O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Tanure lidera Light, sem poder mandar

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Publicado em 19/05/2023 às 18:44

Alterado em 19/05/2023 às 18:46

Nelson Tanure Foto: Divulgação

Dono, até 12 de maio, de fatia de 15,21% das ações com direito a voto da Light S.A, a holding do grupo Light que entrou em recuperação judicial, o empresário Nelson Tanure ampliou sua posição esta semana, ao comprar, através da WNT, 4,95% das ações detidas pela Tempo Capital, de Paulo Bodin. Tanure tornou-se o maior acionista da Light, com 21,80% do capital votante, superando os 20,01% do ex-banqueiro Ronaldo Cezar Coelho, via Fundo Samambaia.

A fatia de Tanure lhe garante duas vagas no Conselho de Administração, mas não altera o poder de mando na companhia. É que Cezar Coelho mantém acordo de governança com Carlos Alberto Sicupira, que detém 10,16% das ações com direito a voto, através de fundo de Investimento. Ronaldo e Beto Sicupira controlam 30,17% da Light. Com os 21,80% de Tanure, o trio passa a controlar 51,97% da Light, contra 48,03% dos minoritários.

Macaque in the trees
. (Foto: Reprodução)



Em uma semana houve forte concentração do poder na companhia.

Crise estrutural

A Light S.A. é uma das empresas de distribuição de energia elétrica mais afetadas com a alta incidência de furtos de energia (gatos), sobretudo nas comunidades carentes, onde milícias/e/ou traficantes dominam a distribuição de energia aos moradores, e ganham com isso, sem qualquer repasse à Light. Para piorar, o esvaziamento econômico do Estado do Rio de Janeiro, onde a companhia atende a 31 municípios, reduziu a demanda dos consumidores regulares (indústria, comércio e serviços e residências).

E a flexibilidade nos últimos dois anos para que grandes clientes industriais e comerciais (shoppings) negociem no mercado livre o fornecedor de sua energia tirou da carteira da Light consumidores importantes. É que a geração própria da companhia (em usinas próprias ou das quais é sócia) é inferior ao total que distribui, privou a companhia de mais receitas. A Light recebe apenas uma pequena tarifa pelo “trânsito” da energia alheia. Assim, a Light S.A. acabou afogada em dívidas de R$ 11 bilhões, sendo quase R$ 9 bilhões em debêntures e dívidas bancárias.

Uma RJ rápida

Como previmos semana passada, a disputa pelo poder na companhia e as pressões dos debenturistas que não querem ver seus créditos diluídos, prometia alta tensão. Entretanto, na visão de um advogado que acompanha de perto o drama da Light, pode haver um cenário promissor. Basta que o novo trio controlador se acerte entre si e com os credores. E que prevaleça a redução no valor de face dos papéis de dívida da Light (estão valendo 35%).

Neste caso, a companhia poderia sair fortalecida rapidamente da Recuperação Judicial. O cerne da questão é o equacionamento das dívidas, pois não há passivo trabalhista expressivo nem dívidas elevadas junto a fornecedores. Equacionado o endividamento, a companhia, com reforço de capital/redução do endividamento, teria condições de sair da RJ antes do prazo legal e se dispor a pleitear até mesmo a antecipação da renovação da concessão dos serviços de eletricidade no Estado do Rio de Janeiro. Quem espera sempre alcança?

O PIB surpreende até o BC

O IBC-Br, o indicador do Banco Central que funciona como uma prévia do PIB, surpreendeu em março. A queda de 0,15% no IBC-Br em março ficou bem mais branda do que previa a mediana do mercado (-0,30%). O Itaú previa queda de 0,50% e a LCA Consultores chegou a prever queda de 0,80%. Mais importante é que o resultado trimestral apresentou avanço de 2,41% sobre o 4º trimestre de 2022, quando o PIB encolheu 0,2%, pelos dados do IBGE.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga o resultado do Produto Interno Bruto em 1º de junho. Se as projeções do IBC-Br não estiverem exageradas (a maior previsão de alta do PIB trimestral do IBGE estava em 1,4%-1,5%), ou seja, quase 1 ponto percentual acima, os agentes econômicos terão de rever totalmente os números de suas projeções para o PIB deste ano.

Havia projeções de PIB negativo nos três semestres seguintes (caso do Santander, que previa alta de 1,2% no 1º trimestre e quedas de 0,1% no 2º, de 0,2% no 3º e de 0,1%, no 4º. Só o IBGE vai dirimir a dúvida se o mercado estava muito pessimista quanto ao crescimento ou o BC exagerado e, por isso estava travando a economia ao manter a taxa Selic em 13,75%.

Em todas as análises, os bancos assinalam que a economia tende a desacelerar com as altas taxas de juros. Mas os dados do IBC-Br desmentem as projeções. Se o BC estiver certo, talvez reforce os argumentos para manter a Selic elevada por mais tempo. De qualquer forma, parece claro que o PIB de 2023 pode até superar o crescimento de 1,8% previsto pelo Bradesco.

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