O OUTRO LADO DA MOEDA
Leite ou gasolina, o que afeta as urnas?
Publicado em 16/08/2022 às 14:05
A nova redução no preço da gasolina das refinarias da Petrobras, a 3ª desde a posse de Paes de Andrade na presidência, está acompanhando as quedas dos preços do petróleo e dos combustíveis no mercado internacional. Com novas notícias no sentido da baixa (a forte desaceleração da economia chinesa, a ponta do Banco da China ter reduzido os juros; e a possibilidade de o Irã voltar a ofertar óleo no mercado a partir da reabertura do acordo nuclear paralisado desde 2015), não será surpresa se vierem novas baixas até a eleição.
As notícias no sentido baixista podem neutralizar naturais pressões de alta dos combustíveis quando o outono-inverno no Hemisfério Norte aumenta a demanda, sobretudo para aquecimento doméstico. Por enquanto, explicou um conselheiro da Petrobras, as reduções dos preços nas refinarias estão dentro do figurino técnico, sem qualquer interferência política para melhorar a percepção do eleitorado em relação ao presidente Jair Bolsonaro.
Mas a pergunta que não quer calar, no dia da largada das campanhas eleitorais no rádio e na TV, é: o que vai pesar mais na decisão do eleitor nas urnas: a baixa temporária dos preços da energia elétrica e dos combustíveis, reforçada por mesadas a caminhoneiros, taxistas e beneficiários do Auxílio Brasil, além do Vale-Gás, que, por enquanto, acaba no fim do ano; ou a continuada elevação dos preços dos alimentos?
Com a nova baixa de 4,85% no litro da gasolina nas refinarias (o preço médio caiu de R$ 3,71 para R$ 3,53), bancos e consultorias estão fazendo cálculos para medir o impacto na inflação de agosto (a ser conhecida em 9 de setembro) e na de setembro (o IBGE divulga o resultado em 11 de outubro, após o 1º turno, em 2 de outubro). O Itaú já estimava em seus cálculos novas baixas nas projeções, porque, segundo a Petrobras, os preços domésticos estavam acima dos preços internacionais. A alta de 1,46% no dólar hoje pode afetar o processo de baixa.
Pelo sim pelo não, o diesel, produto mais vendido no país, que tem menos impostos que a gasolina (fortemente desonerada no caminho das refinarias até as bombas dos postos de abastecimento), não sofreu alteração e o litro do diesel segue mais caro que o da gasolina comum - R$ 5,19 contra R$ 3,53)
De qualquer forma, o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú estima que o reajuste nos preços da gasolina terá um impacto de -15 bps na inflação (-3 bps em agosto e -12 bps em setembro). O Itaú prevê que o IPCA feche o ano em 7%, assim como o Santander, que baixou para 5,5% o IPCA de 2023.
Já a LCA Consultores prevê impacto de 0,1258 ponto percentual no IPCA. A consultoria decompôs os impactos diretos da gasolina: no IPCA de agosto, que o IBGE divulga dia 9 de setembro, a gasolina terá redução de 11,55%; no IPCA-15 de setembro, que o IBGE divulga dia 27 de setembro, a redução da gasolina será de 6,02%; no IPCA cheio de setembro (que só será conhecido dia 11 de outubro, após o 1º turno), o impacto até aqui é de uma baixa de 1,38%. Já o IPCA-17 de outubro, a ser conhecido dia 265 de outubro, a tempo de influir no 2º turno (se houver), seria, por enquanto, de uma baixa de 1,06%. Certamente o governo está maquinando outras baixas eleitoreiras.
Leite custa mais que a gasolina
O governo está fazendo um esforço tremendo para utilizar a alta extraordinária dos combustíveis em decorrência das sanções à Rússia pela invasão da Ucrânia como pretexto para compensar as altas violentas da alimentação, que não consegue controlar (vide 2020) pela ausência de política de formação de estoques reguladores. O estado de emergência abriu caminho para emendas marotas na Constituição e a criação de benesses bilionárias aos eleitores.
De modo indireto - e até injusto do ponto de vista social, pois quem está sofrendo mais com a escalada de mais de 14% nos alimentos são as famílias que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.424) - o governo quer compensar camadas da população com o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e os vales de R$ 1 mil a taxistas e caminhoneiros (que já foram contemplados com as baixas dos combustíveis).
Conversando ontem com taxistas em posto de Botafogo (Zona Sul do Rio), um disse que não há qualquer movimento para baixar as bandeiradas dos taxis (o mesmo se passa com os aplicativos, tipo Uber). Ou seja, tudo indica que os beneficiários vão recompor suas finanças, sem repasses aos consumidores em geral. O mesmo padrão de apropriação de margens feitas por industriais e grandes empresários quando o governo reduz impostos como o IPI, por exemplo. Boa parte da redução é embolsada a título de “recomposição de margens” = aumento de lucros. Sem garantia de mudança de voto.
Com grande estardalhaço, o presidente Jair Bolsonaro vai badalar a baixa do litro da gasolina comum a menos de R$ 6 (há dois meses chegou a ser vendida a quase R$ 9, mais caro que uma garrafa de cerveja). Acontece que o que as famílias dos eleitores dão mais importância para decidir o voto é a comparação com os preços dos alimentos. Hoje o litro de leite Quatá era vendido nas Lojas Americanas a R$ 5,99, e o litro do Piracanjuba a R$ 6,39 no Magazine Luiza.