O fiasco dos economistas (privados e do Copom)
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Uma carta assinada por mais de 500 dos mais renomados economistas brasileiros, que já passaram por altos postos da Repúblicas nos mais diferentes governos, inclusive na Ditadura militar, banqueiros e empresários condenando as políticas negacionistas do governo Bolsonaro em relação à Covid-19 e cobrando urgência na compra de vacinas e na acelerada aplicação na população, causou certo frisson no país neste fim de semana.
Como a maioria tinha apoiado a candidatura Bolsonaro e avalizou a agenda “reformista” apresentada pelo “Posto Ipiranga”, Paulo Guedes, o movimento me chama a atenção pelo atraso. Onde estavam esses economistas e empresários que não perceberam as ações equivocadas do governo Bolsonaro em relação ao Meio Ambiente já em 2019 e agravadas durante os incêndios na Amazônia e no Pantanal, no ano da pandemia de 2020 que ainda não acabou e está longe de acabar?
Vá lá: alguns empresários e os presidentes dos três maiores bancos privados (Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) lançaram uma carta no ano passado defendendo a importância da preservação do meio ambiente como indispensável à confiança do empresariado mundial na economia brasileiro. O conceito de ESG (da sigla em inglês) que define empresas social ambientalmente responsáveis se aplica às grandes economias.
Se o governo brasileiro se lixa para a preservação da Amazônia e, ao contrário, libera desmatamentos, desmobiliza máquinas de fiscalização do Ibama (ICMBIO) e da Polícia Federal e abre a mineração em terras indígenas, como exportadores brasileiros do agronegócio podem não ter a imagem de seus produtos afetadas pela desconfiança do consumidor europeu, americano ou japonês, ainda que não seja produzido no Pantanal ou Amazônia? O descrédito do governo Bolsonaro não pesou só na forte desvalorização do real em 2020 e que prossegue este ano. Os custos dos empréstimos ao Brasil tomados por bancos nos mercados internacionais incorporam essa desconfiança.
Só estranho que a urticária em relação ao desastre sanitário, político, econômico e gerencial do governo Bolsonaro tenha demorado tanto a se manifestar junto a esse pessoal. Só por que estamos à beira da trágica cifra de 300 mil mortos? (os cínicos que defenderem o enxugamento do déficit do INSS – atropelado no ano passado – já fizeram contas e só não tiveram coragem de mostrar: se 200 mil idosos que morreram não tiverem herdeiros habilitados à aposentadoria, haveria grande redução de despesas...meu Deus, a falta de empatia do presidente Bolsonaro dá a impressão de que reflete a ideia...).
Qual Carolina, Copom nada viu em janeiro
Pior mesmo foi o comportamento do seleto grupo de economistas que integram o Comitê de Política Monetária do Banco Central. Oficialmente é um grupo de nove economistas (ou com formação em economia), comandado pelo presidente Roberto de Oliveira Campos Neto, e por oito diretores das mais diversas áreas do BC. O que eles não viram na reunião de 20 de janeiro de 2021 – quando decidiram, por unanimidade, manter a taxa Selic em 2% ao ano – que aconteceu nos 45 dias que separaram a reunião da semana passada, 17 de março, que promoveu elevação recorde da taxa (37,5%), de 2,00% para 2,75% e já anunciou um provável bis de 0,75 p.p. em 5 de maio?
Em 20 de janeiro, o comunicado do Copom assinala que na visão dos economistas do mercado (a referência é a Pesquisa semanal Focus,que o BC colhe às 6ª feiras junto aos departamentos econômicos de 100 instituições financeiras, consultores, e institutos de pesquisa) com visão prospectiva sobre inflação, PIB, dólar, emprego, exportação/importação e seus reflexos nas taxas de juros, além de projeções fiscais) “o IPCA, que é a inflação oficial, seria de 3,6% em 2021 e de 3,4% em 2022, e as projeções para a inflação de preços administrados são de 5,1% para 2021 e 3,0% para 2022”.
Guinada de 180 graus
No item 5, o Copom considera em janeiro que “a recente elevação no preço de commodities internacionais e seus reflexos sobre os preços de alimentos e combustíveis implicam elevação das projeções de inflação para os próximos meses” (...) mas “apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, ainda que tenham se revelado mais persistentes do que o esperado”
No comunicado de 17 de março, com íntegra conhecida na manhã de 3ª feira, 23 de março, o Copom dá quase uma guinada de 180 graus. Em janeiro ainda via, apesar da recuperação acentuada em alguns setores, forte ociosidade na economia como um todo, em especial no emprego. Em 17 de março, como destacou o Departamento Econômico do Bradesco “chamou atenção para o reduzido grau de ociosidade da economia e piora no balanço de riscos”.
Nas palavras do Copom, há incertezas, pois “os últimos dados disponíveis ainda não contemplam os possíveis efeitos do recente e agudo aumento no número de casos de Covid-19, e que assim há bastante incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia no 1º e 2º trimestres deste ano”. (...) “A visão prospectiva continua sendo a de recuperação, favorecida por avanços na vacinação e por um mercado de trabalho forte e por pressões localizadas de demanda, apesar do aumento do desemprego”.
Mais do que uma redução da ociosidade da economia – não percebida em 45 dias (os cenários prospectivos são mais negativos até junho) – o que assusta foi que a turma de economistas do mercado e do Banco Central de repente foi surpreendida pela explosão da inflação (há muito advertimos aqui que a escalada do dólar causou a absurda inflação dos alimentos em 2020 no “celeiro do mundo” e agora em 2021 a escalada dos preços dos combustíveis.
Em 17 de março, o Copom viu o que não destacara em 20 de janeiro: “Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,5% para 2021 e 4,4% para 2022” (resumindo a expectativa da Focus).
Em tempo: esse colunista podia perfeitamente estar no time dos economistas. Uma falta de competência na prova de Matemática no vestibular de Economia da UFRJ (fui um dos 60% que tiraram Zero, a maior nota, de um engenheiro formado foi 6) me levou a cursar Comunicação na mesma UFRJ (fiz vestibular para as duas em 1969, não era unificado; na ECO eram 550 candidatos para 50 vagas, passei em 2º lugar). Virei jornalista de economia, começando no JB, em 1972 e acompanhei a carreira pública e privada dos vários signatários.