As coleções ao vivo, na tela

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Desfile Saint Laurent: masculino ou feminino?

Há muitas maneiras de assistir e julgar um desfile. E sempre haverá novidades e inovações (são itens diferentes). Na inovação, nota-se que enfim as marcas conseguiram se acostumar com os novos tempos e não só abrem os shows ao vivo como deixam gravados em plataformas acessíveis ao mundo, sem medo das cópias. Outro detalhe técnico é a duração: até onde se assistiu (noite de sexta-feira) ninguém mais se restringe a 10 minutos de passagem das modelos. Vão quase 20 minutos, se contar a espera pelo autor, para os aplausos. E o elenco em geral pode chegar a 100 pessoas, profissionais ou não. Estas são algumas inovações, independente das coleções no hemisfério norte, que vão até o dia 1º de outubro, em Paris. Quando o dia começa com Chanel e Louis Vuitton encerra a agenda. 

Novidades do guarda-roupa

Segundo Rick Owens, um dos mais originais da moda parisiense, basta jogar uma capa preta por cima de qualquer look, de preferência preto, também. Pelotões de pessoas de todos os tipos físicos passaram pelas escadarias do Trocadero. O que acontece quando quase não se vê a roupa, escondida pelas capas? A música fica mais importante. No caso, trechos de Tristão e Isolda, ópera de Wagner, valorizaram o conjunto. Ficou bom no ao vivo, sabiam? Pena que em todos os desfiles a música é sempre mudada, no vídeo gravado.



A italiana Maria Grazia Chiuri dividiu opiniões. Sua coleção para a Dior ainda lembrou a temporada olímpica, tanto nas propostas de cortes e recortes assimétricos quanto no convite feito à performer/atriz Sagg Napoli, que atuou como arqueira, e foi criticada por acertar poucas flechas no alvo. A coleção, quase toda pela metade - um lado com mangas, uma alça só, as camisas com um ombro de fora (fácil de imitar, basta desabotoar os primeiros botões e deixar cair em um dos ombros) - A inspiração olímpica interessante nas peças com entalhes em xadrez de damas. Preto predomina. Mas a arqueira fake foi o destaque.


De Paris, vamos para Nova York, onde Ralph Lauren, dono da marca que tem batido as europeias em números de peças vendidas e valores de lucro. Seu desfile foi um dos mais comentados. Por causa das roupas, elegantes e clássicas? Não: porque escolheu os Hamptons, tradicional destino de férias dos americanos ricos e bem educados. Coerente, porque a roupa dele transpira riqueza. Calças mais largas, camisas listradinhas de azul, nada demais no feminino, já elegante o bastante. No masculino, uma referência ao smoking, com paletós ou calças estampadas vestidas por homens bonitos. Até a moda infantil é chic, com paletozinhos fofos, sobre vestidos em xadrez. Mas o maior comentário ficou para a locação, os Hamptons.

De Nova York, voaríamos 11 horas para Milão. Gucci, assinada por Sabato De Sarto, foi considerado o melhor desfile italiano. Sinceramente, o que vi sobre a passarela vermelha (alusão ao red carpet?) me lembrou demais o lado clássico inalterado do Ralph Lauren. Gucci é a elegância das roupas de couro, das botas recortadas, das microssaias nos vestidos e conjuntos que dão a impressão de as bainhas terem sido cortadas ali, na hora, no camarim. Para adotar já o estilo do De Sarto, jogue um paletó ou casaco longo sobre o que estiver vestindo. Pode ser jeans e camiseta, macaquinho, vestido curto. Pronto: está de Gucci.




Temos que voltar a Paris, para não perder Saint Laurent por Anthony Vaccarello. Repito que estou vendo tudo on-line. Primeiro, abro o vídeo e fecho, vou pesquisar de novo: acho que entrei no desfile masculino de junho. Nada disto: era o feminino mesmo, de terno oversized, ombrões, camisa e gravata! Lembrei do que o próprio Yves Saint Laurent gostava de usar. A série continuou, dezenas de variações da roupa masculina, até que foi aceitando saias longas com fios de lurex, também com jaquetas de couro e colares do tipo “quero todos, agora!”. A terceira parte reuniu um colorido lote de micro saias pregueadas na horizontal, com uma barrinha rendada aparecendo, como se fosse uma anágua e jaquetas de brocados lindos.


Divertido no on-line são os comentários. Todos os desfiles ganham elogios e também são considerados horríveis. Muitos acham as trilhas tediosas, desde Wagner ao Sailing do Christopher Cross, no Ralph Lauren. Outros pedem a volta do John Galliano na Dior. E todos que vi têm a maior parte dos comentários dedicada à felicidade de ver um ator coreano na plateia ou no elenco. Kim Ji Soo, Song Kang, Nam Joo Hyuk (maravilhoso, concordo) são mais festejados do que os criadores das novas modas.

Este é um resumo dos desfiles vistos até agora. Vamos ver o que o Nicolas Ghesquière apronta na Louis Vuitton e afinal, quem assina a Chanel, na próxima semana. E lembrem: preto, terno grandão, capa ou qualquer peça longa por cima da roupa, cabelos lisos repartidos no meio ou um coquinho no caso dos ternos. De novo: falei em vestir de preto? De gostar dos atores coreanos? De que moda é um fenômeno maravilhoso, um tipo de Arte que pode fazer do nosso corpo uma galeria? E nem sempre é a roupa que importa, pode ser o raio de sol que entrou por um janelão no Trocadero, uma música emocionante, um ator favorito sentado ao nosso lado na plateia?

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