LCA vê inflação em 10% e queda de 1% no PIB

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Por Gilberto Menezes Côrtes

Gilberto Menezes Cortes

Os efeitos negativos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, cuja invasão, seguida de sanções comerciais e financeiras à Rússia de Vladimir Putin, afetou os preços de alimentos como o trigo e milho (os dois países são os maiores produtores da Europa), de minerais e combustíveis derivados de petróleo e gás, levaram a LCA Consultores a revisar, para pior, os cenários alternativos para a economia brasileira em 2022 e 2023. Antes da guerra, a LCA operava com um cenário base e outro benigno.

No cenário base, desenhado antes da crise russo-ucraniana (que parece longe de um cessar-fogo e mais ainda da volta de um cenário de paz e de levantamento das sanções à Rússia), a consultoria previa inflação de 7,5% este ano e de 3,8% em 2023, com crescimento de 0,7% este ano e de 1% em 2023. A Selic fecharia este ano em 12,75% e em 9,25% em 2023. Mesmo após a guerra, a LCA acredita que o cenário tenha 65% de probabilidades de ocorrer.

No cenário benigno, ao qual credita 5% de possibilidades, a consultoria previa inflação de 5,8% este ano e 2,7% em 2023. A Selic ficaria em 12,25% este ano e em 9% em 2023. Pode-se dizer que suas estimativas estavam mais próximas da visão otimista do Ministério da Economia quando elaborou o Orçamento Fiscal de 2022.

Sobretudo em relação ao PIB, que teria crescimento de 2,1% este ano e 2,7% no ano que vem. Vale dizer que após a guerra, o Ministério da Economia já reviu a projeção de crescimento do PIB de 2022 para 1,5%, mas ainda bem acima da previsão do Banco Central, de 1%, feita semana passada.

 

Cenário adverso tem 30% de possibilidade

A LCA explica que a persistência da inflação já a havia levado a ajustar as projeções do cenário internacional base – “que passou a incorporar mais inflação global no curto prazo, ajuste maior e mais rápido das condições monetárias globais e crescimento um pouco mais fraco da economia mundial. Esse cenário base pressupõe gradativo abrandamento de sanções econômicas e uma diluição de gargalos de produção e congestionamentos logísticos. Assim, a inflação global tenderia a desacelerar ao longo da 2ª metade do ano, limitando a intensidade do aperto das condições monetárias globais”.

Já a hipótese considerada no cenário adverso, que tem 30% de possibilidades de ocorrer, “é de que a inflação global demorará ainda mais a refluir, mesmo que o conflito russo-ucraniano não venha a escalar para uma guerra mais prolongada e/ou mais ampla. Em resposta, as autoridades reforçariam o aperto monetário nas economias centrais; os juros em nível francamente restritivo levariam essas economias a sofrer uma desaceleração mais pronunciada na segunda metade do ano, chegando a registrar um breve período recessivo na virada de 2022 para 2023”.

“Esse cenário global mais adverso tenderia a exacerbar riscos na economia brasileira. Isso porque, também aqui, a inflação e os juros tenderiam a ficar mais altos, provocando esfriamento econômico mais pronunciado”.

Neste cenário, a inflação deste ano seria pior que a de 2021 (10,06%), acumulando 10,50% (estourando mais uma vez a meta do Banco Central, que é de 3,50% + 1,50 ponto percentual de tolerância = 5%) e o estouro se repetiria em 2023, quando a inflação medida pelo IPCA atingiria 6,5% (a meta é de 3,25% + 1,50 p.p. = 4,75%). E o PIB cairia 1% este ano, repetindo o tombo em 2023. Além da perturbação nos preços relativos causados pela inflação dos combustíveis, dos minérios e dos alimentos, que reduziria a renda real da população e a capacidade de consumo das famílias, a elevação dos juros básicos para 14,50% este ano e 13,75% em 2023, traria recessão à economia.

 

Governo terá terra arrasada em 2023

Nesse contexto, adverte a LCA Consultores, “o risco de conturbação política e social tenderia a se acentuar no curto prazo, enfraquecendo a perspectiva de que o governo eleito em outubro de 2022 venha a ter condições de governabilidade para promover ajustes e reformas que criem uma perspectiva crível de consolidação fiscal”.

Diante do agravamento da situação mundial e dos gatilhos da situação fiscal deixados para 2023 (quando não está prevista - até aqui - a renovação do Auxílio Brasil de R$ 400 às famílias mais pobres, antes atendidas pelo Bolsa Família) a consultoria prevê dificuldades para a gestão do governo que tomará posse em 1º de janeiro de 2023. Vejam os pontos destacado pela LCA:

“As projeções do cenário adverso continuam a pressupor um repique cambial em 2022, que não refluiria de maneira significativa no ano que vem. Esse repique viria na esteira de um aumento da aversão ao risco, associada a eventos externos (como o ajuste restritivo da política monetária do FED) e internos (como o acirramento de riscos políticos e fiscais). O repique cambial tenderia a intensificar as pressões de custos vindas do exterior, mantendo a inflação em trajetória claramente descolada das metas (de inflação)”.

“Com a inflação medida pelo IPCA apresentando elevação superior a 10% em 2022 e próxima de 6,5% em 2023, a política monetária teria de ser apertada de forma ainda mais intensa e ser mantida em terreno claramente restritivo por mais tempo”.

“Nesse cenário com características mais adversas, projetamos contração de 1% do PIB tanto em 2022 como em 2023. Além da demanda externa mais fraca – em função do crescimento mundial mais fraco que projetamos nesse cenário adverso –, outros fatores provocariam uma contração da atividade doméstica, com destaque para: as condições monetárias mais restritivas, o baixo dinamismo do mercado de crédito, a baixa confiança privada e a debilidade do mercado de trabalho.

 

Bradesco vê força no emprego formal

Ao analisar a criação líquida de 328 mil vagas com carteira assinada, em fevereiro, acima dos 220 mil esperados pelo mercado, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco apontou que “o resultado, acima do esperado, refletiu principalmente o ritmo mais favorável de admissões”.

Descontados os efeitos sazonais, o saldo do mercado de trabalho formal foi de 200 mil, o que representa uma aceleração em relação ao ritmo observado em janeiro (+130 mil). Todos os setores econômicos registraram contratação líquida no período, com destaque para o setor de serviços.

Para os próximos meses, o Bradesco diz que “os indicadores conhecidos até o momento sugerem continuidade da expansão do emprego formal, o que deve dar suporte ao consumo das famílias”. É um contraponto à visão pessimista

 

O que não tem remédio...

Sabe aquele velho ditado: “O que não tem remédio, remediado está”? Pois bem, antes que se consume - a partir de amanhã - o reajuste recorde de 10,9% nos remédios (um dos maiores desta década), vale a pena dar uma passada na farmácia para fazer estoque para os próximos três meses. Com a ajuda do cartão de crédito, isso permite parcelar a compra, garantindo uma economia.

Segundo o Sindusfarma, os preços de medicamentos aumentaram, em média, 3,75% em 2020 e 2021.