Os planos do Facebook para o uso de blockchain
Nos últimos anos, blockchain tornou-se um dos termos mais comentados no setor tecnológico, surfando a onda de um mercado aquecido pelo Bitcoin e outras criptomoedas, especialmente entre o final de 2017 e o início de 2018. Algumas empresas chegaram até a inserir a palavra em seus nomes oficiais apenas para verem seus valores crescerem, mesmo que o business das mesmas pouco ou nada tivessem a ver com o assunto. Porém, agora que o hype passou, a maioria dos aventureiros partiu em busca de uma nova moda, deixando aqueles que realmente acreditam no potencial da tecnologia focados em desenvolvê-la e melhorá-la. Temos exemplos interessantes de aplicações em blockchain, que envolvem grandes companhias. Uma delas, que vem tendo destaque neste primeiro semestre de 2019, é o Facebook.
A partir do ano passado, a empresa de Mark Zuckerberg intensificou a contratação de profissionais especializados para tocar iniciativas com a tecnologia. Apesar destas iniciativas não terem sido oficializadas, algumas delas tornaram-se conhecidas por meio de publicações importantes, o que nos faz, ao menos, ter uma noção da estratégia traçada. Em fevereiro, o New York Times publicou que a companhia estava desenvolvendo uma criptomoeda que seria integrada ao Whatsapp, permitindo que pessoas pudessem receber e enviar quantias de forma eletrônica para qualquer parte do mundo, as chamadas remessas, um setor que movimentou em 2016, segundo o Banco Mundial, US$585,1 bilhões, principalmente de pessoas que vão trabalhar em países desenvolvidos e enviam parte do dinheiro que ganham de volta ao país natal. Esta funcionalidade, segundo outro veículo de renome, a Bloomberg, seria testada primeiramente na Índia, o maior mercado de remessas do mundo. As vantagens seriam uma maior rapidez na conclusão das operações e um menor custo para os usuários. Para evitar os já conhecidos problemas de instabilidade no preço das criptomoedas, o Facebook apostaria em uma stablecoin, uma moeda virtual vinculada a uma moeda fiduciária ou a uma cesta delas.
No início de maio, foi a vez do The Wall Street Journal escrever sobre o assunto. De acordo com o veículo, além da aplicação no Whatsapp, o Facebook também teria sua própria criptomoeda. Esta, no entanto, funcionaria como um sistema de pagamentos para rivalizar com operadoras de cartões de crédito, como Visa e Mastercard. Teoricamente, usar o blockchain livraria os comerciantes das taxas cobradas em seus recebíveis ou, pelo menos, as diminuiria, o que seria um grande atrativo. A criptomoeda da rede social também seria uma stablecoin, mas vinculada apenas ao dólar, tanto que o WSJ alega que a empresa busca levantar US$1 bilhão com esta finalidade. A publicação afirma ainda que o Facebook estuda remunerar seus usuários a cada vez que eles veem uma publicidade, o que seria basicamente um pagamento pelo uso dos dados deles.
Ainda em maio, a Wired postou um artigo, no qual questiona se a estratégia da rede social trata-se apenas de uma forma de fazer com que os usuários permaneçam mais tempo conectados. O WSJ chega até a comparar os planos a um programa de pontos por fidelidade, onde a moeda seria ganha e gasta na própria plataforma ou trocada por dinheiro - em forma de produtos e serviços - com parceiros comerciais.
Como se pode ver, existe muita especulação e poucos fatos sobre a incursão do Facebook no mundo do blockchain. Um ponto, entretanto, me chama a atenção. A tecnologia, especialmente quando se trata de criptomoeda, tem em sua essência o fato de ser aberta e descentralizada. Como os usuários reagiriam ao saber que, neste caso, uma Big Tech controlaria a operação? Isto sem contar que aplicações descentralizadas ainda carecem de interfaces mais amigáveis e que, ultimamente, têm se aumentado as ocorrências de ataques de hackers nestas plataformas, algo que ocasionaria mais dores de cabeça para a rede social, atualmente na mira de governantes de todo o mundo em função do grande poder que possui e dos recentes acontecimentos negativos atrelados a ela. Ou seja, a postura do Facebook é de cautela, mas é bem provável que, muito em breve, tenhamos novidades.