Osasco, temos um problema: inadimplência
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No ano de seu 80º aniversário de fundação, em Marília (SP), o Banco Brasileiro de Descontos, o Bradesco, que se instalou na Cidade de Deus (Osasco), em 1959, seis anos após o início da construção do seu complexo administrativo idealizado por Amador Aguiar, praticamente repete a famosa frase do astronauta James Lowell, comandante da Apolo 13, a 7ª missão tripulada lançada à Lua em 11 de abril de 1970: “Houston, we have a problem”. Era um vazamento de oxigênio. O pouso à Lua foi abortado e com enorme esforço, todos voltaram à terra, como narra o filme “Apolo 13”, com Tom Hawks.
O balanço do 1º trimestre de 2023, quando teve lucro líquido recorrente de R$ 4,280 bilhões, crescimento de 168,3% sobre os R$ 1,595 bilhão do 4º trimestre de 2022, (uma grande queda), mostra que o problema não se limitava às provisões bilionárias das Americanas. A inadimplência é muito maior e diversificada e, segundo o banco, “está concentrada no portfólio massificado de Pessoas Físicas [6,3%, contra 4,4% há um ano], Micro e Pequenas Empresas [6,2%, contra 3,6%], segmentos que naturalmente sofrem mais em cenários adversos de inflação persistente e juros altos”, [o que elevou a inadimplência total, em atrasos acima de 90 dias, de 3,2% para 5,1%].
O banco diz que “está fazendo ajustes [mas a persistência dos juros altos do Banco Central, que se refletem no desaquecimento da economia e da renda, afeta pessoas e pequenas empresas] “nesse cenário agravado” (...), trazendo a inadimplência das novas safras para patamares inferiores aos observados atualmente”. O problema é geral nos bancos e nas empresas, só o BC não vê.
Passos trocados
O Bradesco observa que “no portfólio de Grandes Empresas a inadimplência acima de 90 dias continua nos menores níveis da série histórica, e o aumento no indicador de 15 a 90 dias está relacionado a clientes Large Corporate 100% provisionados” (Americanas e outras que pediram RJ). A questão é que a carteira de empréstimos às grandes empresas encolheu sua participação, que era de 40,2% na carteira expandida sujeita ao BC (que inclui avais e fianças) em março do ano passado e ficou em 38,6% no 1º trimestre deste ano. A inadimplência neste segmento estava em apenas 0,2%.
Já a participação das pessoas físicas aumentou, no mesmo período, de 39,30% para 41,14%. Um aumento de 1,84 ponto percentual na concentração do crédito às pessoas físicas, cuja inadimplência cresceu 1,9 p.p. para 6,3%. Houve algum encolhimento no segmento de pequenas, médias e microempresas, de 20,09% para 19,76% de participação, na carteira expandida do BC, mas a inadimplência saltou de 3,6% para 6,2%.
As operações que exigem provisões (na faixa entre 120 e mais de 180 dias de atraso) saltaram, no período, de 6,9% em março de 2022 para 8,8% em março deste ano. Nas grandes empresas houve queda de 6,2% para 5,7%. Mas nas faixas onde o Bradesco ampliou o crédito é que surgiram problemas: pessoas físicas o aumento foi de 7,1% para 9,8%, e nas PMEs, foi de 7,5% para 10,7%.
Seguros segura o lucro
Quando presidiu o grupo segurador, 100% controlado pelo banco, Luiz Carlos Trabuco, atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Bradesco, cunhou a expressão de que “o Bradesco devia ser visto como uma moeda de duas faces: a bancária/financeira e a seguradora”.
Pois agora a área de seguros, que sempre garantia uma participação média de 30% no lucro (com picos de 36% e mínima de 35%), fez uma “garantia estendida” de 41,25% no lucro total, com lucro líquido de R$ 1,770 bilhão.
