O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB do Banco Central cai 3,2% desde julho

Na Pesquisa Focus, encerrada pelo Banco Central na 6ª feira, e divulgada hoje, o mercado elevou a previsão do IPCA de 5,98% para 6,01% (6,04% nas previsões dos últimos cinco dias úteis). E os preços administrados tiveram elevação de 9,79% para 10,20% (10,78% nos últimos cinco dias úteis).

Publicado em 17/04/2023 às 18:18

Alterado em 17/04/2023 às 18:18

Se alguém tinha dúvidas da capacidade da política monetária para encolher a demanda – não necessariamente a inflação – os dados do IBC-Br de janeiro, a prévia do PIB do Banco Central, divulgados nesta 2ª feira, 27 de abril, comprovam a relação de causa e efeito. Na métrica de descontos sazonais, o IBC-Br de janeiro caiu 0,04% frente a dezembro e 1,28% no trimestre novembro-dezembro-janeiro.

Já em relação ao pico do IBC-Br no ano passado, que foi atingido em julho, com 146,70 pontos na métrica com descontos sazonais, a queda acumulada até janeiro chega a 3,20%. E o que aconteceu neste período? Foi exatamente em 3 de agosto que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) fez a última elevação da taxa Selic, para 13,75%, patamar mantido até hoje. E o que pretendia o Banco Central? Alcançar não a meta, mas o teto da inflação para 2022 (que era de 5%) e de 2023 (4,75%). O IPCA, que chegara a 12,13% em 12 meses em abril, estava em 11,89% em junho.

Realista, o ministro da Economia, Paulo Guedes, - que, como presidente do Conselho Monetário Nacional, havia fixado a meta de 3,50% para a inflação, mais a tolerância de 1,50 ponto percentual em junho de 2019, juntamente com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (antes dos impactos da Covid-19 e da invasão da Ucrânia pela Rússia, - percebeu que não havia como combater a pressão inflacionária dos combustíveis com juros (derrubaria a economia e as chances de reeleição de Jair Bolsonaro). Resolveu, então, operar diretamente os preços dos itens que têm mais peso na inflação.

Na companhia de seu ex-secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, que assumira o Ministério das Minas e Energia em maio, e com o novo presidente da Petrobras (o 3º em 2022), bolou o pacotão de renúncias tributárias nos preços dos combustíveis, sobretudo gasolina e etanol (isentos do PIS/Cofins, federais), e com redução de quase 40% no ICMS, estendido à energia elétrica, que sofreu outros cortes de impostos federais, e às comunicações. Isso foi aplicado no final de junho, junto com o pacote de benesses que transferiu mais de R$ 150 bilhões ao bolso dos eleitores, tudo aprovado pelo Congresso.

 

O dilema dos preços administrados

O corte dos impostos reduziu drasticamente os preços administrados em julho, agosto e setembro, com deflação geral de 1,32% no período no IPCA (a gasolina caiu mais de 25%) e o IPCA acabou fechando o ano em 5,79% (ainda acima da meta e não impediu a eleição de Lula). Agora, a reoneração dos preços administrados afeta as expectativas de inflação e os passos do Comitê de Política Monetária para reduzir a Selic e abreviar a anemia econômica. A renúncia da arrecadação no 2º semestre de 2022 está pesando no caixa da União, estados e municípios e a reoneração age como gasolina, gerando labaredas numa inflação em franca desaceleração.

Na Pesquisa Focus, encerrada pelo Banco Central na 6ª feira, e divulgada hoje, o mercado elevou a previsão do IPCA de 5,98% para 6,01% (6,04% nas previsões dos últimos cinco dias úteis). E os preços administrados tiveram elevação de 9,79% para 10,20% (10,78% nos últimos cinco dias úteis). Apesar destes prognósticos, o mercado está reduzindo a previsão da Selic em dezembro, de 12,75% para 12,50% ao ano.

Um dos fatores é acentuada redução dos preços agrícolas no atacado e também nos industriais, confirmada no IGP-10 de abril divulgado hoje pela FGV. O IGP-10 registrou deflação de 0,58% em abril, dentro do esperado, acumulando queda de 1,9% nos últimos 12 meses. A deflação de abril foi maior do que a de março (-0,05%), devido à descompressão dos preços no atacado – IPA-10: - 0,96%. O destaque foram os preços dos produtos agropecuários, que retornaram ao terreno negativo em virtude da queda dos preços de grãos, café e suínos. Os preços dos itens industriais registraram queda no período.

