Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

iesarodrigues@gmail.com

IESA RODRIGUES

A Coopa Roca no mundo real

Publicado em 26/04/2025 às 13:17

Alterado em 26/04/2025 às 13:19

Maria Teresa Leal, a Tetê da Coopa Roca Foto: Iesa

Sempre lembro de Zuenir Ventura se definindo como profissional, nas coletivas de imprensa. Nunca como editor ou diretor de redação (como na verdade era) e sim, como repórter. Mesmo tendo estudado para ser designer nas redações, devo ter tido algum talento para escrever e virei repórter neste JB. E até hoje sinto prestígio ao entrevistar alguém, ouvir as histórias e opiniões de pessoas nem sempre conhecidas ou com quem nem sempre concordo.

Este longo parágrafo em geral é considerado dispensável no dia a dia da redação, onde é chamado “nariz de cera”. Não façam isto, iniciantes! Só que lembrei deste privilégio ao me encontrar com a Maria Teresa Leal, ou a Tetê da Coopa Roca.

Subindo a rua 1

Há cerca de 30 anos começamos a ouvir falar de uma associação de artesãs no alto da Rocinha, uma das comunidades mais famosas do Rio de Janeiro. Era a Coopa Roca, organizada pela socióloga Tetê, reunindo mulheres que sabiam fazer crochê e seguiam a curadoria da organizadora ou de quem ela conseguia convencer a criar peças para serem lançadas no mercado. Era notícia, tinha que ver de perto. Subindo a rua 1, entre um corredor de homens armados, notei a mudança na atitude da minha guia, normalmente de educação urbana calma:

“Tudo limpo! Vamos subindo! E aí, cara? Tudo certo!” subia gritando na frente, abrindo os braços, de vez em quando, me apontando. Vi o prédio construído, as moças dos crochês, era tudo verdade, a visita não havia sido avisada com antecedência.


Lustre criado pelo holandês Tord Boontje para a Coopa Roca Foto: divulgação



François-Henri Pinault entregando certificado para Teresa Foto: divulgação


Entrega de certificado pelo presidente Clinton Foto: divulgação

Indo em frente

A Coopa Roca passou dos quadradinhos de crochê para a moda. Estilistas como Carlos Miele, Wendell Braulio e Carlos Tufvesson criaram coleções deslumbrantes para desfilar no Fashion Rio.

“O Alexander McQueen comprou um lustre da Coopa Roca, em um leilão!” de repente lembra Tetê, uma exceção no que se permitia divulgar, até por falta de tempo. Mas tinha mais, que pouca gente ficou sabendo:

“Ganhamos um prêmio da PPR (Pinault/Printemps/Redoute, atual grupo francês Kering, da Gucci, Saint Laurent, etc) em 2010, pela Fondation pour la dignité et les droits des femmes (Fundação pela dignidade e direitos das mulheres), entregue pelo próprio Monsieur Pinault. E um certificado das mãos do presidente Clinton, pelo CGI (Clinton Global Initiative) ”

Tem mais? Sim. “Stella McCartney mandou uma doação, logo depois, em 2011”. Ainda revelou a presença na semana de moda de Tóquio.

Ancorada no mundo real

Depois de mais de três décadas subindo até o Buraco do Rato, era hora de sair, deixando a estrutura física montada, um estoque e o terreno em volta que virou estacionamento, Tetê ficou com o nome Coopa Roca, com registro no IPI. Fez mestrado em Artes e Design na PUC, com a tese O Bordado.

“E decidi ancorar no mundo real. Estou dentro do projeto Reviver Cultural desde o ano passado, trabalhando na Praça Tiradentes, e mais um espaço com projeto da Bebel Lobo quase pronto na rua da Quitanda, no Centro da cidade. Lá ficará a Butique Galeria no térreo, com moda, bordados, acessórios e um mezanino onde vou expor peças de artesanato de outros lugares. Não quero fazer no improviso, ainda falta pintar e acabar o piso. E também estou em busca de alguém para dividir o trabalho, não queria continuar sozinha!”


Três modelos de camisetas bordadas, em breve na nova loja no Centro Fotos: divulgação


A capacidade, existe?

Não entendi o que significa “ancorar no mundo real”. Depois de tantas realidades modificadas em uma comunidade? Qual o potencial de liderança, tantas vezes motivo de polêmicas em torno do trabalho dela?

Basta um exemplo:

“Em 2020 fui procurada pelo Itaú, Bradesco e Santander, com a campanha “Heróis usam máscaras”, da rede Mulher Empreendedora. Em quatro meses entregamos 500 mil máscaras feitas por mais de 300 mulheres que selecionei no Estado. Eram máscaras de proteção contra a Covid”.

Atualmente há um lote de 1.300 camisetas bordadas, em malha de viscose com amaciante feito com a reciclagem de casca de arroz. Nada mais de acordo com o consumo consciente, que segundo o Instituto Akatu, está aumentando. Na entrevista no café da livraria Janela, brincamos dizendo que o marketing do luxo diria que eram camisetas com Rice Recycle. Mais uma vez lembrei da fala de tendências do Walter Rodrigues no Inspiramais, evento em Porto Alegre, em que ele não falou de cores, comprimentos nem de decotes. Falou de Humanidade. Que coincidência: o CNPJ da Coopa Roca é Humanidades Têxteis. Queremos todos ancorar no mundo real da Teresa Leal.

Deixe seu comentário