Ontem e hoje
Hoje é direto: afinal, o que a moda faz contra e a favor do planeta. Apenas uma comparação com como era nos anos 1970/80 e a atualidade.
Ontem
Quem perdeu os acontecimentos da moda carioca nos anos 1970 pode ter uma ideia do que foi esta e a próxima décadas através de alguns posts recentes de um grande estilista (ainda não eram chamados de designers nem de diretores de criação).
José Augusto Bicalho assinou a marca Jo&Co nesta época, aproveitando o talento de desenhista exercido no jornal O Globo. Há algumas semanas começou a postar fotos de desfiles e de coleções fotografadas em editoriais.
Primeiro: impressionam pela atualidade de estilo. Segundo e mais importante, a qualidade da matéria-prima e da confecção. O linho, na época chamado de ”puro linho” era um dos .favoritos, tanto na Jo&Co como nas marcas que despontavam naquele tempo: Maria Bonita, Andrea Saletto, Alice Tapajós, Walkyria (esta era mestra também no jeans), Georges Henri, Sonia Mureb e mais os que eram privilegiados pelo acesso aos tecidos da Braspérola.
As lavagens dos tecidos começavam a poluir as águas, mas era mais importante firmar o sucesso da roupa feita no Brasil. Os anos 1980 marcaram a entrada das franquias e licenças de marcas internacionais. As grifes cediam os logotipos e os fabricantes daqui inventavam o que queriam. Yves Saint Laurent, por exemplo, ficou surpreso de ver o volume de vendas dos seus jeans por aqui. “E nunca fiz jeans nas minhas coleções!”, comentava.
A grande qualidade da moda brasileira era o mercado. As butiques recebiam clientes ávidas por novidades a cada semana.
Hoje
Aqui, fica a incógnita sobre o que a moda pode contribuir para a sobrevivência deste adorável planeta.
Imran Amed, editor do site Business of Fashion, e Bob Safian, do podcast Rapid Response, comentaram sobre a situação atual. Para eles, se olharmos as fotos históricas de 50 ou 100 anos atrás, vemos que as roupas usadas refletem o que acontecia no mundo nestas épocas. Este é o poder da moda”. A discussão ficou em torno do crescimento global do negócio fashion, do domínio das grandes marcas, a crise de criatividade e o desafio enfrentado pelas marcas independentes.
Sem falar no impacto das ultra fast fashions como a Shein (a pronúncia é “chi-in”, como “ela está in” em inglês). A venda de uma marca destas faz com que a Zara e a H&M virem empresas de luxo, tal a diferença de preços.
Se vale a pena renovar o guarda-roupa com uma ultra fast fashion, é uma decisão pessoal. Não se pode dizer que a qualidade é ruim ou que os modelos são de mau gosto. Mas os tecidos seguem a tendência de fibras sintéticas, derivadas de fontes fósseis do petróleo. Os modelos devem já serem criados com Inteligência Artificial e contam com o controle de grandes analistas e bancos, como Apple e Procter & Gamble.
Mais uma vez, lembro os conselhos de um funcionário do marketing da Levis:
Comprar menos roupas. Ou apostar na segunda mão, como faz a juventude européia
Usar mais vezes as peças. Dar vida longa para as roupas. Repetir não é vergonha.
Lavar menos. O que em um país quente como o Brasil parece inviável. Mas é mesmo preciso lavar uma calça jeans a cada vez que for usada?