Homens à moda de Milão

A semana de lançamentos reforçou a combinação de tradição, com muita alfaiataria repensada

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Zegna:Terno cinza com dobra xadrez; bermuda e blazer; preto total e o lenço no pescoço com veste de um botão. Tudo em linho

Se Paris manda na moda feminina e na perfumaria (apesar da Acqua di Parma ser uma maravilha italiana), Milão e Florença arrasam na roupa masculina. Tanto que, além dos desfiles das grandes marcas, há um salão exclusivo, o Pitti Uomo, sem igual na França.

A semana de lançamentos reforçou a combinação de tradição, com muita alfaiataria repensada, o artesanal, com bordados e tratos com matérias-primas como o couro, e o olhar para o Futuro, quando as mudanças devem realmente acontecer na moda dos homens. Aos poucos, veremos as pontas longas de um lenço, em vez de gravatas; flores bordadas em lapelas de ternos de executivos. É para daqui a pouco, aguardem.

Enquanto isto, o bom consumo dos países asiáticos provoca muitos modelos orientais nos elencos e inspirações nas culturas chinesas e japonesas.

Zegna, toda no linho
Alessandro Sartori, diretor artístico da grife Zegna, mostrou a Oasi Lino, coleção toda em linho. É uma viagem através do espaço e artesanato, perto e longe. Cento e noventa e dois fardos de linho bruto vindos da Normandia, onde é cultivado com flores azuis no verão, ocuparam uma praça perto do Scala de Milão, em meio a construções históricas, em plena luz do dia.

Emporio Armani

O tema é o gingko biloba, planta de origem chinesa de 200 milhões de anos! Entremeado com elementos do ecossistema da Ásia, a elegância Armani se mistura com os bordados da folha, como um toque artesanal requintado, tanto em camisas de trama aberta como em lapelas de terno. Um estilo que une elementos tradicionais asiáticos com a estética européia.

Dolce & Gabbana, serenos

Dolce & Gabbana não deixam de lado a extravagância, como as camisas de punhos longos, que ultrapassam as mãos. A moda de verão ganhou o nome simples de Style. Mais uma vez, como se esperava pelas previsões, é uma mistura do clássico com o moderno. Há bordados de flores, peças oversized, um clima natural de serenidade. Pelo menos, esta foi a intenção da dupla Domenico Dolce e Stefano Gabbana. Como ser sereno sacudindo as mangas para pegar uma taça de vinho? Ou abrir uma porta?

Fendi, industrial

A Fendi, assinada por Silvia Venturini Fendi, homenageou a ligação entre Florença e a marca fundada por sua avó há quase um século. O desfile foi na fábrica em Capanuccia, nos arredores da cidade onde a fundadora aprendeu a arte do trabalho em couro, o que motivou o conceito da combinação de artesanal e trabalho, de industrial e o feito à mão. Ferramentas enfeitam as bolsas, há um ar de uniforme operário.

Valentino, para a nova masculinidade


As definições de masculinidade andam sendo revistas, exigindo uma perspectiva diferente na criação. Pierpaolo Piccioli, diretor criativo da Valentino masculina, assina a coleção Narrativas, desafiando as convenções da vida, das roupas e a essência da masculinidade moderna. Estas mudanças, que se refletem em todas as coleções vistas na Itália, incluem paradoxos visíveis: a fragilidade tem força, a gentileza tem poder e a imperfeição ganha status de perfeição. E mais um toque oriental no terno com a frase “We are so old, we have become young again.” (somos tão velhos, que nos tornamos jovens de novo) do livro A Little Life, de Hanya Yanagihara, americana/japonesa nascida no Havaí.

Gucci, de mocassim

A roupa é bonita? Os acessórios, irresistíveis? Mesmo que nada disto fosse verdade, Gucci convence pela própria e turbulenta história de 70 anos de inovação. Desta vez, a coleção homenageia…o mocassim famoso, chamado Horsebit Loafer, o modelo com uma espécie de bridão na gáspea. Este detalhe se repete em estampas, acessórios diversos e claro, em novos mocassins de solados tratorados, usados com meias caídas. As bolsas continuam cobiçáveis, têm sempre uma mudancinha na forma, no jeito de alça, mas conservam a logo e a faixa em verde e vermelho para rápida identificação nas redes sociais. Ou seja, Gucci é Gucci, e surpreendeu mesmo com a saída de Alessandro Michele, que tinha dado o impulso para esta nova fase, desde a saída de Tom Ford nos anos 1990. Gucci é coisa de colecionador. Quem não quer um mocassim pesadão, com a ferragem na gáspea?

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Segundo Alessandro Sartori, esta é a rota da roupa dos homens:
"Na ZEGNA continuamos a repensar como deve ser um guarda-roupa eficiente, aprofundando a ideia de criar um sistema de elementos - partes de cima, de baixo e acessórios - que podem ser combinados e estilizados da maneira que preferir. É a ideia do uniforme que não incita à uniformidade. O terno como conjunto combinado de paletó e calças não se aplica mais. Hoje em dia, tudo combina com tudo. As linhas são enganosamente simples: escondemos elementos funcionais na construção. A fluidez geral faz parecer tudo tranquilo e luxuoso, mas a atenção nos detalhes, a riqueza das cores e a liberdade de infinitas combinações sugerem algo nada tranquilo"
Certíssimo, o Sartori.

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