O OUTRO LADO DA MOEDA
Mercado vê Selic em 13,50% em agosto
Publicado em 26/06/2023 às 17:29
Alterado em 26/06/2023 às 17:58
Apesar de o comunicado posterior à 355ª reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) não ter feito, dia 21, 4ª feira, indicação explícita de quando baixaria a Selic, mantida em 13,75% ao ano desde 3 de agosto de 2022, o mercado financeiro acredita que a Ata da reunião, que será divulgada amanhã, vai ser mais definidora e manteve a aposta de que a Selic cairá 0,25 ponto percentual para 13,50%, no dia 2 de agosto.
Foi o que indicou a Pesquisa Focus, encerrada 6ª feira, 23 de junho, junto a 153 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, e divulgada hoje pelo Banco Central, com novas previsões de baixa da inflação para 2023 e 2024. O IPCA deste ano foi reduzido 5,12 para 5,06% na mediana de 153 respostas, enquanto para 97 das previsões dos últimos cinco dias úteis o IPCA caiu pela 1ª vez abaixo de 5%, para 4,98%. Para 2024, a previsão desceu de 4,00% para 3,98%, sendo de 3,94% a previsão dos últimos 5 dias úteis de 96 agentes. A inflação do ano que vem já estaria dentro do teto, que é de 4,50%.
365 dias com ela (Selic) a 13,75%
Mas as apostas mais importantes do mercado na Pesquisa Focus dizem respeito a indicadores próximos bem mais favoráveis do que estavam nas cogitações do Copom, o que reforça um possível descompasso entre o que dirão a Ata de amanhã e o Relatório Trimestral de Inflação do 2º trimestre e o que pensa o mercado.
O mercado espera deflação de 0,09% no IPCA de junho (o IBGE divulga dia 11 de julho – amanhã será o IPCA-15 de junho, prévia do mês), sendo que as respostas dos últimos 5 dias úteis ampliaram a deflação para 0,12%. Se isso se confirmar, a taxa em 12 meses cairá a 3,15% ou 3,12%. Com a Selic em 13,75%, isso significa um aumento no juro real para mais de 10%!. Em dezembro de 2022, o juro real era de 7,5%.
Para julho, a previsão do mercado foi mantida em 0,30%. Como em julho de 2022 houve deflação recorde de 0,68% devido ao corte temporário dos impostos sobre gasolina e demais combustíveis, energia elétrica e comunicações, para seduzir eleitores à reeleição de Jair Bolsonaro, o repique temido pelo Copom ficaria na faixa de 4,5% a 4,6%.
Para agosto, quando o mercado espera a 1ª baixa da Selic para 13,50%, na reunião do Copom de 2 de agosto, com validade para o dia 3, depois de conviver 365 dias com ela a 13,75%, o IPCA esperado foi mantido em 0,22%. Considerando a deflação de 0,36% em agosto de 2022, o IPCA subiria em 12 meses para a faixa de 4,7% a 4,8%. E em setembro, não passaria os 5%. Daí a confiança do mercado de que a inflação fechará o ano abaixo de 5% este ano, ainda que acima do teto da de inflação, que é de 4,75%. Com alguma sorte, o teto seria cumprido.
É dentro desde cenário relativamente calmo que o mercado espera ver o que pensa, de fato, o Banco Central na Ata do Copom amanhã e no RTI, que será divulgado 5ª feira, 29 de junho, pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, com entrevista do presidente Roberto Campos Neto. No mesmo dia o Conselho Monetário Nacional (CMN) estipulará a meta de inflação para o Brasil em 2026 e reafirmará as de 2024 e 2025 (atualmente em 3,00% + tolerância de 1,50 ponto percentual = 4,50%).
O CMN é presidido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e integrado pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do BC, Campos Neto. Na agenda doméstica, haverá ainda esta semana a divulgação de dados do mercado de trabalho, com a apresentação dos dados do Caged de maio na 5ª feira e a divulgação, pelo IBGE, na 6ª feira, dos números da Pnad Contínua, sobre desemprego, taxa de participação e salário médio de maio.
Genial vê chance de baixa
A Genial Investimentos, que até maio ainda sugeria ser necessário novo aumento da Selic, considera que, ao contrário dos que viram um tom excessivamente duro por parte da diretoria do Banco Central, no comunicado após a 255ª reunião do Copom, considera que há a possibilidade de que a taxa de juros possa ser reduzida na próxima reunião do Comitê. A Genial ressalva que “dado o nível de incertezas vigente, nos 45 dias que separam duas reuniões do Copom, muita coisa pode acontecer”. Assim, não faria sentido o Banco Central antecipar decisões futuras. [vejo diferente, pois a autoridade monetária tem de administrar expectativas para não surpreender o mercado e deixar agentes financeiros no contrapé (o que exigiria socorro do BC)].
Mas o que é importante é que para a avaliação da Genial “o teor do comunicado não excluiu a possibilidade de que a Selic seja reduzida na reunião de agosto, como muitos analistas sugeriram”. E aponta dois pontos nesta direção: 1 – “a retirada da frase indicando que, se necessário, o Comitê poderia voltar a aumentar a taxa de juros no futuro”; 2 – “a retirada do cenário alternativo que indicava que, para levar a inflação para a meta seria necessário manter a taxa de juros constante pelo menos até 2024”.
Para a Genial, “estas decisões indicam que o próximo movimento do Copom deverá ser de redução da Selic. As perguntas agora são: quando, com que velocidade e qual o limite inferior do ciclo. Supreendentemente, a Genia reforça sua posição de que “a 1ª redução será na reunião de setembro”, mas admiti que “iniciar o processo na próxima reunião não está fora do cenário”. E ainda não acredita que a Ata a ser divulgada amanhã, irá resolver estas dúvidas.
No Fed, Bostic defende manter juros
Na sexta-feira, Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, avaliou que o nível atual dos juros, entre 5,0 e 5,25%, é moderadamente restritivo. Um dos dois membros do FOMC (o Federal Open Market Committee, modelo do nosso Copom, tem 12 membros) que defendem a manutenção dos juros, Bostic considera que o atual patamar da“Fed Fund Rate”pode ser suficiente a levar a inflação de volta à meta de 2%. Para ele, com base nas informações atuais, os juros deveriam permanecer onde estão pelo resto deste ano e até 2024.