A hora dos bombeiros nos juros

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Por Gilberto Menezes Côrtes

Após a falência do Silicon Valley Bank (16º dos Estados Unidos) e do Signature Bank, especula-se sobre seus efeitos nas decisões de política monetária do Federal Reserve Bank, no próximo dia 22. Numa 1ª reação, caiu por terra, antes mesmo da divulgação (hoje) do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), a probabilidade do Fed acelerar o aumento da taxa básica de juros para 0,5 p.p..

E o resultado do CPI veio dentro do esperado: subiu 0,4%, fazendo a taxa em 12 meses descer a 6%. Excluindo o núcleo de energia, que acumula 5,2% em 12 meses e a alimentação, que acumula 9,5% ao ano, a variação do CPI-ex em fevereiro foi de 0,5% levando o índice-ex em 12 meses a 5,5%.Diante do CPI, espera-se que o Fed mantenha em 0,25%, com sinalização de ciclo mais curto de aperto monetário.
No Brasil há duas leituras do episódio: 1 – do ponto de vista do mercado financeiro global, a falência do SVB poderá apertar as condições financeiras globais e agravar a restrição à oferta de crédito doméstico que se seguiu ao evento “Americanas” e gerar forte restrição à atividade econômica no país;

2 - o efeito na economia real seria uma desaceleração mais acentuada da inflação, a despeito da política fiscal expansionista e da desancoragem das expectativas em um horizonte de mais longo prazo, porque uma parte do mercado começa a acreditar nas possibilidades de efeito positivo do novo arcabouço fiscal do governo, a ser apresentado esta semana, antes da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), dia 22.

Os otimistas estão precificando quedas na taxa Selic (atualmente em 13,75% ao ano no 2º semestre deste ano. A LCA Consultores lembra que, conforme a leitura da Pesquisa Focus, divulgada 2ª feira pelo Banco Central, e encerrada na 6ª feira quando os reflexos da quebra de bancos nos EUA ainda não eram de todo precificados, que “os analistas continuaram a esperar a primeira queda dos juros em outubro, de 0,5 ponto percentual, para fechar o ano em 12,75%.

 

Um alívio no consignado

Se o Banco Central (Copom), que é independente, não atende aos pedidos de SOS da economia brasileira, pelo menos o governo Lula está agindo para aliviar os devedores para não engrossarem a lista dos inadimplentes que já chega a 70 milhões de pessoas físicas.

O Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS) realizou uma redução da taxa mensal do crédito consignado de 2,14% a.m. para 1,7% a.m. Pode parecer pouco, mas essa redução de 0,34 ponto percentual na taxa mensal faz o juro anual descer de 28,93% para 22,42%.

O consignado, com desconto em folha dos aposentados, é a taxa mais baixa do crédito pessoal no país. Motivo pelo qual muitos idosos se tornaram o esteio financeiro das famílias (e agora precisam ser socorridos pelo programa “Desenrola”, de perdão de boa parte dos juros).

O Brasil ainda não adotou largamente, como é comum nos Estados Unidos, o conceito de falência da pessoa física, situação de boa parte dos que serão socorridos pelo “Desenrola”, que segue enrolado para dar a partida. Com os juros brasileiros, quem se endivida no cartão de crédito seria falência certa.

 

Os extremos das taxas

Bem mais elevada, a taxa mensal do crédito pessoal não consignado, segundo o levantamento do Banco Central entre os dias 22 e 28 de fevereiro junto a 82 instituições financeiras variava de 0,71% ao mês no Banco Bradescard (com pouco acesso da clientela do Bradesco, que operava com juros mensais de 7,47%), a 21,93% a.m.! do JBCred (nada a ver com o JB, é uma financeira de São Paulo). A Crefisa, financeira da presidente do Palmeiras e patrocinadora do clube, Leila Pereira, tinha a 2ª maior taxa mensal 19,97% (789% ao ano!).

A taxa da Caixa Econômica Federal era de 2,44% ao mês. A do Itaú, de 4,33% ao mês. A do Santander de 5,27% ao mês e a do Banco do Brasil, de 4,19% ao mês. Por trabalhar com clientela hiper selecionada, o BTG cobrava 1,38% a.m.

Os membros do CNPS definiram ainda um teto para o cartão de crédito consignado que será de 2,62% a.m. (36,39% ao ano), contra 3,06% a.m. (47,97% ao ano).

As maiores taxas de juros do mercado são do cheque especial (que chegava a 10,12% a.m. no Banco Modal), e do cartão de crédito rotativo (22,62% a.m., da financeira OMNI), segundo o levantamento do BC.

No cheque especial, o Santander sobrava 8,25% a.m., o Bradesco, 8,41%, o Itaú, 8,69%. A CEF operava a 7,56% e o BB a 7,89%.

No rotativo do cartão, o Banco Bradescard cobrava 20,03% a.m., o Hipercard 16,75% a.m., o Santander, operava com 14,37% ao mês, o BB, com 14,32%, o Bradesco, com 14,68% e o Itaú a taxas de 15,64% ao mês, segundo o BC. Em termos anualizados são taxas que superam os 400% ao ano!

 

Reprecificação do Crédito Imobiliário

O cenário de juros altos e a incerteza no movimento de queda, levou o Santander, que alardeava ter as menores taxas de financiamento imobiliário entre os bancos privados a aumentar os juros para 10,49% + Taxa referencial (TR) ao ano. Dessa forma, o banco se iguala ao Bradesco e Itaú. A Caixa e o Banco do Brasil ainda estão cobrando abaixo de 10% + TR.