
IESA RODRIGUES
Azulejos de couro
Publicado em 19/04/2025 às 06:01
Alterado em 19/04/2025 às 12:44

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Patricia Viera merece atenção. Nestes tempos instáveis, ela segue criando no material que transformou em luxo. Há 28 anos o couro era visto como base de peças rústicas, esportivas, como jaquetas ou calças retas.
Com a experiência do olhar de moda e varejo depois de 17 anos trabalhando como criadora de sapatos coloridos, para a Company, a famosa marca do Mauro Taubman, mais os quatro anos no ateliê da inglesa Sally Mee, em Londres,aproveitou as bases para a investida em uma moda em couro.
“Com o Mauro aprendi que a velocidade na criação é fundamental. A Company lançava coleções todas as semanas. Na época, meu trabalho era desenvolver sapatos coloridos, como ele queria. Com esta missão, comecei a estudar química e a frequentar os curtumes. Fiquei na Company até 1995. Em 1997 decidi abrir a marca de roupas”, conta Patrícia, atualmente uma expert em couros.
Coleção de banheiros
No desfile em São Paulo, em uma elegante casa em Higienópolis, ficou confirmada a rapidez da criação e da produção. Em apenas 11 dias, depois de saber a beleza de onde seria sua apresentação, Patricia criou peças com referência nos azulejos dos banheiros, nos vitrais e nos ladrilhos da casa. “Fiz 30 looks em estilo um pouco Great Gatsby. Mais uma vez, reaproveitando pedaços de couro, sem metais pesados. Só couro de abate. Os curtumes não são mais os grandes vilões da poluição. O couro é uma matéria sutil, poderosa. Afinal, foi a primeira vestimenta do homem”.
Modelos curtos: vestido dourado, um midi vermelho e o azul inspirado pelos vitrais Foto: Nathalia Lin/divulgação
Os longos: Com referência em ladrilhos, vestido de noiva e o longo vermelho Foto: Nathalia Lin/divulgação
Daqui em diante
Feliz com o sucesso da loja no shopping Iguatemi (São Paulo), prestes a abrir outra, maior, no mesmo endereço, além do ateliê no prédio da livraria Argumento, no Leblon (Rio de Janeiro), Patrícia Viera pretende entregar a frente da marca para a filha Andrea, que julga ágil no marketing e nas áreas tecnológicas. “Quero ficar na produção, passar roupa. Amo o chão de fábrica. Vou ficar no começo e no fim, porque também gosto de atender as clientes, a etapa final”, justifica.
A marca, que tem preços a partir de R$ 4 mil por uma jaqueta ou R$ 5.200 por uma saia (tão macia e delicada, que é difícil acreditar que é couro) depois da pausa desde a pandemia, voltou a exportar para os Estados Unidos e em breve paraLondres. Coleções masculinas e infantis devem chegar junto com a linha casa, na nova loja: almofadas, pufes, bandejas e caixas estão entre as primeiras peças.
Com toda esta experiência de transformar o couro em um quase delicadotecido, criar desde shorts até vestidos de noiva, Patricia Viera, dona de uma fé capaz de acordar de madrugada para rezar o terço, resume seu conhecimento:
“Quando achamos que sabemos tudo, vemos que não sabemos nada”.
Mesmo sem achar que não sabe tudo, ela nos deslumbra com suas ideias nesta matéria-prima poderosa que é o couro.