Uma ponte entre Cuba e Nova Orleans

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Em meados dos anos 90, me recordo, ainda muito jovem, do fascínio que senti ao escutar, pela primeira vez, o som de Ibrahim Ferrer e o Buena Vista Social Club. A gravação do disco, que homenageava o lendário club de música e atividades artísticas, situado em Havana, na década de quarenta, aguçou minha curiosidade a respeito da musica cubana, tamanha sua riqueza cultural e diversificada. Eram os primeiros passos de formação do meu “caráter musical”.

Quase vinte anos depois, já apaixonado por música, me vi novamente curioso com a musicalidade encontrada em Nova Orleans, em uma viagem feita com meu pai. Os animados e envolventes sons do Dixieland me proporcionaram uma experiência incrível, com uma energia que só quem visita o quarteirão francês pode atestar.

Crenças a parte, sempre enxerguei profunda conexão entre os dois estilos – de Cuba e New Orleans -, ambos com ritmos dançantes, histórias difíceis e a música como fator determinante para a sobrevivência de suas regiões.

É aí que surge, para reforçar minha teoria, o documentário “A Tuba to Cuba” gravado em 2018 e lançado em fevereiro deste ano. No projeto, o diretor, T.G Herrington, acompanha a famosa banda Preservation Hall Jazz Band, de Nova Orleans, durante uma peregrinação musical na ilha caribenha, com narração de Ben Jaffe, cujos pais foram fundadores do Preservation Hall (emblemática sala de música criada, em 1961, Nova Orleans).

E como esperado, este maravilhoso documentário nos traz uma impecável trilha sonora. Lançada no final de junho, pela Sub Pop Records, as doze faixas são descritas por Jaffe como “uma boa conversa”. Com colaborações espontâneas e cheias de alma, variamos de tradicionais temas como “El Manicero” , famosa canção popular cubana criada por Moises Simons, e “Descarga del Son”, do Septeto Tipico Oriental, à hits mais modernos como “Kreyol” (em homenagem aos créoles fundadores de Nova Orleans) e “Keep Your Head Up”, dançante e empolgante com a participação da cantora Eme Alfonso. As baladas jazzísticas também tem seu espaço como “Solitude”e “Malecón”, esta última homenageia o símbolo da cidade, um enorme calçadão que beira a orla, indo de Habana Vieja até o bairro de Vedado, numa extensão de sete quilômetros.

O documentário reforça o envolvimento do espírito humano através da linguagem universal da música e nos desafia a olhar de maneira mais aprofundada, para encontrar o terreno comum, existente dentro de todos nós, e construir pontes, e não muros.

Este era o desejo de Allan Jaffe, pai de Ben. Tantos anos depois, a pauta não poderia estar mais atual no mundo em que vivemos.

BEBOP

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