IESA RODRIGUES
Pretexto: Dia dos Pais
Publicado em 13/08/2023 às 08:00
Alterado em 13/08/2023 às 12:06
Domingo, Dia dos Pais, leva a pensar nas mudanças da roupa dos homens. Até os presentes evoluíram dos chinelos (para os senhores), gravatas (para os que usavam no dia a dia) e canetas (nas famílias mais abonadas). Poucos vovôs atuais curtiriam ganhar um chinelo, devem preferir um tênis para suas caminhadas; gravata para quem, se o traje oficial do brasileiro é a bermuda e camiseta? E caneta – só para colecionador, porque a maioria tecla direto.
Cada década, um estilo, uma marca
Vamos à evolução, desde que acompanho a maneira de vestir da humanidade – pelo menos no Brasil:
Anos 1960: era terno o dia inteiro, até nos bondes, a passeio. Meu avô gaúcho saia de terno e chapéu de feltro (Fedora, naquela época ou Borsalino, como se chama agora). Mas uma rede de lojas chamada Ducal assustou geral, propondo uma cor inusitada: mostarda! Ternos mostarda, que loucura, numa época de cinzas, marinhos e alguns pretos. A campanha exibia um craque: Pelé!
Anos 1970: Uma variedade maior de modelos aparecia nas vitrines da Casa José Silva e da Tavares – famosa pelo ícone, um cachorrinho Terrier Scottie preto _ e a Renner, em Porto Alegre, que mais tarde se tornaria a rede atual, com roupas para a família toda. Os ternos eram as bases, mas as camisas polos começavam a se impor no estilo brasileiro. Paralelamente, corria a bagunça hippie, libertando os jovens do terno-e-gravata. Era calça jeans surrada, camiseta manchada e sandália de sola de pneu. Sem falar nos cabelos longos e desgrenhados, mais as bolsas de franjas, precursoras das mochilas.
Anos 1980: Giorgio Armani convencia os ex-hippies a impressionar no mercado financeiro vestindo ternos de linho sem forro. No Brasil, a força de marcas como a Company consagrava a dupla bermuda e camiseta como adequada para todas as classes e idades. Em São Paulo, começava a carreira de Ricardo Almeida, motoqueiro que criava belas jaquetas de couro e seguiu a rota dos ternos impecáveis (até hoje). Mas o que marcou foi a ousadia de Luiz de Freitas, que, depois de fazer sucesso com a marca feminina Belui, propôs o colorido, as estampas de oncinha, as calças de cortes inovadores, com a marca Mr. Wonderful.
Anos 1990: o jeans vira uniforme. Serve de base para o complicado conceito de esporte fino, uma das exigências nos convites da época. Calça jeans, camisa social, um bom blazer, e pronto. Sem esquecer do mocassim ou do sapato social com meia...branca! A partir de meados dos anos 1990 a rede Taco começou as atividades, focada neste estilo jeans/camiseta/jaqueta. Atualmente são mais de 60 lojas próprias, sem contar as franquias. Onde quer que se vá, tem uma Taco.
Anos 2000 / século 21: a esperança de um estilo menos tradicional sobrevive. Por enquanto, só os mais irreverentes, ousados, impacientes e rebeldes saem de paletós de flores, calças em maxi xadrez, saias longas. A maioria adotou a bermuda cargo, por causa dos múltiplos bolsos que permitem levar carteira, celular, óculos, etc. As camisetas significam a adesão a algum super herói, um protesto, uma piada. O corte dos ternos ficou mais justo, depois da passagem de Hedi Slimane pela Dior Homme. E estranhamente, há uma volta ao terno, principalmente o preto, com camisa branca e gravata fina preta. Mais estranho ainda, a referência é o pessoal do rock e dos elegantes jovens londrinos – ingleses, eternas referências. No Brasil, a esperança fica por conta de pelo menos duas marcas: a Foxton, um básico inovador, com vitrines sedutoras que ensinam a compor looks modernos com peças clássicas. E a Reserva, que aposta em conceitos otimistas para propor coleções com alta qualidade. Basta tocar nas camisetas, para notar a diferença de material. E há linhas infantis e femininas, mais as lojas Oficina com serviços de barbearia, bar e camisaria sob medida.
Por andam os saudosos do Mr. Wonderful? Assistindo aos desfiles de participantes de eventos como a Casa dos Criadores, em São Paulo. Ou quase discretamente, nas vitrines da butique do Hermes Inocêncio, em Ipanema. Onde as camisas de oncinha, as calças de corte diferente e as estampas floridas atraem os novos rebeldes e uma legião fiel de turistas.