O OUTRO LADO DA MOEDA
Good news? Bradesco vê PIB de 1% no 2º tri
Publicado em 12/08/2022 às 14:50
Alterado em 12/08/2022 às 15:51
Se alguém ainda tem dúvida de que o governo Bolsonaro preparou uma agenda de boas notícias para irrigar a largada da campanha eleitoral no rádio e TV, com o pagamento de duas parcelas do Auxílio Brasil de R$ 600 e mais o Vale-gás, e o desembolso de duas parcelas do vale-caminhoneiro de R$ 1 mil na próxima semana, a nova baixa do diesel pela Petrobras (que deve vir acompanhada de novas quedas da gasolina, com peso maior no IPCA), serve para confirmar. E o IBGE deve dar também sua contribuição, com a divulgação do PIB do 2º trimestre, em 1º de setembro. O Bradesco prevê alta de 1%.
A previsão do Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco foi feita nesta 6ª feira, após a surpresa negativa da Pesquisa Mensal do Comércio de junho apontar queda de 1,4% nas vendas de junho, o mesmo IBGE apontou crescimento real (descontada a inflação) de 0,7% sobre maio (acima dos 0,4% previstos pelo mercado) na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de junho. Com esse resultado, o setor avançou 1,1% no 2º trimestre, chegando ao 8º trimestre seguido de expansão, ficando 7,5% acima do período pré-pandemia, segundo o Bradesco.
Com os principais indicadores do 2º trimestre já conhecidos, o Depec Bradesco prevê alta do PIB a redor de 1% no período. Já a LCA Consultores projeta para o IBC-Br de junho - espécie de prévia do PIB, que o Banco Central divulga no próximo dia 15 - um crescimento, na margem, 0,3%, devido ao fraco desempenho do comércio e da indústria, enquanto o setor de serviços seguiu em alta. Em maio, a variação do IBC-Br tinha sido de -0,1%.
Dá para confiar nos dados do IBGE?
A Justiça Eleitoral baixou normas mais rígidas para proibir a propaganda política disfarçada nos portais dos ministérios e empresas e autarquias federais. Mas há formas sutis de driblar o Tribunal Superior Eleitoral. O site do IBGE está evitando indicadores negativos. Só estão sendo destacados fatos positivos na economia e na área social. Mas não estaria havendo baixa qualidade nas pesquisas mensais do IBGE, quem sabe para produzir rapidamente resultados favoráveis, sobretudo no setor de serviços que representa mais de 60% do PIB?
O IBGE tem duas pesquisas de serviços. Nas Contas Nacionais Trimestrais sai 100% do setor de serviços que representou 69% do PIB em 2021. Engloba Comércio (em torno de 15% do PIB, que tem a PMC mensal), Atividades financeiras e seguros (7% do PIB), atividades imobiliárias (8% do PIB) e os Serviços (telecomunicações, transporte e armazenagem, serviços prestados às famílias, como salões de beleza, assistência médica hospitalar, lazer, turismo e hospedagem e serviços de bares e alimentação, que tem a PMS mensal, com cerca de 40% do PIB).
Essa PMS, realizada a cada mês, quem sabe porque as atividades estão voltando à normalidade com mudanças dos agentes pesquisados, ou pela pressão, está apresentando sucessivas revisões (para baixo) nos indicadores. Em junho, juntamente com a estimativa de crescimento de 0,7% no volume de serviços, o IBGE divulgou fortes revisões (para menos) em vários meses anteriores: em fevereiro passou de 0,5% para -0,1%; em março de 2,0% para 1,3%; em abril de -0,1% para -0,2%; e em maio de 0,9% para 0,4%. Por isso, o crescimento acima do esperado em junho. O nível de confiabilidade dos dados do IBGE caiu muito. Tudo parece feito para esconder que os Os dados do 2º semestre não serão bons. Mas, aí o eleitor será adulado por dinheiro no bolso.
Ciranda sobre o Tesouro Nacional
Vejam os casos do Banco do Brasil e do BNDES, que divulgaram ontem os resultados do 2º trimestre com gordos lucros (em boa parte resultado de venda de ativos ou ganhos em cima do Tesouro Nacional, pelos altos rendimentos dos títulos públicos em carteira, valorizados pela escalada da taxa Selic).
