Quartetos

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O quarteto é um grupo de quatro músicos – assim como existe o duo, trio, quinteto, sexteto e pequenas orquestras – que executam Música de Câmara. Nem todo quarteto faz Música de Câmara ou é um conjunto de Câmara, os Beatles, por exemplo, eram uma banda de rock. Ou seja, o repertório da Música de Câmara é erudito e, mais especificamente, o quarteto de cordas tornou-se desde o século XVIII uma das formações prediletas dos compositores, pela possibilidade de escrever peças com texturas mais enxutas do que para grandes orquestras e ao mesmo tempo com os principais instrumentos de cordas da orquestra. Haydn é conhecido como o pai do quarteto de cordas, antes dele compunha-se para formações de cordas sem a consciência de estar escrevendo para um gênero que viria a se estabelecer como uma das formas mais sofisticadas na música e que geralmente têm a estrutura de peças como sinfonias e concertos. Beethoven, por exemplo, escreveu 16 quartetos de cordas. O quarteto de cordas pode ter variações como a inclusão de mais instrumentos, por exemplo, colocando-se mais dois violinos será então um sexteto de cordas; há também o quarteto de cordas com um piano adicionado ou no lugar de um violino, etc, mas o tradicional quarteto de cordas é formado por dois violinos, uma viola e um violoncelo.

A lista de quartetos de cordas é grande, como os famosos Kronos e Borodin. No Brasil também há vários excelentes quartetos e nesta sexta-feira, às 20h na Sala Cecília Meireles se apresentará um dos melhores, o Quarteto Radamés Gnattali, vencedor de vários prêmios, indicado para o Grammy Latino 2012 e que já gravou os 17 quartetos de Villa-Lobos. O Quarteto que dá ênfase ao repertório de música brasileira é formado por Carla Rincon, violino, Betina Stegmann, violino; Renato Bandel, viola e Jed Barahal, violoncelo. A escolha do repertório para este concerto não poderia ser mais feliz, uma vez que além do belíssimo quarteto de Debussy, incluirá quartetos de cordas de três compositores brasileiros que estão entre os melhores da nossa música: Villa-Lobos, Santoro e Tacuchian.

O Quarteto nº 5 “Afrescos”, de Tacuchian dedicado ao Quarteto Radamés Gnattali, tem nomes em seus movimentos que sugerem uma música programática, porém, nas palavras do compositor: “Nenhum de meus cinco Quartetos é ‘descritivo’. Eu diria que eles são ‘sugestivos’, porque a natureza formal do gênero, quanto à estrutura e caráter, é o que predomina em cada obra”. Como em parte da obra de Tacuchian, compositor de origem armênia, este quarteto surgiu de inspirações nas artes plásticas incluindo vitrais, tapeçarias, azulejos.

O mesmo ocorre na peça “Aquarela”, para piano, outra de suas obras que evocam algo além de uma música absoluta, com toques impressionistas misturados às articulações que pontuam a fluidez da música, remetendo a ideias sugestivas de imagens. O Quarteto nº 5 segue esta linha, com seus quatro movimentos relacionados a lugares com afrescos: “A casa de Menandro”, casa do dramaturgo grego em Pompeia; “A Catedral Etchmiadzin”, construída no século IV, até hoje um importante centro religioso para os armênios; “Cimabue e Giotto em Assis”, os pintores italianos fizeram grandes afrescos na Basílica de São Francisco de Assis; e o último movimento, “Cândido Portinari”, representa a terra natal e as influências que a pintura brasileira exerce no compositor.

Tenho assistido a concertos maravilhosos na Sala Cecília Meireles, que me fazem acreditar que pelo menos em música vamos driblar esta crise econômica, então vamos celebrar a música erudita, sacudir a poeira, desligar a televisão e ir assistir a mais esta preciosidade nesta sexta-feira.