Já os preços ao consumidor também seguiram desacelerando no acumulado em 12 meses (de 4,6% para 3,5%), mas a persistência de algumas pressões, em especial de vestuário, tem suavizado o movimento, assinala o Bradesco.

Tem otário para tudo

Caros leitores, muitos de vocês já perceberam que raramente falo de criptomoedas. E quando o faço é para alertar para falsas promessas. Acredito que o mundo digital vá levar ao forte enxugamento do papel moeda como meio de pagamento no mundo (que o diga a famosa Thomas De La Rue, de Londres, que acumula prejuízos ano a ano, com a queda das encomendas de numerário e de outros tipos de papel - “travellers checks”, por exemplo - que perderam a função).

O PIX, e o uso do dos cartões de débito e crédito reduziram o uso de papel-moeda. Nos grandes negócios entre empresas e nas grandes transações entre países moedas escriturais e a prática do “block-chain” são grandes avanços. Mas em países grandes em tamanho e população, como Brasil, Índia, China, Rússia e Indonésia e até mesmo nos Estados Unidos, o dinheiro papel ainda terá seu uso, principalmente entre a população mais pobre (sem acesso a celular ou educação cultural para manusear cartões).

A assistência que funcionários de bancos têm de dar nos caixas eletrônicos é prova disso. O desgaste das notas que recebemos de troco mostra como o papel-moeda vale para a maioria da população de baixa renda. Mas há brasileiros da classe média que caem nos modernos contos do vigário de ganhos mensais de 8% a 10% em aplicações em criptomoedas.

Jogadores de futebol e cantores sertanejos, endinheirados da hora, caem nos golpes das criptomoedas (até mesmo um jogador como Gustavo Scarpa, hoje jogando na Inglaterra, tido como “intelectual” no Fluminense porque usava óculos e era leitor de livros, caiu no conto das criptomoedas, iludido por William Bigode no Palmeiras, junto com outros colegas).

Mar no sertão

Vejam agora este caso na Paraíba: investigação do MP-Procon, órgão do Ministério Público da Paraíba da Paraíba identificou que a Braiscompany, empresa brasileira suspeita de prática de pirâmide financeira, lesou pelo menos 3.364 consumidores, deixando um prejuízo de R$ 258,2 milhões.

O suposto negócio fraudulento, baseado em Campina Grande (PB), afirmava trabalhar com locação de criptomoedas e prometia pagar rendimentos fixos de até 9% ao mês. Desde o final do ano passado, no entanto, deixou de cumprir com as promessas, o que gerou abertura de uma investigação por parte do MP-PB em fevereiro. Na ação, o órgão pediu o bloqueio de US$ 45 milhões das contas bancárias da empresa e dos sócios. O Juízo da 11ª Vara Cível de João Pessoa concedeu, em parte, o pedido.

Se aplicação direta já é um tremendo risco, pois nenhum banco central ou mesmo grande instituição financeira controla as “emissões” de moedas escriturais, imagine uma aplicação baseada em “locação de criptomoedas”.

Os títulos do Tesouro Nacional são registrados eletronicamente o Sistema Especial de Liquidação e Custódia de títulos públicos do Banco Central, conhecido como Selic e que deu origem à taxa das negociações diárias usada pelo BC na política monetária.

Os papéis privados que são usados como lastro nos fundos de investimentos e nas aplicações diretas, também são escriturais e registrados devidamente na Central de Custódia de Títulos Privados (Cetip), onde estão CDBs, Letras de câmbio, Letras Imobiliárias, Letras do Crédito Rural, debêntures e certificados de recebíveis, além de debêntures de empresas.

Os mineiros ganharam fama de bobos, quando compraram bondes desativados pela Light no Rio de Janeiro, na segunda metade dos anos 60. Alguns fazendeiros colocaram nos jardins das propriedades. Mas o que esperavam os nordestinos? Será que acreditaram nos versos de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, do baiano Gleuber Rocha, que diziam que “o sertão vai virar mar e o mar virar sertão”, que depois virou música da dupla Sá e Guarabira?

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