O OUTRO LADO DA MOEDA
Itaú reduz projeção do PIB de 2021 e 2022
Publicado em 12/08/2021 às 16:50
Alterado em 12/08/2021 às 16:50
Apesar de apontar o avanço da vacinação, que “deve permitir uma volta à normalidade econômica ainda neste ano”, embora com o risco de “surgimento de variantes do vírus que afetem a eficácia das vacinas aplicadas”, o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú divulgou nesta 5ª feira, 12 de agosto, o “Cenário-Macro Brasil” de agosto revendo, para baixo, a previsão de crescimento do PIB de 2021 (de 5,8% - que era bem mais alta que a média do mercado, que está em 5,3% - para 5,7%) e de 2022, de 2% para 1,5%.
O Itaú projeta inflação de 6,9% este ano e de 3,9% em 2022. Para conter a inflação e o câmbio, a taxa Selic (hoje em 5,25% ao ano) subiria a 7,5% em dezembro, quando o dólar fecharia a R$ 4,75, com forte queda frente aos atuais R$ 5,25. Em dezembro doe 2022 o dólar fecharia em R$ 5,10. Em função do PIB menor e da alta inflação maior, o Depec Itaú revisou também as projeções dos déficits primários para 1,4% do PIB em 2021 (ante 1,8%) e 0,7% do PIB em 2022, e que a dívida bruta alcance 80,9% do PIB em 2021 e 81,1% em 2022, depois de chegar a 88,8% em 2020.
“Apesar da melhora quantitativa na estimativa para o resultado primário, acreditamos que os riscos em torno da manutenção da disciplina fiscal estejam aumentando, seja pela renúncia de receitas prevista na proposta de mudança na tributação de renda e lucro, seja pelas maiores dificuldades de conciliar o cumprimento do teto de gastos com a aceleração da inflação, aumento inesperado do gasto com precatórios e pressões para aumento do Bolsa Família”, adverte o banco.
Fatores de crescimento de 2021 se esgotam em 22
Ao justificar a mudança para baixo no PIB deste ano, o Itaú disse ainda esperar “crescimento expressivo do PIB no 3º trimestre de 2021, mas ajustou para baixo a projeção: 0,9% contra 1,2% na previsão de junho e julho e manteve a expectativa de que o PIB cresça 0,2% no 2º trimestre, com ajuste sazonal. O resultado do PIB no 2º trimestre será divulgado pelo IBGE em 1º de setembro.
O Itaú assinala que “a principal contribuição positiva no 3º trimestre virá dos setores de serviços altamente sensíveis à mobilidade social, que vêm se recuperando”. Mas lembra que “a produção industrial tem crescido menos do que esperávamos devido à falta de insumos, o que gera restrições do lado da oferta, principalmente na indústria automobilística”.
De fato, segundo o IBGE divulgou nesta 5ª feira, o segmento de serviços acompanhado mensalmente pelo Instituto, junto com a pesquisa do Comércio Varejista (ambos são uma fração do total de serviços que só é captado globalmente nas Contas Nacionais Trimestrais), avançou 1,7% em junho, na série com ajuste sazonal, acumulando alta de 4,4% nos últimos três meses. Com isso, o setor de serviços ficou 2,4% acima do nível anterior à pandemia (fevereiro de 2020) atingindo o maior patamar desde maio de 2016, mas ainda abaixo do pico de 2014.
No acumulado do ano o crescimento foi de 9,5% e a taxa em 12 meses (que incorpora a queda de junho de 2020) sobe a 0,4%. Nesses 12 meses houve avanço em todas as 27 unidades da federação. O principal impacto regional ocorreu em São Paulo (9,9%), seguido por Minas Gerais (14,7%), Rio de Janeiro (7,1%) e Santa Catarina (17,1%). Já o Índice de atividades turísticas teve avanço de 11,9% em junho. Mas o setor precisa crescer 29,5% para retornar ao patamar de fevereiro de 2020.
O Itaú assinala que projetou a “desaceleração do crescimento do PIB para 1,5% em 2022 (ante 2,0%), à medida que os fatores que impulsionaram o crescimento deste ano se esgotam”.
Vale notar que em apresentação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deste dia 12 de agosto no Congresso Nacional da Abrasel, as taxas de crescimento do Brasil para 2021 e 2022 estão bem abaixo da de seus pares no mundo.
Juros altos freiam o PIB
E o Depec Itaú completa a explicação: “A revisão decorreu principalmente da nossa expectativa de juros mais elevados, o que deve levar a política monetária a ser restritiva para a atividade econômica no ano que vem. Além disso, acreditamos que a política fiscal será também contracionista, mesmo levando em conta o novo programa de transferência de renda, pois o gasto público primário total deve recuar para nível próximo ao observado em 2019 em termos reais. Vemos desaceleração do setor industrial global e queda de preços de commodities ano que vem”.
“Por último, no próximo ano a atividade econômica não se beneficiará mais do impulso advindo da reabertura do setor de serviços, algo que, em nossa visão, ficará restrito ao 2º semestre deste ano”, conclui a análise da economia.
Alta da gasolina faz IPCA superar 9%
O LCA Consultores calcula que o último reajuste de cerca de 3,5% na gasolina nas refinarias, valendo a partir desta 5ª feira, vai impactar em 10 pontos base o IPCA (o indicador oficial de inflação), distribuídos entre agosto e setembro. Na projeção da LCA o IPCA subiria 0,67% em agosto e 0,59% em setembro.
Como a taxa acumulada da inflação em 12 meses está em 8,99% e foi de 0,24% em agosto de 2020, ela subiria para 9,46% este mês. Em setembro de 2020 a taxa de 0,64%, superior à esperada para este ano, a taxa em 12 meses cederia ligeiramente para 9,4%.
A queda mesmo só viria em outubro (0,86% em 2020). Mas para isso é preciso que a previsão do Itaú em relação à escalado dos juros e a consequente queda do dólar se confirmem. A LCA está prevendo que a Selic feche o ano em 8%.
Isso viria de duas altas seguidas de 1 ponto percentual na Selic em 22 de setembro e 27 de outubro, quando atingiria 7,25%, completados com uma elevação de 0,5% p.p. em 7 de dezembro.
Recibo de erros do Copom
Ou seja, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) estará passando um atestado de que errou feio no manejo da política monetária.
Se tivesse adotado logo, em março (quando surpreendeu e elevou a Selic em 0,75 p.p.) a estratégia radical de elevar a Selic em 1 p.p. por reunião, o serviço de ancoragem de expectativas para 2022 e 2023 já estaria bem encaminhado; o câmbio não teria se desgarrado tanto e a pressão sobre os preços das commodities agrícolas e minerais teria sido mais atenuado.
Ao ser cauteloso, o Copom acabou correndo atrás do rabo da inflação. Se tivesse sido mais audacioso, produziria inflação mais palatável que os 7% esperados, depois de atravessar vários meses acima de 8% e passar dos 9%.