fibras vegetais, orgânicas, produzidas pela Lenzing, empresa têxtil austríaca. “Nossas fibras celulósicas são produzidas a partir de madeira de fonte sustentável, com certificações de organizações sem fins lucrativos que promovem a gestão responsável das florestas do mundo. São biodegradáveis e compostáveis”, declara Juliana Jabour, designer e gerente de Desenvolvimento e Novos Negócios na América do Sul do Grupo Lenzing. O Tencel Modal da Lenzing foi a base da coleção Marés. A IDA identifica as peças com selos como Mudanças Climáticas e Meio Ambiente, que revelam como protegem o meio ambiente e a sociedade.

 

Para todos

Motivo de orgulho, ter desde 2017 a Brasil Eco Fashion Week, semana de moda sustentável única no circuito de eventos. Melhor ainda, a BEFW chegou à sexta edição agora no início de dezembro, com o tema Cocriar o Futuro.

Entre todas as marcas, as inspirações desenvolveram desde temas como a menstruação, pela Pantys, até o desfile final, estrelado pela Maju de Araujo, modelo com síndrome de Down, que convidou amigos, artistas e influenciadores para um show surpresa.

Nem sempre um projeto corretamente sustentável tem um resultado bonito, que dê vontade de vestir. Por esta razão, vale destacar o trabalho da We´e´e ´era Tikuna, que mostrou belas roupas em tururi, tecido orgânico tirado da entrecasca de árvores seculares no território Tikuna.

E como mais uma opção de proteger o planeta, o Eco Fashion apresentou pela primeira vez um brechó, o Repassa, que conta com um estoque de 600 mil peças de segunda mão.

E a sentença final, que repito do texto sobre o evento Rio Fashion Trends. Perguntado por alguém da plateia como ser sustentável, se toda a matéria-prima acaba sendo tão cara, Oskar Metsavaht, da grife Osklen, respondeu simplesmente.

“Ninguém precisa ser 100% sustentável. Que seja 1% já faz diferença. Quem sabe, no ano que vem, chega a 2%? “

Enfim, também repito sugestões ouvidas ao longo das últimas décadas, a serem seguidas por quem veste as roupas:

Não lavar com tanta frequência e de preferência com sabão o mais ecológico possível

Repetir o uso das roupas. Sem ser aquela suada e suja que foi a uma rave ou ao pagode da Lagoa
Reaproveitar a base. Corta as mangas, encurta a calça, manda bordar (no IG, uma craque: rita_moreno_bordado)

E um alerta patriota: está entrando no mercado brasileiro a Amreya, marca de algodão egípcio, que oferece 80% de desconto nas primeiras vendas, para conquistar adeptos. E o algodão brasileiro, onde está?

Tags: