Alta do petróleo faz o lucro da Petrobras subir 76,6% em 2022 para R$ 188,3 bilhões

Mérito do lucro recorde da empresa está ligado ao choque altista causado pelas consequências da guerra na Ucrânia

Por Gilberto Menezes Côrtes

Edifício sede da Petrobras no Centro do Rio

 

 

 

Apesar da pequena queda (6%) no lucro no 4º trimestre de 2022 (R$ 43,341 bilhões), a Petrobras teve lucro recorde de R$ 188,328 bilhões em 2022, com aumento de 76,6% sobre 2021. Em função da escalada dos preços do petróleo e derivados, em decorrência da guerra na Ucrânia, a companhia recolheu R$ 279 bilhões em impostos e contribuições à União. Só a área de Exploração & Produção garantiu lucro líquido de R$ 164,6 bilhões aos acionistas.

Mas na mensagem do diretor financeiro e de relações com os investidores, Rodrigo Araújo Alves, o executivo, que pertencia à administração do governo Bolsonaro, se vangloria do lucro, causado principalmente pela alta de 43% do Brent e dos preços dos derivados após a invasão da Ucrânia pela Rússia, com a distribuição de R$ 177,431 bilhões do lucro aos acionistas (94,21%), num aumento de 113% sobre a distribuição de 2021. Além de não ressalvar o não mérito da Petrobras a mensagem do CIO só mencionava cifras em dólares. Só às 21h59 dessa quarta (1º) a empresa divulgou os números em reais. A mensagem do diretor de saída parecia tentar enriquecer seu currículo no Linkedin.

Essa generosa política de distribuição, que visava mostrar uma falsa eficiência da gestão bolsonarista (quando o mérito do aumento do lucro estava ligado ao choque altista causado pelas consequências da guerra na Ucrânia) e assim reforçar a arrecadação de dividendos para o Tesouro Nacional, acionista controlador, junto com o sistema BNDES, de 51% do capital votante, será interrompida na gestão do novo presidente Jean Paul Prates. Ele só será efetivado no cargo na assembleia geral adiada para 27 de abril, juntamente com a nova diretoria e a nova composição do Conselho de Administração.

Os números da Petrobras reforçam o papel do diesel na geração de 55% do faturamento, cabendo à gasolina 21%. A queda da receita no 4º trimestre está muito ligada à baixa do preço médio do barril do Brent (o petróleo de referência do mercado), que caiu 12% no período, de US$ 100,85 para US$ 88,71.

A dívida bruta da Petrobras seguiu em queda a US$ 53,799 bilhões (US$ 41,516 bilhões na dívida liquida) auxiliada pela venda de ativos (considerada lucro a ser distribuído, generosidade que a nova administração vai interromper para bancar reinvestimentos na transição energética e na retomada dos projetos de fertilizantes, área vulnerável da agricultura brasileira na guerra da Ucrânia). A companhia se comprometeu a ampliar a distribuição dos dividendos quando o endividamento bruto caísse abaixo de US$ 60 bilhões.

E para mostrar que vai ficar relativamente pouco afetada, devido aos baixos custos da extração de petróleo no pré-sal (75% da produção) com a taxação temporária (quatro meses) de 9,2% no petróleo exportado, a estatal apresentou os custos comparativos da extração de petróleo nos ambientes exploratórios. O valor médio de realização do petróleo produzido no Brasil é de US$ 83,99.

Nos campos de terra e águas rasas, o custo por barril fica em US$ 18,77, com o afretamento dos equipamentos e a participações governamentais.

Nas áreas de pós-sal profundo e ultra profunda o custo total sai por US$ 13,72.

Na área do pré-sal, o custo com afretamento e participações vai a US$ 5,70 por barril.

No montante total, o custo da produção com participações governamentais e com afretamento aumentou para US$ 22,85, devido aos maiores gastos com as operações para assegurar maior integridade e segurança aos compôs exploratórios. Ainda assim, deixando enorme margem operacional à estatal.