Goldman acha que Fed não sobe juros
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Os economistas da Goldman Sachs Research, o departamento de estudos e pesquisas do grande banco de investimentos americano, acreditam que a crise bancária dos Estados Unidos pode levar o Federal Reserve Bank a fazer uma pausa no rali de aumento dos juros na próxima reunião do Federal Open Market Committee, no dia 22, mesmo dia em que o Copom se reúne por aqui.
Com o espalhamento da crise de liquidez deflagrada pela quebra do Silicon Valley Banco e pelo Signature para bancos menores nos EUA, eles esperam que o aperto nos padrões de empréstimo entre essas instituições reduza o crescimento econômico este ano. Assim, eles reduziram em 0,3 ponto percentual a previsão de crescimento do PIB deste ano, para 1,2%.
Os bancos de pequeno e médio porte desempenham um papel importante na economia americana. Credores com menos de US$ 250 bilhões em ativos respondem por aproximadamente 50% dos empréstimos comerciais e industriais dos EUA, 60% dos empréstimos imobiliários residenciais, 80% dos empréstimos imobiliários comerciais e 45% dos empréstimos ao consumidor, de acordo com um relatório de economistas do Goldman Sachs. Manuel Abecasis e David Mericle.
O SVB e o Signature respondiam por apenas 1% do total de empréstimos bancários, as parcelas de empréstimos são de 20% para bancos com uma alta relação empréstimo/depósito, 7% para bancos com baixa participação de depósitos garantidos pelo FDIC e 4 % para bancos com baixa participação de varejo nos depósitos.
Os economistas esperam que os padrões de empréstimo sejam mais rígidos, em um grau maior do que durante a crise das pontocom, mas menor do que durante a crise financeira de 2008 ou o auge da pandemia. “Os padrões de empréstimos bancários já haviam endurecido significativamente nos últimos trimestres para níveis nunca antes vistos fora das recessões, presumivelmente porque muitas divisões de risco bancário compartilhavam os temores de recessão que se espalharam nos mercados financeiros”.
Corte do crédito é igual à alta do juro
Ao avaliar o impacto econômico de padrões de empréstimo mais rígidos, nossos economistas presumiram que os bancos pequenos com uma baixa parcela de depósitos cobertos pelo FDIC reduzem os novos empréstimos em 40% e outros bancos pequenos reduzem os novos empréstimos em 15%. Isso implica um arrasto de 2,5% no estoque total de empréstimos bancários, o que estudos econômicos sugerem que resultaria em um arrasto de aproximadamente 0,25 p.p. no crescimento do PIB em 2023.
Para os formuladores de política monetária do Federal Reserve (salvo se o estresse bancário mudar significativamente as perspectivas), seu objetivo para o ano será manter o crescimento da demanda abaixo do potencial, a fim de manter o reequilíbrio da oferta e da demanda nos trilhos. O aperto no crédito dos pequenos bancos teria o mesmo impacto na contenção da demanda que um aumento de 0,25-0,50 p.p. nos “fed funds”. Assim, os economistas do Goldman Sachs apostam em pausa nos aumentos do Fed para a reunião de 21 a 22 de março. Sem estresse, eles deixaram a previsão do Fed inalterada e agora esperam uma taxa de fundos de pico de 5,25-5,5%, mas observam o aumento acentuado da incerteza sobre o caminho do Fed.
Será que o Comitê de Política Monetária do Banco Central, ainda sem o arcabouço do ajuste fiscal em mãos, vai levar isso em conta na suas discussões?
Faltou combinar com os russos
Em 1958, a história entrou para o folclore do futebol. O técnico Vicente Feola traçava na prancheta várias jogadas para o ataque brasileiro aplicar contra a então enigmática equipe da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), que tinha sido campeã olímpica dois anos antes. O 3º jogo do Brasil marcou a estreia de Pelé e Garrincha, após empate de 0 x 0 com a Inglaterra. Lá pelas tantas, Manuel dos Santos, mais conhecido como Mané Garrincha (que acabou com todas as táticas montadas pelo técnico russo Gavril Katchalin), perguntou ingenuamente: “Já combinou com os russos?”.
Com a bola rolando, em três minutos o Brasil mudou tudo. Didi lançou Garrincha, que fez um carnaval pela direita e acertou um balaço na trave de Yashin. Em seguida, acionado por Didi, foi a vez de Pelé carimbar a trave do “Aranha Negra”. No final, 2 a 0, dois gols de Vavá em passes de Didi e o time canarinho acertou a escalação para ganhar a 1ª Copa Jules Rimet.
Um velho ditado diz que a coisa mais perigosa não é um burro, mas um burro com iniciativa. Tivemos uma amostragem disso nos últimos quatro anos. Lembro deste caso de 1958 a propósito da iniciativa do Conselho Nacional da Previdência Social de reduzir de 2,14% para 1,70% ao mês o teto dos juros do crédito consignado aos aposentados da Previdência Social. Cheguei a elogiar a iniciativa. Mas descobri que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, não combinou “com os russos”, vale dizer, com as áreas da Fazenda nem com o Banco Central.
O resultado de uma medida sem estudo e sem passar pelo crivo da Casa Civil foi que o tiro saiu pela culatra: diversos bancos anunciaram a suspensão temporária dessa linha de crédito, entre eles o Itaú, Bradesco, Santander, Safra, Banco do Brasil, Caixa, Pan e C6.
Atualmente 14,5 milhões de aposentados do INSS possuem empréstimo consignado e somando as duas linhas (empréstimo e cartão) atingem um total de R$ 215 bilhões de créditos distribuídos na economia brasileira.
'Oi, olha eu, de novo, na RJ!'
O Juiz Fernando Viana aceitou o pedido da Oi para uma 2ª Recuperação Judicial diante das dificuldades financeiras e incapacidade de quitar dívidas. No fim de 2022, a companhia saiu de uma RJ que durou quase seis anos. Entretanto, mesmo cumprindo as obrigações previstas, com venda de ativos, como a telefonia móvel, que a transformaram radicalmente, a empresa continuou debilitada, com uma dívida líquida total de R$ 18 bilhões e débitos vencendo de maneira antecipada no curto prazo. Assim, não demorou 91 dias para a Oi pedir a 2ª RJ. Se quando tinha estrutura era difícil, agora, que tem menos ativos para vender, a situação é mais desafiadora.