BTG avança na gestão de fundos
O ranking dos maiores gestores de recursos no mercado financeiro organizado pela Anbima, manteve em março, o Itaú Unibanco, que controla a Intrag DTVM, na liderança com um total de R$ 1.475 bilhão em carteiras, seguido de perto pela BB Asset Management (parceria da BB DTVM com o UBS), com R$ 1.458,9 bilhões. Isolado, o Bradesco perde o 3º posto para os R$ 604,2 bilhões da Caixa, mas somado aos R$ 399,5 bilhões da controlada BEM DTVM, soma R$ 979,1 bilhões e garante o 3º lugar.
Notável, o avanço do BTG-Pactual: com R$ 445 bilhões supera o Santander (R$ 391 bilhões). A gestão de grandes fundos de pensão dá à BNY Mellon DTVM (R$ 252,39 bilhões), bem à frente do Safra (R$ 99 bilhões).
Fonte: Anbima
Lições aos bancos centrais
O Brieffing semanal do Goldman Sachs traz algumas reflexões aos dirigentes de bancos centrais. O banco manifestou alívio com o alerta da Secretária do Tesouro, Janet Yellen, de que os EUA podem ficar sem dinheiro já em 1º de junho se o Congresso não aumentar ou suspender o limite da dívida (o prazo real pode mudar para o final de julho, compilando receitas fiscais). O comunicado do Tesouro reduz o risco de disputa disruptiva entre as partes no Congresso. Sem o acordo, o Tesouro teria que atrasar os pagamentos de seus compromissos, pondo em risco a Previdência Social, o Medicare e o Medicaid, bem como os benefícios de pagamento e aposentadoria para militares, veteranos e funcionários federais. A comunicação antecipada, acelera os trâmites para um acordo e pode afastar o risco de recessão, com atrasos, advertiu Alec Phillips, economista político-chefe da Goldman Sachs Research.
Já Ashish Shah, diretor de investimentos de investimentos públicos do Goldman Sachs Asset Management.Resume sua visão de política monetária que serve ao Fed e outros bancos centrais, inclusive o nosso.
Para ele, “o Fed pode começar a cortar as taxas este ano, mas a barra do pivô será bem alta”, diz: “é importante ver como as condições financeiras mudam, e os mecanismos de transmissão para aperto de crédito são muito difíceis de prever”. Ele não afasta o risco de recessão, advertindo ser “muito difícil para os formuladores de políticas administrar o aperto das condições de crédito durante um ciclo de alta porque o crédito se contrai muito lentamente no início e depois se acelera, diz ele.“A evolução da contração do crédito ao longo do ano é algo que teremos que observar com muito cuidado”, acrescenta Shah.
Para ele, o estresse do sistema bancário (com a quebra SVB, Signature e First Republic) é o equivalente a um aumento da taxa.O aperto do crédito devido ao estresse no setor bancário é aproximadamente semelhante ao de um aumento de 50 pontos-base, diz. Ele acredita que o Fed teria continuado a apertar se não tivéssemos visto esse nível de contração do crédito”, diz ele.
À pergunta se “o Fed aumentou demais?”, responde: “Estamos vendo essas rachaduras dentro do sistema surgirem, e como essas rachaduras serão transmitidas à economia real será a questão”, diz Shah.“Também é inteiramente possível que o Fed esteja excessivamente apertado em 200 pontos-base em comparação com o que é consistente com a estabilidade financeira.”Os balanços de Santander e Bradesco mostraram fissuras.
Itaú eleva alta do PIB para 1,4%
Com os bons resultados de curto prazo na economia (puxadas pela grande safra agrícola e o avanço no mercado de trabalho, em meio às medidas de ajuste fiscal e a “diminuição do risco de uma deterioração mais forte do mercado de crédito”), o Itaú reviu hoje para cima, de 1,1% para 1,4, a projeção de crescimento do PIB este ano. Para 2024, manteve a projeção de 1%.
O banco manteve a aposta de que a taxa Selic cairá, a partir de setembro, para 12,50% em dezembro. Com a economista evoluindo, o Itaú espera que o mercado de trabalho registre taxa de desemprego de 9,0% (estável) em 2023 e de 9,1% em 2024.