No 1º trimestre do 1º ano do governo Bolsonaro, o BB teve bloqueada pelo presidente uma propaganda que procurava conquistar o público mais jovem, porque incluía muitos negros e um público GLTB+. Pois ontem, ao divulgar o balanço do 2º trimestre, com lucro líquido recorde de R$ 7,803 bilhões (superando Itaú e Bradesco), em uma dúzia de fotos, o site do BB primava pela diversidade e predominância de jovens pretos e pardos (que são 56% da população brasileira). Em uma foto, a sutileza da mão da gerente branca cumprimentando uma mão negra, marcava a guinada eleitoreira do banco.
No BNDES, com lucro de R$ 11,7 bilhões, aumento de mais de 120% sobre o 1º trimestre, há um aviso de que, devido ao período eleitoral, estão restritas mensagens ufanistas. Mas dois fatos pesaram no lucro extraordinário: a venda da fatia da Eletrobrás engordou o caixa em R$ 1,5 bilhão e a venda conjunta da Oi para as operadoras Tim, Claro e Vivo permitiu à Oi quitar R$ 4,6 bilhões de dívidas, com a reversão de provisões de R$ 1,8 bilhão para devedores duvidosos. Houve ainda ganho fiscal (contra a Receita Federal) de R$ 3,9 bilhões. Os três itens somam R$ 7,2 bilhões (61,5% do lucro). E ganhos de R$ 4,7 bilhões vieram de dividendos e juros sobre capital próprio pagos pelas empresas das quais o BNDES é sócio, a começar pela Petrobras. Tudo somado, seriam R$ 11,9 bilhões, mais que o lucro líquido reportado!
E o BNDES ainda lucrou com a alta dos juros da Selic (nos títulos do Tesouro Nacional em que aplica - sua carteira de títulos públicos somava R$ 106,2 bilhões em junho, um aumento de 49,8% sobre o junho de 2021, com ganho de R$ 5,7 bilhões no 2º trimestre deste ano. E o BNDES deve ao Tesouro Nacional por aportes recebidos desde o governo Dilma. Ciranda pela qual pagam os sócios-contribuintes do TN na arrecadação de impostos.
O saudoso economista Mário Henrique Simonsen dizia que o descaso do país em formar poupança (para investimento) - pois os governos consumiam quase tudo em gastos correntes - podia ser comparado à irresponsabilidade de um chefe de família que, em vez de procurar garantir o futuro patrimonial e a qualificação dos filhos no mercado de trabalho, mediante ensino de qualidade, vendia o apartamento e ia passar férias com a mulher na Europa.
A 'Fábrica de Projetos' do BNDES
Como banco de fomento criado em 1953 por Getúlio Vargas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (que acrescentou o S, de Social no governo Sarney) seria destinado a incentivar a expansão da de novos projetos em infraestrutura do país, incluindo novas fábricas, como siderúrgicas, refinarias e petroquímicas. O financiamento a companhias estrangeiras ficou vedado inicialmente, pois caberia às matrizes das multinacionais fazerem investimentos no país por conta própria, incluindo o crédito financeiro.
No governo JK houve muitos investimentos, sobretudo na indústria automobilística. Mas a verdade é que as matrizes (sobretudo das montadoras europeias) trouxeram para o Brasil, como “investimento novo” velhas matrizes de linhas de produção que foram desativadas quando o Plano Marshall carreou bilhões de dólares para a reconstrução e revitalização da indústria europeia arrasada pela 2ª Guerra (sobretudo Alemanha e Itália, mas também Inglaterra e França). Vencedores da guerra pelo lado Ocidental, os Estados Unidos ficaram, momentaneamente sem parceiros no jogo mundial do comércio livre.
O BNDES do governo Bolsonaro, em vez de fomentar novos investimentos que agregam riquezas e renda para o PIB e melhoram a produtividade da economia, criou estranho neologismo para qualificar sua ação como corretor na venda de negócios já prontos, em especial sob controle estatal. A atividade foi batizada de “Fábrica de Projetos”. E o banco teve a cara de pau de listar entre os êxitos da “Fábrica de Projetos (...) a conclusão do processo de privatização da Eletrobras, movimentando R$ 33,68 bilhões”. São listados ainda vendas de ativos estatais e concessões para modernização de infraestrutura já existente.