LCA vê chance de Selic cair em junho
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Antes da apresentação do arcabouço fiscal, adiado até a volta da viagem do presidente Lula à China (24 a 31) e da escala nos Emirados Árabes Unidos, sem joias, a LCA Consultores projetava cenário no qual a taxa Selic só caia no fim do ano. Agora não descarta que o Comitê de Política Monetária do Banco Central possa indicar na nota, após a reunião de hoje (que deve manter a Selic em 13,75%), que, diante do risco de uma contração aguda do crédito, no exterior e no Brasil, intensifique o desaquecimento da atividade econômica, global e doméstica, poderá passar a ganhar maior peso nas decisões do Copom e sinalize que o juro poderia cair “em horizonte não muito distante”.
Diante dos eventos de drástica restrição de liquidez dos mercados globais, a consultoria está colocando em revisão a curva projetada para a Selic, com o pressuposto de que uma flexibilização monetária não começará a ser implementada antes do final do ano.
A LCA já considera “a depender do recado a ser transmitido pelo Copom nos próximos dias” que o Banco Central poderá passar a contemplar um ciclo de cautelosa flexibilização monetária com início entre as reuniões do Copom de 21 de junho e 02 de agosto, quando a inflação acumulada em 12 meses recuará (ainda que temporariamente) para nível inferior ao teto da meta estabelecida para este ano.
Novas expectativas
A LCA reitera, em sua revisão de cenário apresentada ontem, 21 de março, “que uma antecipação do ciclo de corte da Selic está, em boa medida, condicionada aos avanços na definição e tramitação do novo arcabouço de regras fiscal – o que ainda constitui um fator de grande incerteza”. Ela lembra que a expectativa era de que o novo arcabouço fiscal seria apresentado até a reunião do Copom desta 4ª-feira (dia 22) ou até o embarque da comitiva presidencial à China (nesta 6ª-feira, dia 24).
Mas o anúncio foi adiado, pois ainda restam indefinições sobre os parâmetros das novas regras fiscais. Hoje, às 16:30, em meio à reunião do Copom, que se encerra às 18:30, o governo publica Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 1º bimestre de 2023, que deverá reduzir o déficit primário deste ano.
Enquanto o presidente Lula estiver no exterior, com parte ponderável dos ministros e congressistas da Câmara e do Senado, o arcabouço fiscal e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estarão expostos ao sol e à chuva de críticas. Quanto mais tempo demorar, maior o desgaste. A desistência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de ir à China, para tentar cativar apoios ao arcabouço, será a prova dos nove se ele ajuda ou atrapalha.
A expectativa da LCA agora “é de que a proposta do governo seja apresentada até 15 de abril, prazo limite para o envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) ao Congresso”.
Copom ganha nomes de Haddad
Se o novo arcabouço e a proposta fiscal de 2024 não terão como influir na decisão do Copom, amanhã, na próxima reunião, dias 2 e 3 de maio, tudo será diferente. Até lá, provavelmente terão tomado posse os dois diretores indicados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e aprovados pelo presidente Lula, mudando o viés monetarista ortodoxo e conservador.
Após sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos e votação no plenário do Senado, a diretoria de Política Monetária, que era ocupada por Bruno Serra e cujo mandato expirou dia 28, caberá a Rodolfo Fróes, com larga experiência no mercado de capitais. Para a Diretoria de Fiscalização, no lugar de Paulo Souza, o escolhido foi Rodrigo Monteiro, que também é servidor do Banco Central, como o antecessor. Os mandatos são de quatro anos.
Novas metas de inflação
A consultoria acredita que, com o arcabouço fiscal e as diretrizes do PLDO 2024 conhecidos, “o ‘timing’ e, sobretudo, a velocidade do ciclo futuro de redução da Selic também poderão sofrer influência de eventual redefinição das metas de inflação e de seu impacto sobre as expectativas inflacionárias”.
A LCA Consultores acredita ser “provável” que o governo vá optar por aumentar as metas inflacionárias para 2024 e os anos seguintes: “hoje fixadas em 3%, avaliamos que essas metas poderão subir para perto de 4%”. E a consultoria prevê que a revisão não irá esperar por junho, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN), integrado pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se reuniriam, conforme o calendário normal.
“Essa revisão poderá ocorrer já na próxima reunião do CMN, no final deste mês, mas parece mais provável que fique para depois da apresentação do novo arcabouço fiscal”. A LCA não chega a comungar do alarme de alguns bancos e gestores de recursos que consideram o alargamento da meta de inflação (que seria estourada, conforme as previsões, este ano e em 2024) impeliriam a inflação pela “desancoragem” de expectativas.
Numa visão que considero bastante realista, a consultoria reitera a “avaliação de que, se as metas de inflação para os próximos anos forem recalibradas sem causar prejuízos à credibilidade do regime de metas e/ou dispersão adicional significativa das expectativas, o Banco Central poderá reduzir o grau de restrição da política monetária de maneira mais célere do que ora projetamos em nosso cenário base” (dezembro de 2023 caindo para 13,50%).
A LCA renova “o alerta de que essa possibilidade está sujeita também a um outro condicionante: que a apresentação do arcabouço fiscal ajude a moderar, e não a acentuar, as incertezas e a desconfiança na condução da política econômica”. Assim, será ruim, se houver tiroteio com Lula fora do país.